Ilustração
Desafio: Inclusão no ensino médio é possível e necessária: veja relatos de escolas

Telejornal sobre ciberbullying

Resumo da solução

Conteúdo:

Professoras, alunos, pais e responsáveis produziram um vídeo sobre ciberbullying na Escola Estadual Professor Cid Boucault, em Mogi das Cruzes (SP). Em formato de telejornal, o vídeo combate o preconceito e promove a empatia. O projeto foi realizado em 2020, no primeiro ano da pandemia de covid-19, durante o período de ensino remoto. Com forte caráter inclusivo, o "telejornal" apresenta conteúdo em língua portuguesa e na Língua Brasileira de Sinais (Libras). Uma inovação é que os intérpretes de Libras aparecem lado a lado com os falantes de língua portuguesa, ocupando o mesmo espaço, em vez de ficarem no canto da tela, como tradicionalmente ocorre.

Depoimento completo:

Por causa da pandemia, assim que as aulas remotas foram iniciadas na Escola Estadual Professor Cid Boucault, localizada em Mogi das Cruzes (SP), a gestão escolar organizou grupos para possibilitar a troca de experiências e ideias entre os educadores. O objetivo era monitorar as dificuldades vivenciadas pelos estudantes e, a partir delas, construir novas estratégias pedagógicas.

Em um dos nossos encontros, discutimos as propostas de trabalho e os desafios da prática docente diante do fechamento das escolas por conta da pandemia da covid-19.

Como percebemos que o isolamento social poderia catalisar ações de preconceito e ciberbullying, fomos convidadas a refletir sobre o tema e desafiadas a criar um projeto para eliminar ações de desrespeito na comunidade escolar.

A ideia partiu das formações do Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar – CONVIVA SP, criado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo com a proposta de que toda escola seja um ambiente de aprendizagem solidário, colaborativo, acolhedor e seguro, na busca da melhoria da aprendizagem.

Por isso, nosso objetivo com o projeto era envolver não só os estudantes, mas o corpo docente, a equipe gestora, os profissionais de apoio e as famílias.

Na reunião posterior, algumas propostas foram apresentadas pelos educadores: dentre elas, a de produzir um vídeo de conscientização sobre a importância da empatia e respeito às diferenças.

Uma das professoras comentou que tinha em sua turma um aluno com Transtorno do Espectro Autista (TEA) que assistia aos jornais com os familiares e demonstrava grande admiração pelo trabalho dos jornalistas. Definimos então que faríamos um programa de telejornal sobre bullying e ciberbullying, estimulando o protagonismo dos estudantes.

Cada professor ficou com a incumbência de trabalhar o tema do preconceito em sala de aula. Pensando em atividades em concordância com a realidade de cada turma, os educadores propuseram uma reflexão sobre a empatia e gentiliza, bem como sobre a necessidade de combater qualquer forma de desrespeito à diversidade. Abraçamos a ideia e fomos em frente!

Representatividade

Acordamos que o vídeo, além de envolver toda a comunidade escolar, seria representativo, inclusivo e bilíngue (Língua portuguesa e Libras). Como temos alunos surdos, com baixa visão, com TEA e com deficiência intelectual, a regra era não deixar ninguém para trás!

A nossa escola é muito diversa e heterogênea, e queríamos que nosso projeto fosse representativo. Por isso, convidamos familiares, estudantes e profissionais da escola para que, além de participarem das discussões a respeito do trabalho, fizessem parte das gravações.

Nossa preocupação é incluir a todos! Por isso, o projeto foi pensado de uma forma acessível para alcançar toda a comunidade escolar. Queremos uma escola à qual os estudantes tenham orgulho de pertencer. Em tempos difíceis, que eles se sintam acolhidos, mesmo que virtualmente.

Após essas definições, passamos para a fase de produção do roteiro para o vídeo. Todas as professoras participaram das discussões sobre os textos trabalhados, respeitando as especificidades de cada aluno.

Mas como produziríamos um vídeo que envolvesse toda a comunidade escolar se a escola estava fechada e não teríamos contato direto com os estudantes e com os familiares?

Para isso, elaboramos algumas orientações para as gravações do vídeo. Respeitando sempre os recursos de cada família, passamos dicas de enquadramento do celular e de posicionamento da câmera, respeitando as condições de iluminação e de ruídos sonoros de cada ambiente.

