Iniciação científica com equidade racial
Resumo da solução
A Escola Estadual Adalgisa de Paula Duque, em Lima Duarte, cidade na zona da mata mineira, aplicou-se para o edital da Secretaria de Educação do Estado de Minas Gerais e foi escolhida para implementar um projeto de iniciação científica cujo objetivo, uma das metas do estado, é promover a equidade racial no ambiente escolar. O projeto teve como base pedagógica a metodologia da escrevivência, da escritora negra e mineira, Conceição Evaristo. Na execução das atividades, a professora da disciplina de Língua Portuguesa apoiou estudantes do projeto no processo de escrita dos seus textos por meio dos relatos de caso. O projeto obteve alta adesão, com resultados visíveis no comportamento, protagonismo e desempenho escolar de jovens negros e reflexões entre docentes e demais alunos da escola.
Depoimento completo:
A nossa escola atende 700 estudantes, com uma população considerável de jovens negros e pardos. A reprodução do racismo estrutural vigente em nossa sociedade era evidente no ambiente escolar. Por isso, aplicamos o projeto ao edital e recebemos recursos da Secretaria de Educação para viabilizá-lo. Liderado por mim, professor da disciplina de Educação Física, o projeto atuou em duas frentes, simultaneamente. A primeira visou sensibilizar e engajar o corpo docente na temática, por meio de diálogos e palestras com especialistas externos para identificar o racismo estrutural em comportamentos e práticas pedagógicas excludentes. Percebemos um positivo incômodo entre os docentes, que se viram diante de seus vieses inconscientes, dando início a uma mudança na prática escolar para envolver e contemplar estudantes negros. Mas entendemos que esse processo é contínuo, exigindo iniciativas permanentes de conscientização sobre o nosso papel como educadores no enfrentamento do racismo.
Com os alunos do 9º ano e do ensino médio, os primeiros passos foram a mobilização e o engajamento, realizados por meio de conversas nas salas de aula e formação de grupo para reuniões no contraturno. Embora nosso projeto de iniciação científica contemple alunos negros, o foco central é fortalecer o protagonismo estudantil das jovens negras.
Começamos a discutir o autorreconhecimento racial, utilizando para isso o saber científico com o propósito de valorizar a população negra, por meio de exemplos reais de homens e mulheres negros que fizeram história.
Debatemos o sentimento de pertencimento desses jovens na comunidade escolar e, como consequência, nos demais espaços sociais. Nas conversas, pontuamos a questão da inclusão com exemplos cotidianos, como porque estudantes negros ficavam isolados no fundo ou nas beiradas da sala de aula, levando a debates mais profundos sobre a realidade do racismo estrutural e institucional.
Uma das estudantes se deu conta, por exemplo, de que ela era a única negra dentre os 60 representantes de classe. A tomada de consciência de uma situação naturalizada pelo racismo estrutural foi um dos principais avanços do projeto, que seguiu com uma pesquisa, construída coletivamente, aplicada na escola. Estudantes negros entrevistaram 450 alunos com o objetivo de traçar perfis da diversidade, com foco em raça (na autodeclaração) e nos espaços ocupados na sala de aula.
Também foram propostas leituras antirracistas. Compramos uma quantidade considerável de livros sobre a temática e fomos positivamente surpreendidos ao perceber que, atualmente, essas obras são as mais lidas pela comunidade escolar.
Também fizemos viagens com os estudantes negros para conhecer espaços históricos que remetem às suas origens, mostrando a importância da cultura negra na construção da identidade brasileira. Além disso, com os recursos recebidos para implementar o projeto, pudemos dar a cada estudante negro um notebook, para que também pudessem ser incluídos tecnologicamente.
Nossa escola mantém uma parceria com a rádio comunitária local, a Serrana. Com os estudantes do projeto, passamos a participar do programa Fala Preta, em que levamos diferentes personalidades para dialogar sobre inclusão racial e seus desafios. Uma das alunas do grupo participa das entrevistas e em breve vai assumir a condução do programa. A inciativa é uma extensão do projeto para a comunidade.
Com base em toda essa experiência, os estudantes estão redigindo relatos de caso, usando a metodologia da escrevivência, para contar em que fase de suas vidas aconteceu algo significativo que os identificaram racialmente e como foi a participação no processo de iniciação científica.
Dentre os resultados do projeto está o aumento de denúncias contra posturas racistas, fortalecimento da autoestima de estudantes negras e negros, especialmente entre as meninas, o compromisso com os estudos e a melhoria da aprendizagem e participação escolar. Também é evidente a auto responsabilização desses jovens pelos seus futuros pessoais e profissionais.
Depoimento por: Estevão Lopes Garcia (professor)
Instituição: E. E. Adalgisa de Paula Duque)
TEMAS TRABALHADOS:
Equidade racial
Para saber mais sobre o tema:
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