Evasão escolar e o abandono: um guia para entender esses conceitos

Selecionamos os principais conteúdos do Observatório de Educação que abordam as razões apontadas e os contextos vividos por estudantes do Ensino Médio que aumentam as probabilidades da não continuidade dos estudos.

Introdução

A escola tem um papel social essencial quando se trata de potencializar vínculos sociais, desenvolver habilidades físicas e cognitivas e de tornar o aluno um agente social. No entanto, existem percalços e negações diárias do direito à educação que aumentam a probabilidade dos jovens não darem continuidade aos estudos.

Por trás de situações de abandono e evasão escolar existem motivações diversas Abre em uma nova guia, desde gravidez, falta de conexão dos conteúdos com os interesses dos estudantes, necessidade imediata de geração de renda, entre outros. A predominância de currículos e práticas pedagógicas que não incluem a perspectiva de grupos historicamente excluídos, por exemplo, acaba por aumentar os índices de evasão e exclusão escolar de estudantes negros, LGBTQIAP+ e com deficiência.

As taxas de evasão, consolidadas até 2020, mostram uma trajetória de queda nos últimos anos com total de 2,2% no Ensino Fundamental e 6,9% no Ensino Médio um estudo realizado por Reynaldo FernandesAbre em uma nova guia, com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério da Educação (MEC), traçou um perfil dos jovens com maior risco à evasão: são os de baixa renda, em sua maioria negros, forçados precocemente ao mercado de trabalho ou que engravidam já na adolescência. Fernandes aponta ainda que esses fatores “externos” à atividade propriamente escolar se articulam a um processo contínuo de desinteresse e desengajamento, levando por fim ao abandono.

Além disso, é na adolescência que o problema se apresenta com maior intensidade e por isso os índices de evasão no ensino médio são bem superiores aos do ensino fundamental. Em 2019, 7% da população entre 15 e 17 anos estava fora da escola Abre em uma nova guia, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD - 2019), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Esta faixa etária coincide com a idade adequada para frequentar o Ensino Médio, fato que evidencia as muitas deficiências dessa etapa de ensino na educação brasileira, bem como o impacto das questões sociais na vida dos jovens e também ainda às experiências escolares que podem ter sido negativas desde o Ensino Fundamental, conforme abordado no relatório disponível neste link. Abre em uma nova guia

Ao longo deste especial, reunimos uma série de conteúdos, dados, informações e práticas de sucesso disponíveis no Observatório de Educação - Ensino Médio e Gestão Abre em uma nova guia, para apoiar gestores escolares a elaborar e aplicar ações para diminuir os níveis de evasão e abandono. Utilize os links distribuídos pelo texto para uma experiência ainda mais rica e completa sobre o tema.

Infrequência e desistência: as diferenças entre abandono e evasão

Um jovem longe do sistema de ensino é um problema que vai muito além dos limites físicos da escola: se torna uma questão social. Para compreender melhor o problema e buscar a solução mais adequada, é preciso, primeiro, entender a diferença entre os conceitos de abandono e evasão escolar. Apesar de serem usados muitas vezes como sinônimos, eles têm características diferentes nos casos em que os estudantes deixam a escola.

Deixar de frequentar as aulas durante o ano letivo caracteriza o abandono escolar. Já a situação em que o estudante, seja reprovado ou aprovado, não efetua a matrícula para dar continuidade aos estudos no ano seguinte é entendida como evasão escolar.

A educadora e gestora da educação Macaé Evaristo explica com mais detalhes as diferenças entre estas duas situações de infrequência escolar. A entrevista foi concedida quando a especialista era Secretária de Educação do estado de Minas Gerais, cargo que ocupou de 2015 a 2018. Confira no vídeo abaixo.

Assim, se a quantidade de jovens desta faixa etária fora da escola aumenta conforme o passar do ano letivo, temos um aumento dos números de desistência, o que caracteriza o abandono escolar. Por outro lado, tratamos de evasão escolar quando o aluno frequenta um ano da escola, mas não se matricula no ano subsequente. Acontece a evasão quando não há registro de matrícula do estudante nos Censos Escolares nos anos após ao que ele frequentou. O Observatório de Educação fez um Roteiro de Análise de Indicadores Educacionais sobre Abandono e Evasão Escolar que você pode ler clicando aqui. Abre em uma nova guia

Quem são os jovens que mais evadem e por quê?

