Ilustração
Desafio: Inclusão no ensino médio é possível e necessária: veja relatos de escolas

Libras para a comunidade e alunos não-surdos

Resumo da solução

Ao perceber que dois alunos surdos tinham dificuldade de interagir porque seus colegas desconheciam a Língua Brasileira de Sinais (Libras), a Escola Estadual Padre Antonio Móbili, em Campinas (SP), começou a ensinar Libras para estudantes não surdos. A iniciativa teve início nas respectivas turmas de ensino médio dos dois alunos surdos, em horários cedidos por professores, e foi um importante fator de inclusão. As aulas eram ministradas pelas intérpretes de Libras lotadas na escola e logo despertaram o interesse de familiares e de outras pessoas da vizinhança. Resultado: a escola passou a oferecer aulas semanais de Libras para a comunidade.

Depoimento completo:

Jonathan e Manoel eram dois estudantes com deficiência auditiva do 2º e 3º ano do ensino médio, respectivamente, da Escola Estadual Padre Antonio Móbili, em Campinas (SP). Jonathan era muito tímido e não interagia em sala de aula. Já Manoel, mais extrovertido, procurava se comunicar com seus colegas. Mas, como eles não sabiam Língua brasileira de sinais (Libras), essas tentativas, muitas vezes, frustravam o adolescente.

Os casos desses alunos eram discutidos durante as reuniões pedagógicas e preocupavam a equipe de educadores. Era preciso fazer algo para eliminar a barreira da comunicação e melhorar a relação dos estudantes com seus colegas e professores. Foi quando começamos a participar do curso Ensino médio inclusivo  , do Instituto Rodrigo Mendes (IRM), que nos proporcionou conhecimentos para pensar em estratégias de inclusão.

A solução que encontramos foi usar os recursos e saberes que a escola já dispunha. Como duas intérpretes de Libras atuavam na unidade, diretamente nas salas de aula do Jonathan e do Manoel, nos questionamos: por que não aproveitar o conhecimento delas para proporcionar alguma formação aos demais alunos?

Libras para toda a classe

Começamos, então, a oferecer um curso da língua de sinais para as turmas dos dois adolescentes surdos. As aulas foram dadas pelas intérpretes nos horários cedidos por alguns professores da sala de aula regular. Do planejamento da iniciativa à realização das aulas, a gestão da escola organizou todo o processo, garantindo os recursos, as pessoas, os tempos e os espaços necessários para que a formação pudesse acontecer.

Durante o ano letivo, as turmas do Jonathan e do Manoel aprenderam noções básicas da Libras e desenvolveram um bom repertório de sinais. Como a intenção era fazer com que todos pudessem interagir com mais qualidade, a estratégia usada pelas intérpretes durante as aulas foi criar rodas de conversa. Os temas discutidos em Libras eram baseados em situações cotidianas vividas pelos estudantes.

As aulas logo fizeram sucesso, dentro e fora da escola. Os alunos das duas classes comentavam em suas casas sobre o que estava acontecendo e a direção começou a receber pedidos de familiares interessados em participar. Por causa dessa procura, decidimos ir além em nossa ideia inicial – e convidamos toda a vizinhança para aprender Libras na escola.

Abrindo as portas para a comunidade

Em paralelo às aulas para as turmas do 2º e 3º ano, começamos a oferecer formação para toda a comunidade. Por meio de uma chamada em nossa página no Facebook, recebemos cerca de 25 inscrições de outros alunos, familiares e pessoas do bairro interessadas em participar das aulas todas as quintas-feiras, das 17h às 19h. Este era o horário das reuniões pedagógicas da escola e, num acerto feito junto à direção, foi decidido que as intérpretes não precisariam participar dos encontros na íntegra.

Nas aulas para a comunidade, além dos princípios básicos da Libras, as intérpretes abordaram temas úteis para o cotidiano, simulando situações na rua, no comércio, em casa ou na escola em que pessoas surdas poderiam precisar de alguma informação.

O despertar da inclusão na escola

Em poucos meses, as aulas renderam bons frutos. Durante uma das rodas de conversa, ao falarem de acessibilidade, os estudantes sugeriram identificar em Libras os espaços da escola. Incentivados pela intérprete, e com apoio da gestão, eles produziram placas na língua de sinais. Agora, secretaria, biblioteca, direção, banheiros, cozinha, salas de aula, corredores etc. são espaços da nossa escola que contam com sinalização.

Jonathan, agora no 3º ano do ensino médio, conta aos professores que as aulas de Libras foram um momento único em sua vida e que hoje ele sente que todos o veem como um amigo, não mais como o “diferente”. E, para além da sala de aula, sinto que nossos professores abraçaram a ideia e querem começar a trabalhar de uma forma diferenciada, promovendo um ambiente em que todos sejam participantes. Resultados possíveis graças a nossa participação no curso do Instituto Rodrigo Mendes, que nos despertou para a importância da inclusão escolar.

Continuamos com as aulas de Libras para alunos e comunidade e pretendemos rever nosso projeto político-pedagógico (PPP) para inserir a questão da inclusão dos alunos público-alvo da educação especial pela primeira vez. Nossa iniciativa, apesar de simples, procurou acolher a todos, sem distinção, e temos trabalhado para derrubar a ideia equivocada de que há um modelo ideal de aluno que pode frequentar a escola.

OBS.: Este relato de experiência é fruto da participação dos autores na edição 2018 do Ensino médio inclusivo – formação oferecida pelo Instituto Rodrigo Mendes e pelo Instituto Unibanco, com objetivo de apoiar equipes multidisciplinares das redes de educação no planejamento de políticas públicas para a garantia de acesso, permanência e aprendizagem dos estudantes público-alvo da educação especial. Este depoimento foi originalmente publicado na seção de relatos de experiências da plataforma Diversa, uma iniciativa do Instituto Rodrigo Mendes em parceria com o MEC e diferentes organizações comprometidas com o tema da equidade com o objetivo de apoiar redes de ensino no atendimento de estudantes com deficiência em escolas comuns.  


Depoimento por: ALEX SANDRO DA COSTA (COORDENADOR PEDAGÓGICO), SILVIOMAR LUIS CARDOSO (DIRETOR), HELOISE LAUBSTEIN E SÔNIA DA SILVA (INTÉRPRETES)
Instituição: Escola Estadual Padre Antonio Móbili)

TEMAS TRABALHADOS:

Educação inclusiva; Relações com a comunidade

Para saber mais sobre o tema:

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