Aplicação do Enem em meio ao avanço da segunda onda de Covid-19 dominou cobertura em janeiro

No mês de janeiro, aproximadamente metade dos clippings contidos na amostra de 295 inserções republicadas pelo Observatório de Educação do Instituto Unibanco enfocava o Enem 2020. A avaliação é a principal porta de entrada para as universidades públicas e privadas no Brasil e atraiu, nesta última edição, 5,5 milhões de inscritos.

Além do Enem, outros tópicos que tiveram grande visibilidade na cobertura de educação foram, por ordem de importância, a possibilidade de retorno às aulas presenciais e abordagens centradas na desigualdade educacional – tudo isso trazendo, como pano de fundo, o avanço da segunda onda da pandemia do novo coronavírus. Os três assuntos serão decupados mais adiante.

A tabulação dos textos reproduzidos pela seção Radar de Imprensa em janeiro indicou que 83,1% das produções saíram em jornais/portais da grande imprensa; 8,8% em revistas/portais da grande imprensa; 5,8% na imprensa especializada em educação e 2,4% em portais de organizações sociais (gráfico 1). No recorte dos jornais/portais da grande imprensa (gráfico 2), os veículos que publicaram mais inserções foram o UOL (18,8% clippings nesta categoria), O Estado de S.Paulo (16,7%) e O Globo (16,3%).

Gráfico 1 – Inserções por tipo de veículo

Fonte: análise de clipping Radar de Imprensa.

Gráfico 2 – Inserções em jornais/portais da grande imprensa

Fonte: análise de clipping Radar de Imprensa.

A grande prova do ensino médio

Em razão da pandemia de Covid-19, o Enem 2020 foi postergado de novembro de 2020 para o início de 2021. A versão impressa do exame foi aplicada nos dias 17 e 24 de janeiro, enquanto a versão digital – que fez sua estreia na avaliação neste ano – ficou para os dias 31 de janeiro e 7 de fevereiro.

O adiamento havia sido definido em maio de 2020, dois meses depois de os estados e municípios adotarem o fechamento das escolas como medida para conter o avanço do novo coronavírus. Na época, o assunto também repercutiu fortemente na imprensa. Os sistemas escolares ainda faziam a migração para o ensino remoto e muitos alunos, sobretudo os mais pobres, estavam em situação de grande prejuízo, sem acesso à internet para participar das aulas e desprovidos de condições adequadas para o estudo em casa.

O adiamento visava reduzir a situação de desigualdade educacional exacerbada com a pandemia e se fiava na aposta de que a Covid-19 seria controlada no decorrer de 2020. O Brasil ainda subia a primeira curva de casos da doença quando as menções a uma eventual segunda onda, atrelada ao inverno no hemisfério Norte, começaram a surgir.

O fato é que, no Brasil, a primeira onda de Covid-19 se misturou à segunda e os concluintes do ensino médio – candidatos por excelência ao Enem – passaram praticamente o ano de 2020 inteiro fora da escola.  As datas postergadas da avaliação chegaram junto com o recrudescimento dos contágios pela doença, o colapso do sistema de saúde de Manaus (AM) e a propagação das mutações do novo coronavírus pelo Brasil e pelo mundo.

Sob a influência deste cenário complexo, a cobertura do Enem 2020 se traduziu num leque robusto de notícias, que partiam da agenda de realização do exame e dali seguiam diferentes abordagens, conforme o desenrolar dos fatos – da orientação mais trivial sobre os locais da prova à judicialização da iniciativa.

A lista a seguir sintetiza com exemplos as abordagens do que se viu na imprensa sobre o Enem 2020, que concentrou quase toda a cobertura sobre o ensino médio no mês.