Entender a razão que leva um jovem a estar fora da escola é essencial para se chegar a um diagnóstico e, consequentemente, conseguir criar soluções para amenizar este cenário. Os indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - PNAD (IBGE), mostram que o contexto familiar pode influenciar na decisão de abandonar a escola. Abre em uma nova guia

Evasão escolar: probabilidade de frequentar a escola conforme a situação familiar

Quando o contexto familiar do aluno é de uma família chefiada por um homem branco, com pelo menos a escolaridade média completa, renda alta e residente de área urbana, a chance deste aluno frequentar normalmente a escola é de, no mínimo, 79%. Quando se trata de famílias chefiadas por mulheres negras, analfabetas e de área rural, o índice máximo é de 65% no Estado do Maranhão e de 21,7% em Santa Catarina.

Desta forma, pode-se entender que o avanço escolar está ligado às questões raciais e socioeconômicas. Enquanto pessoas brancas e de renda mais elevada alcançam níveis mais altos de escolaridade, pessoas negras e de renda mais baixa tendem a ter um menor índice de avanço escolar. E mesmo entre os mais pobres, os piores indicadores educacionais são observados entre os estudantes negros. Essas disparidades são fruto do racismo estrutural existente na sociedade brasileira, que é expresso pela desigualdade persistente nos indicadores educacionais e econômicos, refletidos nos ambientes familiares. A página especial Desigualdade Racial na Educação, publicada pelo Observatório de Educação, apresenta em detalhes o problema.Abre em uma nova guia

Estes dados mostram que o choque socioeconômico faz com que alunos deixem a escola não só por terem que sustentar suas famílias, mas também por não terem condições financeiras de manter a frequência escolar. Sem condições de pagarem transporte até a escola e sua alimentação, por exemplo.

A pandemia da Covid-19, além de causar um aprofundamento dessas desigualdades socioeconômicas, se tornou mais um elemento que favorece o abandono escolar, uma vez que afastou os estudantes das instituições, enfraquecendo suas conexões com a educação. No webinário “Estratégias para a Redução do Abandono e Evasão”, que você pode assistir através deste linkAbre em uma nova guia, a oficial de Educação do UNICEF Julia Ribeiro, citando os dados da Pesquisa PNAD Covid do IBGE, explica:

“a gente está falando de mais de 5,5 milhões de crianças e adolescentes que em outubro de 2020 disseram que não estavam tendo seu direito à educação assegurado. (...) Esses estudantes precisam ser identificados e esse vínculo com a escola precisa ser retomado.”

A desigualdade racial nos dados sobre evasão escolar no Brasil

Uma queda nos índices de abandono escolar foi registrada nos últimos anos no Brasil. Este é um dado positivo, já que tanto estudantes brancos quanto negros têm evadido menos das escolas, de um modo geral. No entanto, o dado revela que a desigualdade se mantém praticamente a mesma quando comparadas raça e cor dos estudantes. Uma distância de 2,8 pontos percentuais mantém essa desigualdade.

Se comparados os dados de 2017 para 2018 do Censo Escolar, a taxa de abandono entre jovens negros subiu 0,1%, enquanto o de jovens brancos diminuiu na mesma proporção. Confira os gráficos completos na seção Educação em Números.Abre em uma nova guia

Evasão escolar: histórico da taxa de abandono de estudantes brancos e estudantes negros

Os estudantes não-brancos são os mais afetados quando consideramos índices de abandono e evasão, uma vez que suas trajetórias escolares estão marcadas por uma exclusão sistemática, maiores reprovações e distorções idade-série. De acordo com dados da PNAD 2019, estudantes negros e indígenas de 4 a 17 anos correspondem a 71,3% das crianças e adolescentes fora da escola nesta faixa etária.

