Cobertura da educação em setembro amplia foco e diversifica assuntos

Questões inerentes ao ensino médio. Ministério da Educação (MEC). Relatórios internacionais. Resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Financiamento da educação. E, como era de esperar, a pandemia. Com 227 clippings selecionados nos temas de interesse do Instituto Unibanco, a seção Radar de Imprensa do Observatório de Educação reuniu uma boa variedade de assuntos no mês de setembro se comparada aos meses anteriores, que concentraram foco em número mais restrito de pautas.

A pandemia dominou cerca de 60% da amostra, tendo ela própria se ramificado em múltiplas abordagens: pandemia/volta às aulas; pandemia/ensino remoto; pandemia/evasão escolar; pandemia/equidade social; pandemia/futuro da educação; pandemia/saúde mental da comunidade escolar; pandemia/vestibular...

Assim como em agosto, a possibilidade da volta às aulas foi individualmente a notícia mais explorada pela imprensa na seleção analisada. Pelo menos 57 textos se voltaram à questão, enquanto outros a tangenciaram. Grosso modo, o volume representou mais de 40% de tudo o que se leu sobre a pandemia na clipagem e cerca de um quarto da amostra total.

Repetiu-se em setembro, ainda, a pluralidade de posições sobre a reabertura das escolas, expressa em notas, matérias, entrevistas pingue-pongue e artigos. Curiosamente, não houve nenhum editorial dedicado à volta às aulas na amostra do Radar de Imprensa, e isso também foi um sinal da ambiguidade que cerca o tema.

Se a cobertura jornalística reflete de alguma maneira o momento de uma sociedade, a imagem síntese de setembro foi a indefinição. Entre “Reabertura de escolas beira a irresponsabilidade, diz especialista” (Rede Brasil Atual) e “Quero poder mandar meus filhos à escola” (Folha de S.Paulo), foi difícil perceber para que lado pendeu a cobertura.

Apelo à “IA"

Nessas horas, o uso de inteligência artificial pode ajudar, mas mesmo a nuvem de tags construída por meio da ferramenta WordClouds com as chamadas dos textos que trataram do assunto foi inconclusiva. A ferramenta agrupa as palavras e analisa a sua incidência, criando uma representação gráfica na qual os verbetes que mais se repetem aparecem ao centro e em maior tamanho. Como se pode conferir, a figura resultante reforçou mais o foco da pauta em si do que eventuais desdobramentos:

 

Pragmaticamente, a cobertura sobre a volta às aulas na primeira quinzena de setembro noticiou uma atmosfera de dilema, falta de consenso, confusão e discussão.

No meio de setembro, a Organização Mundial da Saúde (OMS), que no começo de agosto comparecera à imprensa e desincentivara a reabertura das escolas, publicou um guia, em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef, na sigla em inglês) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco, na sigla em inglês), atualizando orientações em sentido contrário.

Na amostra de clipping do Radar de Imprensa, o fato operou como um divisor de águas no mês, criando lastro para artigos como “Reabertura das escolas: complexa e dispendiosa, mas necessária”, assinado pelo professor Jacir J. Venturi e veiculado nos Blogs do Estadão em 19 de setembro. Ou para a matéria da Folha de S.Paulo de 21 de setembro: “Priorizar escolas não é abrir já, mas não dá para esperar controle total da pandemia, diz representante do Unicef”.

Entre uma ponta do mês e a outra, observou-se que a imprensa buscou informar com objetividade a situação da volta às aulas no Brasil e no mundo, além de resgatar sua função de “serviço”, com matérias que disponibilizavam subsídios para o planejamento e a preparação para a reabertura.

Uma última palavra sobre esta pauta central de setembro se refere à consulta de fontes para a cobertura. Dos 57 textos tabulados para embasar esta análise, 38 exibiam três fontes ou mais, evidenciando a robustez das apurações; 20 traziam como porta-vozes pelo menos um gestor público/membro do Executivo, sobretudo da pasta da Educação, mas também alguns representantes da Saúde; e 16 repercutiram o tema junto a ativistas/representantes de organizações sociais.

O novo ministro e a educação

Empossado em meados de julho e diagnosticado com Covid-19 poucos dias depois, o ministro Milton Ribeiro reassumiu sua posição no Ministério da Educação (MEC) em agosto, passando boa parte daquele ciclo em agendas internas de integração. Em setembro, o ministro dedicou boa parte do seu tempo a questões do orçamento da pasta, incluindo um périplo na Esplanada dos Ministérios e no Congresso Nacional para reverter cortes de verba.

