Equidade

Coleção propõe reflexões sobre equidade de gênero

08/07/2020

CURADORIA: Instituto Unibanco

Introdução

A Coleção Equidade de Gênero pretende provocar reflexões e contribuir para a construção de contextos mais equânimes, reduzindo a distinção sistêmica entre os gêneros nos diversos contextos – principalmente na escola pública, que historicamente tem reproduzido tais desigualdades. A ideia é colaborar para um sistema escolar mais inclusivo, que se preocupe com o combate às discriminações e a diminuição das desigualdades, garantindo um espaço de respeito às diferenças.

Vale sublinhar que, ao falarmos de gênero, não estamos tratando de características naturais, mas sim das construções sociais que fazem com que cada indivíduo vá se reconhecendo como homem ou mulher. Sendo assim, essas marcas se modificam ao longo dos anos. Ao mesmo tempo, entendemos a equidade como um princípio fundamental para a melhoria da vida em sociedade, pois opera para “corrigir desigualdades em favor de quem tem menos oportunidades”[1]. Pensar em oportunidades de homens e mulheres é pensar também em equidade de gênero. De maneira simplista, durante muito tempo na história da humanidade coube às mulheres exclusivamente os cuidados domésticos e aos homens o provimento dos lares e a participação na vida pública. Mesmo que o cenário não seja mais esse, fruto da luta feminista, ainda hoje mulheres sofrem mais dificuldades ao acessar o mercado de trabalho, com salários mais baixos, nichos profissionais ainda predominantemente masculinos e maiores dificuldades para ascender em suas carreiras.

O objetivo desta coleção é elucidar, diferenciar e contextualizar conceitos e termos sobre a discussão de gênero nas escolas, apoiando profissionais da educação, estudantes e a sociedade em geral na indicação de possibilidades e/ou ações incrementais para o desenvolvimento de escolas e redes de ensino menos sexistas, menos heteronormativas, mais equânimes e onde a diversidade seja, de fato, potência para transformações sociais. Selecionamos um conjunto de documentos com a intenção de: contribuir para a discussão teórica do tema desigualdade de gênero na educação; embasar a análise de dados que ilustram a importância desta abordagem temática; refletir sobre as questões normativas que envolvem a desigualdade de gênero na escola; e agregar ao debate sobre a dificuldade do ingresso das meninas e mulheres nas carreiras ligadas às Ciências Exatas.

Iniciamos as indicações de leituras desta coleção por um livro clássico da área de educação para discussão de gênero. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista, de Guacira Lopes Louro, traz algumas questões centrais das práticas educativas da atualidade, em especial a produção das diferenças e das desigualdades sexuais e de gênero, em suas articulações com outros marcadores sociais, como raça e classe. A autora se serve do arcabouço teórico de estudos feministas e outras correntes teóricas direcionadas para abordar como as diferenças são constituídas no espaço escolar.

Para contextualizar tais desigualdades, o Observatório de Educação desenvolveu, na sessão Educação em Números, uma análise integrada sobre desigualdade de gênero que traz estatísticas sobre as diferenças entre meninas e meninos quanto ao acesso e frequência à escola, trajetória escolar ao longo do Ensino Médio e evasão escolar, além de um vídeo no qual Bernardete Gatti,  da Fundação Carlos Chagas, contextualiza o cenário atual da temática na educação brasileira.

Outro material sugerido é Disposições Legislativos sobre Gênero na Educação: Guia Prático para Escolas e Educadoras/es, um guia produzido pela Ação Educativa que condensa o arcabouço legal sobre a discussão de gênero no nosso país até 2015 e faz problematizações sobre sua aplicabilidade. Pensar a igualdade entre homens e mulheres, a superação de desigualdades, discriminações e violências, as abordagens trazidas pela Carta Magna e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, confere importância a esta discussão, que ainda tem um caminho possível e necessário para ser trabalhado nas escolas.

Dessa forma, especialmente nos últimos anos, a escola, através dos grêmios estudantis e coletivos, tem sido palco de discussão de temas ligados às desigualdades. Por isso, indicamos o  documentário A Luta Feminista dentro das Escolas, produzido pelo selo Celina, do jornal O Globo, em 2019. O vídeo apresenta garotas que se organizaram em coletivos feministas dentro de colégios com o objetivo de mudar o ambiente escolar e lutar coletivamente contra o machismo. Professoras e pesquisadoras colaboram com o debate trazendo elementos para a discussão, entre elas a socióloga Amália Fischer, do Fundo ELAS.

Outra indicação de leitura que trazemos para esta coleção é o sumário executivo da pesquisa Elas nas Exatas. Desenvolvida pela Fundação Carlos Chagas com o apoio do Instituto Unibanco, essa pesquisa foi realizada em dez escolas de Ensino Médio da cidade de São Paulo com o objetivo de conhecer e compreender alguns fatores relacionados à escola que influenciam o processo de escolha das jovens do Ensino Médio público em relação à continuidade de seus estudos e à carreira profissional.

Levantando elementos sobre a presença de meninas nas carreiras de Exatas, indicamos também a tese de Rosenilda Luz Oliveira de Matos (Universidade Estadual de Maringá, PR) intitulada O Ensino da Computação para as Meninas: Uma Trajetória de Silêncios e Transgressões. No estudo, é feito um debate sobre aspectos que evidenciam a presença feminina na constituição da própria história da computação e também uma reflexão sobre questões sociais, culturais e econômicas da atuação da mulher na Ciência da Computação e sobre o papel da escola em relação ao ensino dessa disciplina para as meninas.

Pensar a discussão de equidade de gênero na educação brasileira é pensar na complexidade das relações sociais. Esta coleção não tem a intenção de esgotar o debate sobre o tema, mas sim de dar insumos para que cada vez mais tenhamos educadores, escolas e redes de ensino engajados no combate à desigualdade de gênero.

 

[1] RIBEIRO, Vanda Mendes. Que princípio de justiça para a educação básica? Cad. Pesqui., São Paulo, v. 44, n. 154, out. 2014.