Evasão escolar: crianças e adolescentes fora da escola segundo cor e raça

A diferença de raça e cor quando falamos de abandono e evasão também se intensifica se analisarmos os dados entre adolescentes homens e mulheresAbre em uma nova guia. Jovens negros, de ambos os sexos, representam 59,8% do público fora do ambiente escolar, sobretudo quando observados os de sexo masculino, que somam 34,7%. Na seção Educação em Números você encontra os principais dados sobre a desigualdade racial na educação e a entrevista do professor Marcelo Paixão, da Universidade do Texas, sobre o assunto. Abre em uma nova guia

Diferenças de gênero no abandono escolar

O abandono e a evasão escolar entre adolescentes homens e mulheres têm cenários e motivações diversos. Os números gerais apresentados pela PNAD Contínua (2019), analisados no estudo sobre o Cenário da Exclusão Escolar do Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF)Abre em uma nova guia demonstram de que forma o abandono escolar atinge meninos e meninas. Ao considerar a faixa etária na qual a escolarização é obrigatória (4 a 17 anos), os meninos são maioria entre os estudantes fora da escola. Ao considerar a faixa etária do Ensino Fundamental (6 a 14 anos), a diferença da exclusão por gênero chega a ser 10% maior para os meninos. Por fim, a pesquisa ainda destacou que essa tendência se inverte no Ensino Médio, entre os adolescentes de 15 a 17 anos o percentual de meninas fora da escola é maior, ainda que por uma margem pequena. Confira aqui mais dados sobre a desigualdade de gênero nas escolas.

Evasão escolar: crianças e adolescentes fora da escola segundo sexo

Apesar dos dados de acesso serem quase iguais, a tendência ao abandono é maior entre os homens. Segundo o Censo Escolar 2018, enquanto 6,1% das pessoas do sexo feminino deixam o ano letivo antes do encerramento, 7,7% do sexo masculino deixam a escola durante o período.

Já as motivações para abandonar os estudos seguem um padrão. Para meninas, ter um filho pode ser considerado um fator decisivo na hora de evadir do ensino médio.Abre em uma nova guia Das adolescentes fora do ambiente escolar, 29,6% são mães, enquanto 13,7% estão fora, mas não tiveram filhos. No caso de meninos, o maior índice de evasão pode ser associado ao mercado de trabalho:Abre em uma nova guia 39,3% saíram da escola para trabalhar. Das meninas que estão fora da escola, 15,8% ingressaram no mercado de trabalho. Na seção CEDOC você encontra mais conteúdos sobre a temática, como por exemplo no capítulo 4 da publicação Jovens e o Ensino Médio: desafios para a educação brasileiraAbre em uma nova guia , produzido pelo Instituto Unibanco.

Os jovens que não trabalham nem estudam

Estudos internacionais mostram que a escolaridade é uma variável chave na obtenção de progresso econômico e bem-estar para um país e seus cidadãos. Isso quer dizer que pessoas escolarizadas ocupam os melhores postos e têm menos probabilidade de se tornarem desempregadas.

Isso quer dizer que um nível maior de escolaridade faz com que o trabalhador tenha maiores salários e maiores taxas de crescimento econômico. E não só isso: para além de aspectos financeiros, a escolaridade é associada a benefícios não-econômicos: redução da criminalidade, segurança, saúde, redução dos números de gravidez na adolescência, etc. Nesse sentido, um número brasileiro preocupa: do total dos jovens que evadem a escola, 44,9% não trabalham.Abre em uma nova guia

Jovens que evadem a escola

Dados da PNAD 2019 Abre em uma nova guia, demonstram como os índices de desocupação dos jovens são mais preocupantes entre mulheres (27,5%) e pessoas negras (pretas e pardas) (25,3%), ambas incidências superiores à média geral de não ocupação de 22,1% entre pessoas de 15 a 29 anos.

Evasão escolar: distribuição de pessoas de 15 a 29 anos, por condição de estudo e situação na ocupação

Diante dos incontáveis benefícios futuros, é preciso que a escola, poder público e sociedade reforcem incansavelmente o valor da educação para sua população jovem. Ter quase metade dos jovens evadidos da escola em casa, sem trabalhar, mostra que além de questões econômicas, uma possível falta de interesse pelo ambiente escolar, que não é atrativo para o aluno, tem pesado fortemente nas decisões dos adolescentes em parar de frequentar a escola.

