O relatório Futuro do Trabalho Abre em uma nova guia aponta que a principal habilidade para qualquer profissional até 2025 será o pensamento analítico. Essa habilidade significa ter a capacidade de análise de informações e o uso da lógica para resolver problemas e questões relacionadas ao trabalho.

Maturidade analítica refere-se, portanto, à capacidade de analisar os dados e incorporar essas análises nos processos de tomada de decisão. Hoje, escolas e secretarias fazem isso em diferentes graus – do mais iniciante até o mais avançado.

De acordo com a TDWI - Transforming Data With Intelligence, a maturidade analítica pode ser descrita como a evolução de uma organização para integrar, gerenciar e alavancar todas as fontes de dados internas e externas relevantes em pontos-chave de decisão.

Significa criar um ecossistema que possibilita insights e ações. Em outras palavras, maturidade analítica envolve tecnologias, recursos, gerenciamento de dados, governança e componentes empresariais.

Assim, a análise de dados pode fornecer benefícios tangíveis, como insights mais profundos, maior produtividade, maior eficiência operacional, impulsionamento de novos serviços e produtos, etc.

Luciana Sodré, pesquisadora do CRIE, relembra que a decisão humana ser guiada por dados não é novidade. "Falamos apenas data-driven, mas data-driven o ser humano sempre foi. O que estamos fazendo agora é uma decisão digital data-driven. A gente omite o digital e fica implícito que estamos falando de tomada de decisão digital", afirma.

De acordo com a pesquisadora, a análise de dados é a capacidade de processar um volume maior de informações em menos tempo. O que é ainda mais relevante Abre em uma nova guiaquando se está diante de um problema complexo, como a educação.

Para o Cappra Institute, a maturidade analítica está baseada em quatro pilares: Processos, Pessoas, Políticas e Tecnologia (3P1T). Para que uma cultura analítica seja implementada, é necessário que os três primeiros pilares estejam consolidados.

"Os três 'Ps', que são processos analíticos, com pessoas mais preparadas e com políticas, ou seja, uma governança, vêm antes da tecnologia. “Os três precisam ser ativados para que saibamos o que usar da tecnologia", explica Ricardo Cappra, fundador do Cappra Institute, em entrevista exclusiva para esse especial.

No entanto, ele destaca que não fomos preparados na educação básica para desenvolver a habilidade analítica.

O Índice de Maturidade Analítica foi criado pelo Cappra Institute para compreender a evolução das organizações com relação ao uso de dados.

Assim, o índice considerou cinco níveis:

• Data-negation [negando dados]: Organizações que não valorizam os dados em seus processos e que não acreditam no potencial analítico aplicado em negócios;
• Data-curious [curiosidade por dados]: Organizações que fazem aplicações pontuais para uso de dados, sem constância ou escolha de processos analíticos;
• Data-try [testando dados]: Organizações em busca da estabilização de uma operação orientada por dados, testando alternativas para reduzir o feeling nas decisões;
• Data-safety [segurança a partir dos dados]: Organizações que utilizam os dados de forma estável, principalmente para justificar suas ações;
• Data-driven [orientação por dados]: Organizações analíticas, com estratégia, processos, pessoas e espaços plenamente adequados para usar dados nos negócios.

Cappra revela que a próxima pesquisa, a ser lançada ainda em 2023, acrescentará mais um nível: o IA-driven. Este significa que a organização deixa de ser orientada por dados e passa a ser orientada por inteligência artificial e recomendações dos algoritmos.

A partir da investigação em empresas de todos os tipos, através de entrevistas com profissionais, líderes e donos de negócio, pesquisadores do Cappra Institute concluíram que o Índice de Maturidade Analítica das organizações no Brasil encontra-se no nível "Data-Curious".

Isso significa que hoje as organizações usam dados pontualmente, sem uma constância. No entanto, elas já começaram a adotar algumas soluções com dados e sabem o valor que podem gerar.

O índice foi criado com o objetivo específico corporativo, dentro de um ambiente profissional. A amostra de pesquisa evidenciou que as novas gerações estão mais avançadas dentro das empresas.

Cappra faz uma leitura sobre as instituições de ensino. "No ambiente educacional, tenho uma hipótese de que o aluno já se encontra numa fase de curiosidade de dados, afinal, ele é um ativo digital. O professor está numa fase anterior, pois na sua formação, de maneira geral, foi pouco estimulado ou não teve acesso aos recursos tecnológicos para lidar com informação como temos à nossa disposição atualmente."