No dia 24 de setembro, o jornal O Estado de S.Paulo publicou a primeira grande entrevista de Ribeiro como líder do MEC. Questionado sobre temas urgentes como educação na pandemia, reabertura das escolas e desigualdade educacional, o ministro isentou-se de responsabilidades. “A lei é clara. Quem tem jurisdição sobre escolas é Estado e município. Não temos esse tipo de interferência. Se eu começo a falar demais, dizem que estou querendo interferir; se eu fico calado, dizem que se sentem abandonados”, disse à repórter Jussara Soares.

Os posicionamentos do ministro sobre o contexto atual da educação repercutiram negativamente na imprensa. Na entrevista ao Estadão, Ribeiro também fez um comentário sobre identidade de gênero, que foi destacado pela revista Carta Capital: “Ministro da Educação diz que ‘homossexualismo’ vem de ‘famílias desajustadas’”.

No fim do mês, veio direto do Palácio do Planalto uma pauta inesperada, que gerou matéria em muitos veículos: a proposta de utilizar parte dos recursos do novo Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica) como uma das fontes para financiar o programa de renda mínima que está sendo gestado pelo governo federal. Setembro acabou com muitas reações contrárias entre parlamentares e sociedade civil e com o assunto no limbo.

Diferentemente da pauta da volta às aulas, a cobertura sobre o novo ministro e o MEC – a segunda no mês em quantidade de textos capturados pelo clipping do Radar de Imprensa – mereceu um editorial. A peça “O problema do MEC” foi publicada no dia 25 de setembro pela Folha de S.Paulo, conforme o excerto a seguir:

“Há algo de perturbador quando um ministro da Educação, a pretexto de defender a profissão docente, a qualifica com estas palavras: ‘Hoje, ser um professor é ter quase que uma declaração de que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa’.

A frase ofensiva de Milton Ribeiro, atual titular do ministério, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, poderia ser só um deslize. O conjunto de suas respostas, entretanto, mostra que o presidente Jair Bolsonaro escolheu outro despreparado para a pasta estratégica – o quarto em série desastrosa”.

Education at a Glance, Ideb e mais sobre o Pisa

No fim e no começo do mês, foram lançados dois estudos internacionais de larga escala produzidos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): o Education at a Glance, que traz um panorama anual sobre a educação no mundo, e uma nova releitura dos dados do Pisa 2018, o Programa de Avaliação Internacional de Estudantes.

Entre a apresentação destes dois documentos, houve a divulgação do Ideb 2019 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Os três documentos são ganchos jornalísticos tradicionais na cobertura de educação.

O Education at a Glance enfocou o ensino técnico e trouxe como apelo extra um especial sobre o impacto da pandemia de Covid-19 na educação. As abordagens da imprensa oscilaram bastante, guardando algum destaque, na seleção do Radar de Imprensa, para as diferenças salariais de professores no mundo – os docentes brasileiros recebem menos que a média dos demais países da OCDE. O portal G1 fez uma cobertura abrangente sobre o documento em “Com salas cheias e poucos professores jovens, Brasil tem desafios na reabertura das escolas, apontam dados da OCDE”.

No caso do Pisa, o relatório “Políticas eficientes, escolas de sucesso” apontou práticas adotadas por países e escolas que ajudaram a melhorar o desempenho dos estudantes. O estudo se apoiou, ainda, em dados coletados com alunos e professores, à época do exame, sobre infraestrutura educacional. Embora não sejam de agora, tais informações ajudam a interpretar o momento atual, como o fez o portal UOL em “OCDE: Relatório aponta para desigualdade de acesso a ferramentas digitais nas escolas do Brasil”.

Dada a importância do Ideb como um dos principais mecanismos para medir a qualidade da educação no Brasil, a pauta mereceu cobertura local mais ampla que os estudos internacionais, segundo constatou o Radar de Imprensa. Cerca de 10% dos textos da amostra total de setembro eram sobre o Ideb. A evolução da qualidade no ensino médio – leia-se aprovação escolar e desempenho dos alunos em português e matemática – foi a principal boa notícia, conforme publicou o jornal O Globo: “Ideb: Brasil avança de forma inédita no ensino médio, mas não consegue bater meta”. Para saber mais detalhes sobre esta cobertura, clique aqui.

Ensino médio em pauta

Em setembro, como nos meses anteriores recentes, o assunto ensino médio tem entrado no clipping muito mais pela porta das avaliações do que dos demais temas de interesse monitorados pelo Observatório de Educação.

Os estudos internacionais, o Ideb, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) comandaram a cobertura do ensino médio no período, que se fez presente em cerca de 15% da amostra total do clipping.

Base: 32 inserções sobre ensino médio
Para conhecer todos os temas monitorados pelo Observatório de Educação clique aqui.

Nos próximos meses, esta análise de clipping se ocupará de detalhar repetidamente o que acontece na cobertura sobre ensino médio, etapa final da educação básica e na qual se centra a agenda de trabalho do Instituto Unibanco.