A evasão de jovens LGBTQIAP+

O ambiente escolar é um microcosmos da nossa sociedade, muitas vezes reproduzindo desigualdades e padrões sistêmicos de exclusão, que segrega os sujeitos e comunidades que não se adequam aos padrões de identidade de gênero e orientação sexual predominantes.

A discriminação sofrida pela orientação sexual de jovens é um dos motivos para o abandono escolar de pessoas LGBTQIAP+. Segundo o Pesquisador em Diversidade Sexual, Toni Reis, a cultura heteronormativa significa que “a pessoa tem que ser heterossexual e quem rompe com essa barreira acaba sofrendo as consequências: chacota, preconceito, discriminação e a violência”.

Sendo a escola um reflexo do mundo, um espaço para o debate e o acolhimento da diversidade, como a educação pode colaborar para o enfrentamento da exclusão escolar de pessoas LGBTQIAP+? Confira o vídeo completo do Conexão Futura sobre Evasão de Jovens LGBTs disponível no CEDOC.Abre em uma nova guia

Se observada a experiência vivida pelas pessoas trans e travestis, a valorização e respeito à diversidade se mostra ainda mais essencial. O respeito ao nome social e a garantia ao uso do banheiro próprio à identidade de gênero das pessoas trans e travestis, por exemplo, são medidas mínimas que podem auxiliar o enfrentamento à transfobia no espaço escolar. A transfobia caracteriza-se como todo ato, discurso, preconceito, política ou postura discriminatória contra pessoas trans e travestis.

Infelizmente, os dados oficiais do Censo Escolar e da PNAD ainda não incluem os indicadores de identidade de gênero e orientação sexual, dificultando ainda mais a elaboração de políticas públicas e estratégias pedagógicas adequadas. Contudo, diversas pesquisas e levantamentos alertam para a gravidade deste cenário. Com efeito, pesquisa realizada pelo defensor público João Paulo Carvalho Dias,Abre em uma nova guia presidente da Comissão da Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), estima que no Brasil 82% das pessoas trans e travestis tenham abandonado os estudos ainda na Educação Básica.

A gravidade dos índices de evasão da população trans é um dos indicadores utilizados por pesquisadores para definir esse processo como uma verdadeira exclusão, fruto de uma pedagogia da violência. O conceito de pedagogia da violência foi elaborado pela pesquisadora Luma Nogueira de Andrade, primeira pessoa trans a concluir o doutorado em rede pública no Brasil. Em recente entrevista para a revista Capitu, do grupo Estado, a especialista abordou a exclusão das pessoas trans do espaço escolar enquanto processo de evasão involuntária: Abre em uma nova guia

“Por não nos enquadrarmos dentro dessa ordem, passamos por um processo de exclusão tão bárbaro que passei a nomeá-lo na minha tese como pedagogia da violência. É um tipo de pedagogia que vai tentar ensinar as pessoas a ter uma forma de comportamento de acordo com os padrões conservadores, nem que precise usar de violência física, psicológica, moral e todos os outros seus aspectos. Quando fui a campo entender por que as meninas não iam à escola, descobri que aquilo se dava por elas não terem a oportunidade de ser elas mesmas. Nos dados da Secretaria de Educação, esses casos constam como evasão, o que culpabiliza a pessoa. Então, eu utilizo o conceito de ‘evasão involuntária’, porque não é algo desejado pela estudante, mas sim imposto.”

Entenda melhor os desafios das pessoas trans e travestis na educação no conteúdo multimídia, publicado aqui no Observatório da Educação. Abre em uma nova guia

A evasão no período noturno

O jovem que se matricula no período noturno possui particularidades e um perfil diferenciado dos estudantes que estudam durante o dia. Entender as demandas destes casos é o primeiro passo para criar soluções na redução do abandono escolar. Segundo Censo Escolar de 2018, a maior taxa de abandono escolar acontece no turno da noite.

A evasão no período noturno

Dos estudantes do período noturno, 21,1% larga o Ensino Médio logo no primeiro ano. Em maioria, os homens são 15,6%, enquanto as mulheres representam 12,7%. Em relação à cor e raça, 15,7% são negros e 11,3% brancos. Confira os dados em “Taxa de abandono noturno na rede pública de Ensino Médio. Abre em uma nova guia

Que medidas o educador do período noturno pode tomar para que o aluno não perca o interesse na educação escolar? Sheylla Barros, Coordenadora pedagógica da E.E. Santo Afonso, no CearáAbre em uma nova guia , explica no vídeo abaixo os principais desafios do ensino noturno e as medidas tomadas pelos professores para evitar a evasão dos estudantes.