Além disso, o pesquisador aposta que a habilidade analítica fará parte da requalificação profissional da nova geração, com perfil mais voltado para solução de problemas.

No nível da tecnologia, o Modelo de Maturidade Analítica desenvolvido pela TDWI mede a maturidade de um programa de analytics de maneira objetiva em cinco dimensões: organização, infraestrutura de dados, recursos, analytics e governança.

O modelo consiste em cinco estágios: Nascente, Precoce, Estabelecido, Maduro e Avançado/Visionário.

À medida que as organizações passam por esses estágios, elas devem extrair mais valor de seus investimentos em analytics.

Fonte: Adaptado de TDWI

Estágio 1 "Nascente": O estágio nascente representa um ambiente pré-analítico, onde a maioria das empresas não faz o uso de práticas analíticas, exceto por análises através de planilhas. Podem existir bolsões de usuários que possam estar interessados no valor potencial de um ambiente analítico e que possam estar testando algum software. Neste estágio a cultura não é conduzida por dados e as decisões são tomadas mais com base no instinto do que no fato.

Estágio 2 "Precoce": Membros de equipes começam a ler sobre o tópico e talvez participar de seminários na internet ou conferências. As organizações podem investir em alguma tecnologia analítica, como instâncias únicas de uma ferramenta de self-service BI, ou ainda criando relatórios gerenciados a partir de um Data Mart (DM) ou Data Warehouse (DW). As equipes estão começando a entender o poder da análise para melhorar as decisões e assim evoluir o resultado comercial.

Estágio 3 "Estabelecido": Aqui, a empresa já está implementando ferramentas e metodologias de análise. Já possui um Data Warehouse e o utiliza para relatórios ou necessidades de painel. Tem o autoatendimento, mas não é necessariamente alfabetizada em dados. A TI pode ser proprietária dos dados e a empresa é proprietária da análise. Os dois grupos podem começar a trabalhar juntos.

Abismo: À medida que as organizações passam do estágio 3 para se tornarem mais maduras, elas devem superar uma série de obstáculos. Existe o desafio óbvio de obter a proficiência técnica necessária para novas tecnologias, assim como questões políticas internas que podem trazem dificuldades.

Estágio 4 "Maduro": Em uma organização analiticamente madura, os usuários finais normalmente se envolvem e a analytics transforma os negócios. Por exemplo, os usuários podem mudar a forma como as decisões são tomadas operacionalizando analytics na organização.

Estágio 5 "Avançado/visionário": Atualmente, apenas uma pequena porcentagem das empresas possui uma analytics visionária. Nesta fase, as organizações estão executando programas em uma infraestrutura altamente ajustada, com dados bem estabelecidos e estratégias de governança. O acesso a dados está disponível para os usuários de modo que eles possam explorar e desenvolver visualizações self-service. Muitos programas são executados conforme o orçamento e iniciativas são planejadas do ponto de vista da empresa. No estágio visionário, há entusiasmo e energia em torno da analytics e uma cultura saudável e ágil que permite que os usuários não tradicionais em gerenciamento e até mesmo posições de linha de frente possam se beneficiar.

A capacidade de analisar dados é beneficiada quando há maturidade digital, ou seja, um bom nível de conhecimento e implementação das tecnologias digitais. No caso das escolas, as tecnologias educacionais são usadas para apoiar o ensino e a gestão.

Recentemente, uma pesquisa realizada Abre em uma nova guiapelo Departamento de Educação do governo britânico avaliou o uso da tecnologia em escolas de Ensino Fundamental e Médio na Inglaterra.

O estudo contemplou três pilares para se chegar a uma pontuação métrica:

• tecnologia (conectividade, infraestrutura, uso de armazenamento local ou em nuvem, hardware, software, proteção contra ameaças e adequação à finalidade do software);
• capacidade (treinamento da equipe, adequação da tecnologia para atender à administração e às necessidades de ensino, confiança da equipe no uso tecnologia, suporte adequado para acessibilidade);
• estratégia (planejamento estratégico, investimento em tecnologia e barreiras ao uso da tecnologia).

O resultado revelou que escolas digitalmente maduras eram mais propensas a dizer que tinham uma estratégia de tecnologia formal em vigor. O foco dessa estratégia é melhorar os resultados dos alunos e ter um uso mais significativo da tecnologia em sala de aula.

Quando as escolas não tinham uma estratégia, elas tendiam a tomar decisões sobre a tecnologia conforme o necessário, de maneira reativa.

Outros fatores de sucesso que ajudaram as escolas a se tornarem digitalmente maduras foram a forte adesão da equipe, a experiência (disponibilidade de suporte técnico de especialistas) e uma infraestrutura forte e confiável.

