Coleção reúne estudos que analisam perda de aprendizagem na pandemia
15/06/2021
CURADORIA: Instituto Unibanco
Introdução
Em março de 2020, redes de ensino de todo o país tiveram que suspender as aulas presenciais, em observação às medidas de distanciamento social, necessárias para a contenção da pandemia. Considerando que a crise sanitária vem se estendendo, com momentos de abertura e fechamento, é esperado que tenham ocorrido perdas significativas de aprendizagem entre os estudantes. Obviamente, elas não são as únicas que merecem atenção das políticas públicas. Ainda há muito a investigar sobre como a pandemia afetou, por exemplo, questões de saúde e bem-estar de crianças e jovens. No entanto, sem prejuízo dessas outras dimensões, a pergunta sobre o quanto os alunos deixaram de aprender durante este período por causa da pandemia no Brasil é de extrema relevância.
Esse cenário tende a gerar consequências duradouras na vida desses jovens. Além disso, não podemos esquecer que os estudantes foram afetados de maneira distinta pela pandemia e será preciso foco em alguns segmentos da população para reduzirmos desigualdade que se alargaram.
Em um contexto de poucas evidências sobre a atual situação da educação no país, o Instituto Unibanco e o Insper apresentaram os resultados do estudo Perda de aprendizagem na pandemia, que utiliza evidências nacionais e internacionais para estimar a perda da aprendizagem devido à pandemia de Covid-19 entre os estudantes das redes estaduais de educação que irão concluir o Ensino Médio no Brasil em 2021.
Além de disponibilizar o novo estudo, esta coleção se propõe a reunir parte dos trabalhos que balizaram as estimativas, assim como a cobertura da imprensa sobre os dados divulgados e referências que demonstram como a desigualdade de acesso à internet vem prejudicando parcelas mais vulneráveis dos estudantes.
O estudo Perda de aprendizagem na pandemia, liderado pelo economista Ricardo Paes de Barros, se propôs, na ausência de avaliações somativas ao final de 2020, a estimar a aprendizagem dos estudantes por meio de simulações. Os resultados encontrados são alarmantes: o impacto da pandemia sobre os alunos que devem concluir o Ensino Médio em 2021 é grande. Os estudantes que concluíram a 2ª série do Ensino Médio em 2020 possivelmente iniciaram a 3ª série com uma proficiência em Matemática 10 pontos abaixo do que iriam alcançar caso não tivessem tido a necessidade de transitar do ensino presencial para o remoto devido à pandemia. Em Língua Portuguesa, a perda estimada é de 9 pontos. Para referência, um aluno tipicamente aprende, ao longo de todo o Ensino Médio, em média, 20 pontos em Língua Portuguesa e 15 em Matemática.
Caso o ensino remoto seja mantido ao longo de todo o ano letivo de 2021 (com qualidade e engajamento iguais aos de 2020), as perdas poderão alcançar níveis mais elevados: 16 e 20 pontos, em Língua Portuguesa e Matemática, respectivamente.
Já o estudo Perda de aprendizado no Brasil durante a pandemia de covid-19 e o avanço da desigualdade educacional, coordenado pelo economista André Portela de Souza, considerou o aprendizado em um ano típico, o tempo de interrupção das aulas e o eventual aprendizado com o ensino remoto e estimou três cenários. Para o 3º ano do ensino médio, dentre os resultados, por exemplo, o aprendizado não realizado em 2020 corresponde a 10% da evolução em matemática e a 12% da evolução em língua portuguesa assumindo o cenário otimista. Já no cenário pessimista, esses valores seriam de 51% e 58%, respectivamente.
Por fim, vale destacar o estudo The Impacts of Remote Learning in Secondary Education: Evidence from Brazil during the Pandemic, liderado por Guilherme Lichand, que calculou que o risco de abandono aumentou 365% com a aprendizagem remota. Esse aumento dramático do abandono o risco é exclusivo dos países em desenvolvimento, segundo o estudo. Esses impactos massivos são susceptíveis de trazer efeitos duradouros efeitos sobre o emprego, a produtividade e os níveis de pobreza.
Como aponta o posicionamento do Instituto Unibanco, “mais do que um alerta, trata-se de um convite à ação. Os prejuízos ao longo da trajetória desses jovens terão menos consequências – ou, no cenário mais otimista, serão compensados – quanto melhores foram as respostas aos desafios impostos pela pandemia. Não temos tempo a perder.”