Antes com turmas fechadas, os gestores da escola perceberam que demonstrar interesse na situação do estudante, tentar uma aproximação e monitorar a frequência, faria com que a escola mantivesse suas turmas noturnas abertas e em pleno funcionamento.

A Exclusão Escolar de Pessoas com Deficiência

Historicamente, pessoas com deficiência tiveram o acesso à educação negado ou muito restringido Abre em uma nova guia. Apesar dos avanços nas últimas décadas e do aumento progressivo de matrículas, a exclusão escolar ainda atinge desproporcionalmente as crianças e jovens com deficiência.

O Brasil tem mais de 47 milhões de estudantes com deficiência matriculados na Educação Básica e 1,5 milhão na Educação Especial, segundo dados de 2022 do Painel de Indicadores da Educação Especial Abre em uma nova guia da plataforma Diversa.

Pensando nas implicações diretas desse debate para a educação, Instituto Rodrigo Mendes , referência na promoção de práticas inclusivas, organizou uma pesquisa em parceria com o Instituto Unibanco, analisando os dados do Censo Escolar de 2016, no que tange os estudantes com deficiência.

“Sendo conservador, estou usando uma estatística da Organização Mundial da Saúde, temos 15% da população com alguma deficiência. Hoje, no Ensino Médio brasileiro, somente 0,68% das matrículas é ocupada por pessoas desse segmento social. Precisamos mudar esse cenário.”

As restrições se davam através de modelos educacionais de segregação – quando a criança ou o adolescente é apartado do convívio com a sociedade e com a família e confinado a uma instituição – ou de integração, modelo no qual a pessoa com deficiência frequenta uma classe ou escola especial. A inclusão garante direitos e promove a aprendizagem, estimulando a autonomia e a independência das pessoas com deficiência em todas as fases da vida. Dessa forma, o Brasil estabeleceu na Meta 4 do Plano Nacional de Educação Abre em uma nova guia o objetivo de universalizar para a população de 4 a 17 anos com deficiência o acesso à educação de acordo com o modelo de inclusão. A abordagem prioriza o direito de todos os estudantes frequentarem as salas regulares, combatendo qualquer discriminação.

O superintendente do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, em participação no podcast Conselho de ClasseAbre em uma nova guia, falou sobre a importância da educação inclusiva no combate ao abandono e evasão de estudantes com deficiência. Para ele, a previsão de escolas e classes especiais:

“vai completamente na contramão das conquistas da educação inclusiva dos últimos anos no Brasil e no mundo. Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável ( ODSAbre em uma nova guia) caminham na direção da educação inclusiva. Em 1998, nós tínhamos 340 mil estudantes com deficiência matriculados na escola, somente 13% estavam em escolas inclusivas. Em 2008 entrou em vigor uma política de educação especial e, a partir desse ano, o número de matrículas de pessoas com deficiência nas escolas comuns superou o da educação especial. Agora, em 2020, chegamos a 90% dos estudantes com deficiência matriculados em escolas comuns . Estamos falando de mais ou menos de 1 milhão e 300 mil de estudantes matriculados nas escolas.”

Leia mais sobre o processo histórico de exclusão escolar das pessoas com deficiência e a importância da Educação Inclusiva no conteúdo multimídia disponível na seção Em Debate sobre esse tema.Abre em uma nova guia

Qual o papel da gestão escolar para evitar o abandono e a evasão?

Conforme abordado anteriormente, os jovens que evadem a escola, em sua maioria, por razões econômicas ou familiares. Esses são fatores externos e que exigem uma abordagem ativa e direta dos gestores para evitar o abandono e a evasão.

Interações negativas com professores, dificuldade de aprendizado, repetências, preconceito e questões emocionais presentes na adolescência podem ser a causa destas evasões. Neste sentido, tornar a escola mais interessante e atrativa aos alunos é um passo fundamental para que o estudante se mantenha no ambiente escolar.