Em entrevista exclusiva para este especial, Jess Watson, da Divisão de Estratégia Digital do Departamento de Educação Britânico, afirmou que sem a tecnologia básica instalada é difícil construir uma estratégia de ensino e aprendizagem sustentada pelo bom uso da tecnologia.

Além disso, o profissional relata que para proporcionar mudanças efetivas, é preciso estabelecer uma forte base de evidências para o uso eficaz da tecnologia e incorporar essas evidências no sistema escolar.

O uso de evidências também foi destacado pela pesquisadora do CRIE Luciana Sodré como um meio de estimular o uso de dados na tomada de decisão. "O uso de evidências vem originalmente da área de saúde. É um modo de aprender, de cortar um caminho no aprendizado que é, a rigor, uma análise de dados também. A evidência nada mais é do que uma informação qualificada, que veio da análise de dados.”

No Brasil, a pesquisa TIC Educação Abre em uma nova guiaé realizada anualmente desde 2010 pelo Comitê Executivo de Tecnologia da Informação e Comunicação (CETIC).

A edição 2021 teve como objetivo investigar o acesso, o uso e a apropriação das tecnologias digitais nas escolas brasileiras de Ensino Fundamental e Médio.

Os resultados suscitam a reflexão sobre a educação pós-pandemiaAbre em uma nova guia, principalmente no que se refere à presença cada vez mais constante das tecnologias digitais na gestão escolar e nos processos de ensino e de aprendizagem.

O estudo mostrou que, no período pesquisado, 93% dos professores utilizaram o telefone celular em atividades remotas, 84% dos professores utilizaram o computador portátil nas atividades remotas, 23% dos professores afirmaram compartilhar o dispositivo com outros moradores do domicílio, e 12% dos professores de escolas rurais não possuíam computadores e utilizaram exclusivamente o telefone celular nas atividades remota.

Durante a pandemia, as dificuldades de conectividade entre os alunos estavam entre os maiores desafios enfrentados pelos docentesAbre em uma nova guia.

A procura por maneiras de entregar atividades e conteúdos educacionais aos estudantes resultou em professores encontrando formas de renovar sua prática pedagógica.

Com o uso de tecnologias digitais nas aulas, 92% dos professores adotaram novas técnicas de ensino e 84% tiveram acesso a uma variedade maior de materiais didáticos.

Também houve um aumento na necessidade de melhorar as habilidades digitais dos professores: 82% dos docentes compartilharam conteúdos educacionais online para os alunos, 81% receberam trabalhos dos estudantes pela internet e 75% usaram a rede para avaliar a performance dos estudantes.

Fonte: TIC Educação 2021

No entanto, 59% dos professores relataram que a falta de treinamento adequado dificultava bastante o uso de tecnologia em atividades educacionais.

Esse número chegou a 73% entre os professores que ensinavam em escolas rurais e a 64% entre aqueles que trabalhavam em escolas públicas municipais, estaduais e federais.

Fonte: TIC Educação 2021

O Quadro Europeu de Competência Digital Para Educadores apresenta 22 Abre em uma nova guia competências, organizadas em 6 áreas (figura abaixo):

Fonte: DigCompEdu

No contexto do DigCompEdu, o termo “educador” é usado para indicar, genericamente, qualquer pessoa envolvida no processo de ensino ou de promoção de acesso ao conhecimento.

Por outro lado, "aprendente” é usado para indicar, genericamente, qualquer pessoa envolvida no processo de aprendizagem ou de acesso ao conhecimento, em qualquer contexto (formal, não formal ou informal).

É proposto, ainda, um modelo de progressão para ajudar os docentes a avaliarem e desenvolverem a sua competência digital. São seis níveis diferentes:

• Recém-chegado (A1) e Explorador (A2): os educadores assimilam novas informações e desenvolvem práticas digitais básicas. Os recém-chegados precisam de orientação e incentivo para expandir o seu repertório e aplicar a sua competência digital no domínio pedagógico. Os exploradores precisam de incentivo e inspiração por parte de colegas, que podem ocorrer através da troca colaborativa de práticas.
• Integrador (B1) e Especialista (B2): os educadores aplicam, ampliam e estruturam as suas práticas digitais. Os integradores só precisam de mais tempo, incentivo colaborativo e troca de conhecimento para se tornarem especialistas. Esses, por sua vez, são o alicerce de qualquer instituição educativa quando se trata de inovar práticas.
• Líder (C1) e Pioneiro (C2): os educadores partilham o seu conhecimento, criticam a prática existente e desenvolvem novas práticas. Os líderes são uma fonte de inspiração para os outros, a quem passam o seu conhecimento. Os pioneiros lideram a inovação e são um modelo a seguir pelos outros educadores.

