Análise de Imprensa - Dezembro de 2021
Cesta de pautas em dezembro teve crise na Capes, MP do Prouni, evasão escolar e outros assuntos
A amostra de clipping extraída pelo Radar de Imprensa do Observatório de Educação em dezembro constou de 169 inserções, composta em 78,7% por textos informativos (notas, notícias, entrevistas pingue-pongue, especiais e grandes reportagens) e em 21,3% por textos opinativos (artigos e editoriais). No leque dos temas estudados, o destaque ficou para as pautas voltadas à estrutura organizacional e às políticas públicas, que perfizeram 69,2% da amostra.
Os principais ganchos de reportagem no campo das políticas públicas foram a renúncia coletiva de colaboradores na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a edição, pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), da Medida Provisória (MP) que ampliou o acesso de egressos de escolas privadas ao Programa Universidade para Todos, o Prouni.
Tipo de cobertura
169 respostas
Fonte: Análise de clipping Radar de Imprensa
Presença de temas de interesse do Observatório de Educação
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Fonte: Análise de clipping Radar de Imprensa
Uma parte da cobertura sobre a crise na Capes e a MP do Prouni tratou de abordar tais assuntos com lentes mais amplas e por todos os seus ângulos. Assim, também se verificou grande incidência no clipping dos temas equidade (presente em 34,3% da amostra), avaliação (28,4%) e outras modalidades e níveis de ensino (23,1%).
Capes e Prouni – qualidade e equidade
Na esteira do que ocorreu no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em novembro, quando um grupo de lideranças pediu exoneração por desacordo com as práticas de gestão do órgão (leia sobre a posição recente do governo federal aqui), uma onda de renúncias de cargos ganhou força na Capes em dezembro. Tanto o Inep quanto a Capes são instituições vinculadas ao Ministério da Educação (MEC).
Mais de cem pesquisadores convocados para trabalhos na Capes abriram mão de suas funções nos últimos dois meses de 2021, após divulgarem críticas à atual gestão do organismo. Eles reportaram dificuldade e falta de apoio para exercer suas tarefas de avaliação periódica da qualidade dos cursos de mestrado e doutorado, além da escassez de recursos para financiar bolsas de pós-graduação.
Em análise para a Folha de S.Paulo, a pesquisadora Sabine Righetti escreveu: “É inaceitável que as duas instituições federais responsáveis pela avaliação de sistemas de educação do país – Capes e Inep – estejam colapsando concomitantemente sob o guarda-chuva do MEC. Avaliações educacionais podem revelar realidades desagradáveis. É preciso analisá-las no lugar de mudar a métrica ou silenciar os resultados”.
Quanto ao Prouni – iniciativa do governo federal criada em 2004 para conceder bolsas de estudo para alunos de baixa renda em instituições privadas de ensino superior –, a extensão do programa a estudantes não bolsistas do ensino médio privado foi bastante criticada na imprensa por especialistas em educação. Ainda que os critérios econômicos de quem pode acessar o benefício sigam sendo os mesmos (alunos com renda familiar per capita de até três salários mínimos), houve alegações de que as mudanças ferem o propósito de inclusão educacional que embasou o programa e de que elas servem apenas aos interesses comerciais das universidades privadas.
Em nota oficial, a Secretaria-Geral da Presidência da República informou que as alterações visaram “ampliar as políticas de inclusão na educação superior, diminuindo a ociosidade na ocupação de vagas antes disponibilizadas, e promover o incremento de mecanismos de controle e integridade e a desburocratrização”. Conforme publicado no Diário Oficial da União, as novas regras começarão a valer a partir de 1º de julho de 2022. Para ser transformada em lei, a MP depende da aprovação da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
Nos exemplos a seguir, uma síntese da cobertura:
- Primeiríssimas notícias (inserções essencialmente informativas): “Bolsonaro amplia acesso de alunos de escolas privadas ao Prouni” (Folha de S.Paulo, 06/12), “Presidente altera legislação do Programa Universidade para Todos” (Agência Brasil, 07/12) e “Prouni passará a aceitar estudantes de escola privada sem bolsa integral” (UOL, 07/12).
- Repercussões contra e a favor da MP: “Prouni para alunos de escolas particulares: ampliação de desigualdades ou inclusão de mais jovens na universidade?” (G1, 07/12), “Bolsonaro ‘começa a destruir Prouni’, diz Haddad, após presidente editar MP” (UOL, 07/12), “Especialista vê ‘lobby’ de universidades privadas em decisão de Bolsonaro de mudar as regras do Prouni” (O Globo, 07/12), “Novas regras do Prouni buscam ocupar vagas ociosas – mas isso não vai acontecer” (Carta Capital, 16/12), “Passando a boiada na educação superior” (Folha de S.Paulo, 16/12) e “Um entendimento equivocado” (Folha de S.Paulo, 21/12).
Evasão, conectividade e educação inclusiva
A perspectiva da equidade educacional também sobressaiu em pautas sobre o aumento da evasão escolar devido ao longo período de fechamento das escolas por causa da Covid-19. Com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um estudo realizado pelo movimento Todos pela Educação e lançado nacionalmente em 2 de dezembro dimensionou o problema: “Com pandemia, número de crianças e adolescentes fora da escola aumenta 171%” (O Estado de S.Paulo).
A divulgação do Todos pela Educação repercutiu em vários veículos: “Brasil tem a maior proporção de crianças de 6 a 14 anos fora da escola dos últimos seis anos, diz levantamento” (O Globo), “244 mil alunos de 6 a 14 anos estão fora das escolas no país, diz estudo” (UOL), “Levantamento comprova as consequências devastadoras da pandemia para a vida escolar de crianças e adolescentes” (G1) e “Brasil alcança maior taxa de crianças e jovens fora da escola” (Porvir).
Em outra vertente, dados da última Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, apresentada publicamente em 3 de dezembro, apontaram que “menos da metade (48,6%) dos estudantes entre 15 a 17 anos da rede pública tiveram acesso simultâneo a internet e computador contra 90,5% na rede privada no país em 2019, o que significa que os alunos entraram na pandemia com realidades bastante distintas” (O Globo). A mesma pauta foi tratada em uma reportagem recheada de infográficos por O Estado de S.Paulo em “Pandemia agravou desigualdades na educação, entre rede pública e privada e entre pobres e ricos”:
“Além de terem tido muito menos aulas (presenciais ou remotas) durante a pandemia, os alunos mais pobres ainda enfrentaram as mais diversas dificuldades estruturais – que foram desde a falta de internet e computadores para estudarem a distância até a ausência de água e sabão nas escolas para higienizar as mãos. Segundo o IBGE, a pandemia representou a maior adversidade já enfrentada pelo ensino básico brasileiro”.
(O Estado de S.Paulo, 03/12)
No dia 3 de dezembro se celebra o Dia Mundial da Pessoa com Deficiência. Neste sentido, no tema da inclusão, o portal Centro de Referências em Educação Integral publicou a matéria “Instituto Rodrigo Mendes lança pesquisa sobre tecnologias digitais e inclusão” (09/12), sobre um estudo lançado em fins de novembro em parceria com o Instituto Unibanco. O estudo se chama “Tecnologias digitais aplicadas à educação inclusiva” e pode ser conferido aqui. Já a Folha de S.Paulo veiculou um pacote de matérias em torno do webinar Somos Plurais, realizado em 7 de dezembro. Eis alguns dos clippings publicados pela Folha:
- “Acessibilidade precisa contemplar todas as deficiências, dizem debatedores” (09/12).
- “Capacitismo está na linguagem e em ‘histórias de superação’” (09/12).
- “Convívio plural desde a infância é essencial no combate ao capacitismo” (09/12).
- “Decreto ameaça integração de estudantes com deficiências” (10/12).
- “Escolas inclusivas beneficiam não só alunos com limitações, mas toda a turma” (10/12).
- “Educação inclusiva depende de transformação na formação de professores” (10/12).
A chegada do novo ensino médio e mais notícias do Enem
O início da implementação do novo ensino médio em 2022 suscitou o aumento do clipping a este respeito em dezembro. A pauta tende a ser bastante explorada ao longo dos próximos meses na medida em que a sociedade constrói entendimento sobre o novo ensino médio. A amostra estudada pelo Radar de Imprensa registrou as seguintes inserções:
- “Reforma do ensino médio pode diminuir a evasão escolar” (Folha de S.Paulo, 03/12).
- “O que é o novo ensino médio? Saiba mais sobre as mudanças no currículo” (G1, 04/12).
- “Matérias do novo ensino médio vão de fabricação de queijo a perícia criminal” (Folha de S.Paulo, 05/12).
- “Desafios do novo ensino médio” (Folha de S.Paulo, 09/12).
- “Novo Ensino Médio: veja como está a implementação em todas as redes estaduais do país” (Nova Escola, 15/12).
- “Estamos preparados para o Novo Ensino Médio em 2022?” (Nova Escola, 15/12).
- “MEC lança painel para monitorar implementação do novo ensino médio” (Agência Brasil, 16/12).
- “Fundação Telefônica Vivo leva curso de ciência de dados para escolas públicas” (Observatório do Terceiro Setor, 27/12).
Ainda em dezembro, a cobertura do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) seguiu com os registros esperados de acompanhamento da avaliação – notícias sobre anulamento de questão, reaplicação da prova, desempenho dos alunos na redação e locais da prova em janeiro.
Três inserções sobre o Enem saltaram aos olhos: o furo de reportagem “Exclusivo: Enem terá duas fases, provas por área e questões dissertativas” (Veja, 07/12), sobre o futuro da avaliação; a nota sobre suposto ato de corrupção “PF investiga denúncia de superfaturamento na impressão das provas do Enem de 2010 a 2019” (G1, 07/12); e “Prova do Enem terá a nossa cara a partir da próxima, diz Bolsonaro” (Carta Capital, 08/12), com mais uma manifestação do presidente da República sobre seu desejo de interferir na