Um estudo realizado pelo Instituto Unibanco em parceria com a Universidade de São Paulo revela que escolas com sinais de depredação alcançam médias maiores de abandono escolar. Isso não significa que reformar a escola evitaria esse abandono, mas nos faz pensar sobre questões mais subjetivas como a capacidade de gestão do diretor da escola ou outras características não observáveis dos alunos. Leia o artigo "Ensino Médio: como aumentar a atratividade e evitar a evasão?" na seção CEDOC. Abre em uma nova guia

“A evasão não é um ato repentino, mas fruto de um processo lento de desengajamento do estudante da escola” Reynaldo Fernandes, autor do estudo “Ensino Médio: como aumentar a atratividade e evitar a evasão?”.

Maria do Socorro Lima de Freitas, diretora da E.E.F.M Professor Aloysio Barros Leal (Fortaleza-CE), fala sobre as ações que que implementou na escola para motivar estudantes.

Neste sentido, o papel da gestão escolar se mostra completamente necessário. As ações propostas vão muito além de medidas para gerar o interesse dos alunos. Desenvolvem também habilidades que causarão uma transformação social, um incentivo para que alunos queiram mudar sua realidade. A partir de um olhar que identifica e valoriza as diversidades que compõem sua escola, cada gestor pode atuar e implementar medidas que ajudem todo estudante a aumentar seu interesse nos assuntos relacionados à educação e entender sua função na construção de um futuro promissor. Tal papel mostra-se ainda mais relevante no atual contexto, que o distanciamento e a necessidade de utilização de meios e estratégias remotos acentuam as desigualdades e podem intensificar casos de evasão.

Pandemia Covid-19: Abandono e Evasão Escolar em Contextos de Crise

A proporção da pandemia no Brasil afetou diretamente os calendários escolares, de modo que, enquanto a média mundial de paralisação das aulas é de cinco meses e meio, por aqui permanecemos sem atividades presenciais por mais de um anoAbre em uma nova guia. De acordo com um estudo da Fundação Lemann , o Brasil foi o quinto país do mundo com maior número de dias de interrupção das atividades escolares presenciais. Ao todo foram 267 dias de fechamento das escolas, apenas 23 dias a menos que o Panamá, país que lidera o ranking.

No primeiro semestre de 2021, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) elaborou um documento Abre em uma nova guia com dados sobre os efeitos da pandemia nos índices de exclusão escolar no Brasil. De acordo com o último censo escolar, no final de 2020 mais de 5 milhões de crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos estavam fora da escola. Desses, mais de 40% se encontravam na faixa dos 6 aos 10 anos, grupo etário no qual o acesso à educação era praticamente universal antes da covid-19.

A exclusão escolar, que esteve em queda entre 2016 e 2019, voltou a crescer, sobretudo entre os grupos etários de maior risco: entre 4 e 5 anos e de 15 a 17 anos. Além dessas faixas etárias, o Censo Escolar (2020) indica que crianças e adolescentes negros e indígenas, os que vivem em áreas rurais e aqueles cujas famílias possuem menor renda são ainda mais afetados, constituindo mais de 70% daqueles que estão fora da escola.

De acordo com nota técnica divulgada pelo Todos Pela EducaçãoAbre em uma nova guia, a experiência de redes escolares de diferentes países e regiões que passaram por longos períodos de interrupção forçada demonstra que os efeitos serão não apenas múltiplos, como duradouros e transversais à comunidade escolar, afetando famílias, estudantes e profissionais da educação. Mesmo com ações estratégicas de mitigação, impactos cognitivos, físicos e emocionais de longo prazo devem ser esperados, afetando não apenas os índices de aprendizagem, mas principalmente o engajamento dos estudantes.