Fonte: DigCompEdu

O CIEB - Centro de Inovação para Educação Brasileira, baseado em um estudo da Unesco, desenvolveu três níveis que associam o nível de maturidade na adoção de tecnologia à infraestrutura necessária.

Maturidade analítica e a pirâmide - Fonte: Nota técnica #10 CIEB

O detalhamento do conjunto de recursos mínimos para o uso desejado de tecnologia em cada nível pode ser acessado no estudo.Abre em uma nova guia

Assim, selecionamos opções de autodiagnóstico que podem nortear ações para a adoção de tecnologias e aprimoramento da maturidade analítica em escolas e secretarias de educação. Confira:

• Tecnologias Educacionais – Programa Melhoria da Educação do Itaú Social: Abre em uma nova guiasão soluções testadas, aprovadas e que, se colocadas em prática, podem promover significativo impacto na aprendizagem e equidade da oferta educacional nos municípios brasileiros. As práticas foram identificadas e sistematizadas para uso em secretarias que vivem diferentes contextos. Elas se caracterizam pelo livre acesso, fácil manuseio, possibilidade de customização e, ao mesmo tempo, serem autoaplicáveis, estando divididas nos eixos: Gestão Pedagógica, Participação, Ações Colaborativas e Controle Social, e Planejamento e Gestão Administrativa.
• Guia EduTec: Abre em uma nova guiaé uma ferramenta on-line e gratuita desenvolvida pelo Centro de Inovação pela Educação Brasileira - Cieb que faz um diagnóstico do nível de adoção de tecnologia educacional por professores e escolas de redes públicas de ensino. O instrumento, inspirado em iniciativas similares de sucesso em outros países, também aponta caminhos para as melhores práticas de tecnologia aplicada à aprendizagem dos alunos, ao desenvolvimento de competências digitais dos professores e à gestão nas escolas.
• DigCompEdu Survey: Abre em uma nova guiacom base no DigCompEdu, foi desenvolvida uma ferramenta de autorreflexão que permite aprender mais sobre os pontos fortes pessoais e as áreas onde é possível melhorar a utilização que se faz das tecnologias digitais para o ensino e a aprendizagem. Está disponível para docentes de diferentes níveis de ensino (em inglês).

Glossário de termos da ciência de dados

Analytics: é o uso aplicado de dados, análises e raciocínio sistemático para seguir em um processo de tomada de decisão muito mais eficiente. Também chamado em português "inteligência analítica", utiliza-se de técnicas matemáticas, estatísticas, machine learning e modelagem preditiva, dentre outros, para encontrar padrões e interpretar dados.

Competência digital: pode ser genericamente definida como a utilização segura, crítica e criativa das tecnologias digitais para alcançar objetivos relacionados com trabalho, empregabilidade, aprendizagem, lazer, inclusão e/ou participação na sociedade, segundo a DigCompEdu.

Conteúdo digital: é qualquer tipo de conteúdo que existe sob a forma de dados digitais codificados num formato legível por máquina, que podem ser criados, visualizados, distribuídos, modificados e armazenados por meio de tecnologias digitais.

Ferramentas digitais: tecnologias digitais usadas com um determinado objetivo ou para desempenhar uma função específica. Ex.: processamento de informação, comunicação, criação de conteúdo, segurança ou resolução de problemas.

Recursos digitais: o termo refere-se geralmente a qualquer conteúdo publicado em formato legível por computador. No contexto do DigCompEdu é feita uma distinção entre recursos e dados digitais. Os recursos digitais incluem qualquer tipo de conteúdo digital imediatamente compreensível para um utilizador humano, ao passo que os dados precisam de ser analisados, tratados e/ou interpretados para poderem ser úteis aos educadores.

Serviços digitais: serviços que podem ser prestados através de comunicação digital, como a internet ou rede móvel, que podem incluir entrega de informação digital (dados, conteúdo) e/ou serviços comerciais. Podem ser públicos ou privados.

Ao longo deste especial, apresentamos várias definições, casos e reflexões sobre maturidade analítica. Se você quer adquirir um conhecimento ainda mais profundo sobre o tema para aplicá-lo em seu trabalho, deixamos abaixo uma série de referências importantes que estão disponíveis aqui no Observatório de Educação.

Confira: