Em junho, foco de atenção da imprensa ficou entre a pandemia e a crise no MEC

A análise da amostra de 197 clippings republicados em junho pela seção Radar de Imprensa revelou que, superada a tensão quanto à necessidade de adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), outras questões demandavam maior vigilância. Embora o noticiário sobre os efeitos da pandemia de Covid-19 na educação tenha sido preponderante, a cobertura lançou holofotes sobre a gestão da área educacional em Brasília, em especial sobre a crise de liderança no Ministério da Educação (MEC).

Em menor escala, também se destacaram abordagens sobre diversidade/desigualdade pelo viés da educação, algumas delas motivadas pelo assassinato recente do norte-americano George Floyd, vítima de racismo e abuso de autoridade nos Estados Unidos. No campo do financiamento, falou-se ainda do orçamento da educação no ano em curso e no vindouro, bem como da urgência de aprovação do novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).

Na grande imprensa, os jornais veicularam 77,2% das inserções pesquisadas, sendo a Folha de S.Paulo o periódico que mais publicou sobre educação dentro da amostra. No segmento das grandes revistas, a Veja respondeu por 33,3% dos clippings.

Entre as publicações setoriais, o destaque ficou para o portal Porvir, que preparou nove matérias em profundidade particularizando, entre outras perspectivas, a dos alunos migrantes e a dos alunos do ensino médio na pandemia. Já nas páginas de notícias de organizações sociais monitoradas pelo Radar de Imprensa, sobressaíram, em número de inserções, o Centro de Referência em Educação Integral e a RBA – Rede Brasil Atual.

Aulas presenciais, dinâmica do ensino e efeitos da pandemia

A cobertura sobre a educação na pandemia abrangeu pautas variadas e interconectadas. Em separação didática, das 109 inserções dentro do assunto, a retomada das aulas presenciais foi o tema mais frequente, tratado sob diferentes ângulos em 39 textos. Por exemplo:

- No Porvir, “Escolas pós-coronavírus: como alunos e professores voltaram às aulas na Nova Zelândia” decupou uma experiência internacional.
- Em O Estado de S.Paulo, João Batista Oliveira analisou em artigo as “Incertezas sobre a volta às aulas”. “Até aqui o que se tem visto é muita improvisação, busca de soluções inviáveis, promessas e cobranças impertinentes”, escreveu o presidente do Instituto Alfa e Beto.
- O G1/Tocantins enfatizou o dilema entre reabrir ou não as escolas: “Cronograma de retomada de aulas na rede estadual divide opinião e causa receio quanto à transmissão do vírus”.
- No Valor Econômico, prevaleceu o factual em “SP tem plano para volta às aulas em setembro”.
- Veja produziu uma grande reportagem sobre “Como será a volta às aulas após a temporada compulsória de ensino on-line”.
- O Globo abriu espaço para as questões socioemocionais: “Atenção ao emocional: aspectos psicológicos ganham destaque no planejamento das escolas para a volta ao regime presencial”.

O noticiário também abordou de forma recorrente pautas em torno da dinâmica do ensino na pandemia (29 inserções) e textos refletindo, de forma mais ampla, sobre efeitos – ruins e potencialmente bons – da Covid-19 na educação (26 inserções).

Assim, no primeiro caso, foram produzidas matérias como “Desafio das aulas virtuais força adaptação de professores e alunos” (Correio Braziliense) e “Quase 40% dos alunos de escolas públicas não têm computador ou tablet em casa, aponta estudo” (G1). Os textos realçaram a necessidade de adequação das metodologias, o redimensionamento de conteúdos, o novo calendário escolar e a falta de infraestrutura para viabilizar o ensino remoto para professores e alunos.

Já o olhar sobre as consequências da pandemia gerou reportagens como “Suspensão de aulas devido ao novo coronavírus coloca a alfabetização de uma geração em risco” (O Globo) e “Apesar de risco de evasão, jovens são otimistas com inovação na educação” (UOL). Em linhas gerais, debateram-se a baixa aprendizagem e a progressão dos alunos, o aumento da desigualdade educacional, o abandono escolar, a sobrecarga anunciada das redes públicas, mas também aspectos positivos do novo cenário, como formas de ensino mais dinâmicas, atuais e acessíveis, explorando melhor recursos como as plataformas de vídeo.

Procura-se ministro

Pandemia à parte, a cobertura sobre questões ligadas à gestão da Educação a partir de Brasília respondeu por cerca de 30% do clipping republicado pelo Radar de Imprensa em junho. A pauta principal foi o processo de saída do ministro Abraham Weintraub, que se efetivou no dia 18 de junho.

O período que antecedeu a demissão do ministro foi marcado por forte pressão na mídia. As críticas que recaíam sobre ele evocavam situações graves: desde a investigação por suposto crime de racismo – em O Estado de S.Paulo, “À PF Weintraub nega racismo, alega ‘liberdade de expressão’ e ataca Partido Comunista Chinês” – até os desdobramentos da declaração que o titular da pasta da Educação fez numa reunião ministerial em abril, quando se referiu aos integrantes do Superior Tribunal Federal (STF) como “vagabundos” – no UOL, “Por 9 a 1, STF decide manter Weintraub no inquérito das fake news”.

No jornalismo opinativo, um total de 15 artigos na amostra do Radar de Imprensa rechaçou a passagem de Weintraub pelo MEC. Na Folha de S.Paulo, Priscila Cruz, presidente executiva do movimento Todos pela Educação, assinou o texto “Ministério da Educação só propôs ações minúsculas na crise da Covid-19”.

No Estado de S.Paulo, no mesmo dia em que o ministro deixou o cargo, a jornalista Renata Cafardo publicou a análise “O alívio dos educadores com a saída de Weintraub do MEC”. “Educadores se sentem aliviados em usar a partir de agora o verbo no passado ao falar de Abraham Weintraub no Ministério da Educação (MEC). Ele foi ministro. E a marca que ele deixou em um ano e dois meses está longe de ter qualquer ligação com ensino, escola, professor”, escreveu Renata.

De 18 de junho ao fim do mês, a tônica da cobertura em educação e política passou a ser a definição do novo titular do MEC. O movimento de escolha do presidente Jair Bolsonaro parou no nome do economista Carlos Alberto Decotelli, que foi nomeado em 25 de junho para o cargo, mas renunciou a ele cinco dias depois devido a controvérsias quanto à titulação acadêmica informada em seu currículo. No Uol, a coluna do veterano Ricardo Kotscho não perdoou: “Mais um vexame federal: ministro cai antes da posse”.

Vale registrar que as pautas sobre educação e política em junho priorizaram a consulta aos seguintes porta-vozes na amostra do Radar de Imprensa:

- No Poder Executivo, o ministro Abraham Weintraub; o presidente Jair Bolsonaro; e o ministro nomeado Carlos Alberto Decotelli.
- No Poder Legislativo, o presidente da Câmara, deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ); a deputada federal Dorinha Seabra (DEM-TO); e o deputado federal João Campos (PSB-PE).
- No meio acadêmico, o professor Daniel Cara, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP); e o professor Carlos Alberto Decotelli, na condição de indicado para assumir o MEC.

A escuta aos porta-vozes de organizações da sociedade civil foi bastante variada, sem que houvesse prevalência de uma fonte ou outra.

Diversidade e financiamento

Por fim, guardando relação ainda com a agenda política, o tema da igualdade racial se fez presente na cobertura ora em notícias sobre equidade na educação (“Pretos no Enem e Amplia: campanhas mobilizam voluntários para pagar inscrições de negros”, em O Estado de S.Paulo), ora sobre o regime de cotas, que sofreu um revés temporário pouco antes da queda do ministro Weintraub (na Agência Brasil, “MPF abre inquérito sobre portaria do MEC”; e, na Folha de S.Paulo, “Ministério da Educação volta atrás e retoma previsão de cotas na pós-graduação”).

A propósito do assassinato do norte-americano George Floyd, a interseção entre educação, equidade racial e direitos humanos pautou textos como a resenha “Entenda livro que inspira protestos nos EUA, ‘A Deseducação do Negro’” (Folha de S.Paulo), bem como “Universidade pode tirar negros da mira da bala, diz pesquisadora”, fruto de uma entrevista com a socióloga Marcia Lima (também na Folha).

As palavras finais de Floyd inspiraram a coluna assinada por Fabio Campos na revista Época: “Weintraub, eu não consigo respirar”. Campos fez um balanço sobre o legado do ministro ao longo de sua gestão: “Os sucessivos ataques de Abraham Weintraub contra a própria Educação, somados a seus arroubos autoritários, sufocam e desmoralizam um setor sempre apontado como mola mestra do desenvolvimento da nação”, afirmou. “Não conseguimos respirar quando vemos a omissão do ministro na renovação do Fundeb, o fundo que financia a educação básica brasileira.”

A pauta do financiamento da educação, por sua vez, apareceu timidamente na seleção do Radar de Imprensa em junho (dez inserções). Falou-se da redução de receitas no setor por causa da pandemia e do impacto disso nas escolas e universidades, mas o assunto mais frequente foi a urgência da aprovação do novo Fundeb. Nesse tópico, destacaram-se as matérias “Para viabilizar votação, PEC do Fundeb vai ter diminuição do aporte inicial da União” (O Globo) e “Câmara tende a votar PEC que prorroga prazo do Fundeb” (Valor Econômico), assim como o editorial “Visão do Correio: O Fundeb tem pressa” (Correio Braziliense).