Nesse cenário de volta das atividades presenciais, as comunidades escolares estão diante de grandes desafios e a comunicação Abre em uma nova guia se transforma em uma ferramenta chave para mitigar os efeitos dessa crise na educação. Estreitar ou até mesmo recuperar vínculos perdidos, garantir a segurança de todos e retomar os processos de aprendizagem, enfrentando os riscos do retrocesso, do abandono e da evasão, são questões enfrentadas por gestores nos diferentes contextos do nosso país. Para Luiz Miguel Martins Garcia, presidente da União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), esse é o momento em que a organização e o planejamento das redes são fundamentais, sobretudo no que se refere à realização de busca ativa para o combate à evasão e a realização de matrículas a qualquer tempo:

“Nós esperamos que as redes retomem suas atividades, que façam um processo de busca ativa efetivo para entender quem não deu resposta às atividades não presenciais, quem não estava na escola e continuou fora dela nesse período. Também falar da importância da execução de matrículas de quem estiver fora da escola a qualquer tempo, em qualquer momento. Como gestores, nós temos essa obrigação e esse compromisso, como cidadãos, receber os alunos nas nossas escolas, receber a qualquer momento como ato de cidadania plena.”

Para aprofundar o debate sobre os impactos da pandemia nos índices de abandono e evasão escolar e os caminhos para o retorno seguro às atividades presenciais, assista a videoconferência “Desafios Para a Reabertura Segura Das Escolas”Abre em uma nova guia promovida pelo canal Conviva Educação e acesse o conteúdo multimídia da seção Em Debate sobre o tema.

Além disso, confira também o webinário promovido pelo Instituto Unibanco em parceria com o UNICEF, que reuniu especialistas e gestores para debater quais estratégias são fundamentais para reduzir o abandono e a evasão no contexto da retomada das atividades presenciais

Busca Ativa: intersetorialidade para combater a evasão escolar

De acordo com a projeção da PNAD 2019, ao menos 1,5 milhão de crianças e adolescentes estão fora da escola no Brasil. Como vimos, muitos são os fatores que contribuem para o abandono e a evasão, sempre articulados às desigualdades estruturais de nosso país. Enquanto, por exemplo, apenas 12,5% dos jovens brancos de 15 a 17 anos estão fora da escola, entre os jovens negros esse índice chega a 19%.

Esse cenário motivou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) a criar a Busca Ativa EscolarAbre em uma nova guia, uma metodologia intersetorial de enfrentamento e prevenção ao abandono e evasão de crianças e adolescentes da Educação Básica, em parceria com secretarias municipais tanto de Educação quanto de Saúde e Assistência Social. Como destacado em um dos guias da Busca Ativa, a complexidade dos fatores que impedem o acesso de crianças e jovens à educação demanda uma resposta integrada dos serviços e agentes públicos. Nesse sentido, o método consiste em formar gestores e educadores enquanto agentes comunitários capazes não apenas de monitorar estudantes em risco e abandono como também de desenvolver estratégias coerentes com as realidades locais.

Além de ser uma metodologia integrada entre serviços públicos, a Busca Ativa compreende uma plataforma on-line e gratuita que desde 2017 mobiliza setores do poder público e da sociedade para garantir o acesso à educação. Ao compreender que as razões que mantêm crianças e adolescentes fora da escola não estão reduzidas a fatores meramente pedagógicos, a metodologia da Busca Ativa propõe respostas multissetoriais, qualificando os gestores para a identificação das causas da evasão e para a elaboração de estratégias eficazes.

Atualmente, a Busca Ativa está presente em 19 estados do país, além de ter elaborado uma estratégia específica para atuação no contexto da pandemia de Covid-19, através do Guia Busca Ativa Escolar em Crises e Emergência.Abre em uma nova guia

Cada rede de ensino adotou ao longo da pandemia estratégias próprias para alcançar os estudantes, levando em conta as peculiaridades de cada região, seja ela urbana ou rural. Essas estratégias englobam desde a parceria com o Unicef até o uso de algoritmos para a identificação de alunos em situação de risco e a contratação de empresas de transporte para buscar e entregar material didático impresso na casa dos estudantes.

A websérie "Nunca Me Sonharam" abordou o impacto desta metodologia para as comunidades escolares, com foco no Ensino Médio. Quando a gestão educacional empreende a Busca Ativa pelos que desistiram da escola, isso tem uma força que contagia a comunidade e explicita que a escola se importa com a vida e a trajetória de cada um deles. Você pode assistir abaixo o episódio sobre o combate à evasão e ao abandono e as estratégias para a manutenção dos estudantes na escola.