Como cada pessoa iria gravar de um lugar diferente e com um recurso audiovisual próprio, optamos por padronizar o fundo em tom azul. Utilizamos essa estratégia para minimizar efeitos de qualidade inferior dos vídeos enviados. 

Trabalho colaborativo para a edição dos vídeos

Parte importante do projeto, os familiares participaram ativamente de cada etapa, colaborando e auxiliando os alunos nas filmagens. Foi essa parceria que tornou o projeto possível!

A responsabilidade de edição dos vídeos recebidos também ficou a cargo das educadoras. Cada vídeo editado foi um aprendizado, uma conquista, pois no início não compreendíamos o programa de edição tão bem.

As edições realizadas também eram compartilhadas com o grupo de professoras, para que todas pudessem opinar e contribuir com o enriquecimento do projeto e do produto final. Trabalhamos de forma verdadeiramente colaborativa!

interpretação de Libras também foi pensada desde à produção do roteiro. Nossa preocupação era proporcionar uma sinalização clara aos alunos surdos e de baixa visão.

Dessa forma, não limitamos a janela de Libras a um mero canto da tela: pelo contrário! Os intérpretes de Libras estão lado a lado com os falantes em português vocal, em um claro movimento por igualdade e respeito à Língua Brasileira de Sinais.

A Libras precisa do movimentar das mãos, do corpo e das expressões faciais para ser interpretada. Por isso, não estaríamos satisfeitos se ela estivesse relegada a um espaço inferior da tela.

Valorização dos profissionais não docentes

Para a apresentação da versão final do vídeo, convidamos os inspetores da escola. Como os nossos alunos não estão tendo contato com esses profissionais não docentes, pensamos que seria importante para aproximar o contato deles com toda a comunidade escolar.

A pandemia também acabou afetando a relação dos estudantes com os profissionais de apoio escolar, uma vez que o convívio diário já não é mais possível. A nossa iniciativa foi uma forma de valorizar a atuação de todos os educadores, inclusive daqueles que não estão em “sala de aula”.

Essa experiência foi positiva para todos e se mostrou importante para refletirmos sobre a importância de acolher a todos, diante desse período cheio de desafios e barreiras.

A produção do vídeo envolveu toda a escola, a equipe gestora participou ativamente orientando em todo o processo. Todos se mostraram orgulhosos e contentes com suas participações, seja no vídeo ou na participação em alguma das etapas.

O impacto no dia a dia foi a conscientização, em primeiro lugar, mas também o aprendizado adquirido sobre o gênero textual utilizado (notícia) e sobre a importância de valorizar a diversidade escolar incluindo a todos.

Conseguimos oportunizar uma boa reflexão sobre as formas de preconceito não apenas dentro da escola, mas também fora dela. Estudantes e familiares nos apresentaram um retorno positivo a respeito dessa iniciativa.

Sentimos que os nossos objetivos iniciais foram contemplados e, além disso, potencializados. Afinal é isto que queremos: que todos que fazem parte da Escola Estadual Professor Cid Boucault se reconheçam aqui e tenham as suas individualidades respeitadas.

Este depoimento foi originalmente publicado na seção de relatos de experiências da plataforma Diversa, uma iniciativa do Instituto Rodrigo Mendes em parceria com o MEC e diferentes organizações comprometidas com o tema da equidade com o objetivo de apoiar redes de ensino no atendimento de estudantes com deficiência em escolas comuns. Algumas das educadoras autoras deste relato participaram da formação Ensino médio inclusivo, promovida pelo Instituto Rodrigo Mendes . A experiência no processo formativo pode ser conferida em Educadores usam poesia para falar sobre diversidade e preconceito no ensino médio.


Depoimento por: KELLY CHRISTIANE DE OLIVEIRA CORDEIRO, ELAINE CRISTINA DE SOUZA ALVIM, LILIAN APARECIDA DA SILVA SANCHES, ROSEMEIRE DE SOUZA GONÇALVES E SILVA, GISLAINE ALVES KAMER BENTO E EDIJANE GOMES DA SILVA
Instituição: Escola Estadual Professor Cid Boucault)

TEMAS TRABALHADOS:

Educação inclusiva; indisciplina; bullying

Para saber mais sobre o tema:

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