Serviço 
Preparação para a prova
Saúde mental
Equidade
Fator Covid
Novo adiamento
Judicialização
Questões da prova
Abstenção
Futuro do Enem

Quanto às fontes consultadas para a cobertura, os estudantes, sujeitos principais na dinâmica do exame, foram bastante ouvidos, assim como os porta-vozes oficiais da organização da prova – notadamente Alexandre Lopes, na posição de presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), e, em segundo lugar, o ministro da Educação, Milton Ribeiro. O defensor público João Paulo Dorini, responsável pelo pedido de adiamento do Enem à Justiça Federal de São Paulo, também foi fonte recorrente.


Diferentes visões sobre a volta às aulas

Intrinsecamente ligado aos reflexos da pandemia sobre a educação, o assunto da volta às aulas presenciais sobressaiu na amostra de clippings do Radar de Imprensa em discussões sobre quando, como e onde se dará a reabertura das escolas. Logo no início do mês, o Correio Braziliense publicou em tom otimista a grande reportagem “Pais e escolas começam preparativos” (06/01).

Nos dias que se seguiram, ao longo de janeiro, a imprensa ecoou diretrizes anunciadas em grandes redes de ensino, como as do Rio e de São Paulo, para a retomada das aulas presenciais. Em 27/01, uma matéria de mais de quatro minutos, produzida para o Jornal Nacional e replicada pelo G1, trouxe um panorama sobre o tema: “Estados definem volta às aulas, mas não determinam datas”.

Em 28/01, O Estado de S.Paulo publicou uma entrevista exclusiva concedida por Fernando Padula, recém-empossado secretário municipal de Educação de São Paulo. Em seu depoimento, o gestor reforçou o mantra de que a “escola deve ser a última a fechar e a primeira a ser reaberta”.

Todavia, a falta de protocolos de segurança e vacinas contra a Covid-19 para imunizar os professores suscitou reações contrárias à retomada das aulas presenciais, repercutidas pela revista Carta Capital em duas inserções também em 28/01: a matéria “Professores marcam carreata em São Paulo contra as aulas presenciais” e o artigo “UNE: A volta às aulas é urgente. Precisamos vacinar os profissionais da educação”, assinado pelo presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão. Em reforço, em 31/01, saiu em O Globo: “Professores da rede municipal do Rio entram em greve contra aulas presenciais”.

Vale mencionar que o imbróglio da volta às aulas foi alvo de um editorial do Estadão já nos primeiros dias do ano. Ao se posicionar contra uma eventual greve de professores, o jornal escreveu que, “num período de enormes dificuldades como o atual, ao se recusar a aceitar sua cota de sacrifícios e recorrer à greve para inviabilizar o início do ano letivo, o professorado perde a oportunidade de dar uma lição de civilidade aos seus alunos e à própria sociedade”. O texto “A ameaça de greve do professorado” pode ser lido aqui.

É comum os temas da equidade e da desigualdade educacional receberem tratamento transversal na pauta educacional, sobretudo no retrato da educação durante a pandemia. Isso se repetiu em larga escala na cobertura de janeiro, mas, como já mencionado, houve casos em que desnudar e combater a desigualdade esteve no centro da pauta.

Nessa linha, merece destaque a divulgação de dois estudos que funcionaram como gancho para que O Globo retomasse o problema da exclusão digital e seus reflexos sobre a educação: um levantamento sobre acesso à internet realizado pelo Instituto de Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS) e o Censo Escolar 2020. O resultado da apuração pode ser conferido em “Falta de acesso à internet cresce na pandemia e agrava desigualdade” (25/01), “‘Internet é um direito fundamental’, diz diretora do Observatório de Favelas” (25/01) e “Apenas 35,6% das escolas de ensino fundamental têm internet para alunos, aponta Censo Escolar” (29/01).

Na mesma toada, em 6 de janeiro, O Estado de S.Paulo resgatou em editorial a última análise que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) fez do Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês). Em “Digitalização e equidade no ensino”, o jornal defendeu a alfabetização digital, o amplo acesso à internet nas escolas e a formação de professores para que o uso da tecnologia resulte em maior qualidade do ensino.