Confira também nosso conteúdo sobre Busca Ativa na seção Em Debate.Abre em uma nova guia

Bons exemplos de estratégias para evitar o problema da evasão e do abandono

A decisão de evadir a escola não acontece de uma hora para outra. Evadir é um processo lento de desinteresse em relação à escola. Faltas, repetências, deixar de realizar tarefas, são demonstrações de desengajamento que podem identificar os alunos que precisam de um cuidado especial neste sentido e demonstrar uma necessidade de atuação direta com eles.

Desenvolver e implementar ações de busca ativa, incentivar e possibilitar maior participação juvenil – com consequente melhoria do clima escolar –, aproximar e envolver a comunidade escolar, promover maior diálogo com as famílias, além de desenvolver ações focalizadas na questão racial, são alguns dos exemplos das ações de combate ao abandono e à evasão.

Evandro Souza, Diretor da Unidade Escolar Benjamin Batista, de Teresina - PI, afirma que medidas adotadas fizeram com que a evasão escolar reduzisse de 19% para pouco mais de 1% em nove anos. Neste vídeo, ele explica sobre como uma gestão participativa na escola influencia na permanência dos estudantes e diminui os casos de evasão e abandono escolar:

As monitorias também foram de extrema importância para a redução da evasão escolar na Unidade Escolar Dona Rosaura Muniz Barreto, localizada em São Miguel do Tapuio-PI. A gestora Maria Deusilene Marques Gomes conta no vídeo como projeto de monitoria contribuiu para a mudança deste cenário.

Já o gestor Aziz Ramos, da E.M.E.F. Oziel Alves Pereira, localizada em Campinas-SP, implementou em toda a escola projeto de valorização da identidade negra e promoção de diálogo sobre o racismo. Ele descreve no vídeo como o projeto nasceu e os impactos positivos gerados no clima, medida que combate e previne possíveis casos de abandono.

Uma das questões que pode mitigar a evasão escolar é a melhora da comunicação entre a escola e a família do estudante. Vários estudos mostram que, também em virtude de características socioeconômicas, estudantes que têm pais mais envolvidos em suas vidas escolares possuem melhor desempenho escolar. Ricardo Paterlini, gestor da E.E.E.F.M Coronel Gomes de Oliveira, de Anchieta-ES, mostra como a escola melhorou a relação com as famílias dos estudantes:

Este é um momento importante para pensar nestas questões, já que a pandemia da Covid-19 tirou os jovens de dentro do ambiente físico escolar. E a volta deles para dentro da sala de aula ainda é recente. Neste sentido, as ações intersetoriais e comunicação podem ser chaves para mitigar o aumento do abandono e da evasão. Confira no texto do Observatório de Educação, na seção Em Debate. Abre em uma nova guia . Leia também o texto “O delicado percurso de volta à escola em tempos de pandemia”. Abre em uma nova guia

Em 2008, o índice de evasão da E.E.M Liceu do Conjunto Ceará chegou a 10,5%, um dos piores índices do estado. Maria do Socorro Nogueira de Paula, diretora da escola, se dedicou a mudar este patamar. Realizando as chamadas e incentivando colegas de turma a contatar estudantes com maior número de faltas, falando com as famílias e realizando visitas presenciais a escola conseguiu reverter este quadro.

Tornar o clima da escola mais agradável e bem cuidado é parte de um plano para manter os alunos dentro do ambiente escolar. Envolver estudantes e a comunidade escolar foi a forma que a gestora do E.E.F.M Visconde do Rio Branco, Alnedi Costa Lima, encontrou para evitar a evasão e o abandono. No vídeo, ela explica a prática adotada para tornar a escola mais atrativa.

O diretor José Idelson Escorcio, do colégio Hesíchia de Sousa Brito, em Piracuruca no Piauí, conta que estratégias usou para levar a educação não presencial aos estudantes mesmo em áreas distantes da cidade. Fala também da importância da valorização dos estudantes para que atravessem o tempo afastado estimulados com o estudo e o preparo para o ENEM e de ações para que no retorno não haja evasão e a perda deste período seja minimizada.

Quer saber mais sobre evasão e abandono escolar? Confira os links ao longo desta página e acesse com mais profundidade cada tema abordado nos conteúdos do Observatório de Educação. Confira outros conteúdos exclusivos no nosso Instagram @institutounibanco.Abre em uma nova guia

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