Análise de Imprensa - Outubro de 2021
Clipping de outubro enaltece figura do professor, noticia a volta às aulas e debate como desigualdades
Outubro, no Brasil, é o mês da criança e do professor e a cobertura sobre educação honrou esta tradição. No amplo leque de pautas abraçadas, perto de 15% do clipping analisado teve como mote a celebração desses dois atores centrais da relação ensino-aprendizagem. A amostra de outubro abrangeu 169 textos informativos e opinativos selecionados pela curadoria do Radar de Imprensa.
Entre as duas efemérides, o Dia do Professor (15 de outubro) foi mais lembrado do que o Dia da Criança (12 de outubro). As inserções começaram a ser publicadas em 10 de outubro e seguiram até o fim do mês. As abordagens foram diversificadas, como se nota nos exemplos a seguir:
- Na coluna “Viva a criança e o mestre”, em O Estado de S.Paulo (10/11), Rosely Sayão discorreu sobre a solidão que acomete professores e alunos nos tempos atuais.
- Em “Dia dos professores: reflexões de uma educadora sobre a profissão”, o portal Nova Escola (11/10) trouxe o depoimento de uma educadora em primeira pessoa.
- No artigo “O discurso e a prática na Educação; leia análise”, na Folha de S.Paulo (15/10), Daniel de Bonis, dirigente da Fundação Lemann, tratou do compromisso do professor vocacionado e dos desafios para o desenvolvimento profissional da categoria.
- Em “Dia dos professores: veja ranking com média salarial oferecida em cada estado”, o G1 (15/10) divulgou dados de uma nova pesquisa; em “No Dia do Professor, docente conta como enfrentou a sua lição mais difícil: ‘ter Covid-19 duas vezes’”, o site contou a história de uma docente enfrentando sequelas da Covid-19.
- Em “Famílias valorizam mais os professores depois da pandemia”, a revista Educação (15/10) trouxe dados que demonstram maior apreço e respeito aos docentes após a chegada do ensino remoto.
- Em “Criatividade e paciência são fundamentais na educação infantil”, a Agência Brasil (15/10) ressaltou aspectos de devoção na profissão.
- Por fim, em 28/10, o UOL reproduziu o artigo “Precisamos escutar nossos professores e professoras”, de Ynaê Lopes dos Santos, sobre o sucateamento da educação no Brasil.
Com a palavra, o professor
Várias reportagens abriram espaço para relatos de experiência dos educadores, como fez o UOL em “Dia das Professoras: histórias sobre o ofício que movimenta o conhecimento” (15/10). Ou o G1, que apresentou a trajetória de uma profissional da educação especial em “Professora inspira aluna com deficiência visual a seguir a mesma profissão: ‘Meus alunos têm direito a tudo’” (15/10).
Assim, entre os clippings do mês que trouxeram ao menos um porta-voz (98 respostas), 29,6% exibiram a fala dos professores. Foi o maior percentual do ano para este tipo de indicador, representando quase o dobro da média de 15% aferida entre janeiro e setembro de 2021. Os professores foram o segundo tipo de porta-voz mais consultado no mês, atrás dos ativistas e representantes de ONGs/organizações sociais.
Tipos de porta-vozes consultados
98 respostas
Fonte: Análise de clipping Radar de Imprensa
Do ponto de vista das narrativas contadas pelo clipping de outubro, o professor esteve entre os protagonistas da educação em 84,6% dos casos, o que também é um marcador elevado no histórico do ano. E, em 17,8% das situações, ele foi retratado como parte da solução do assunto central discutido, o que foi um recorde em 2021. Em 66,3% das inserções, sua figura foi percebida tanto como parte representante da solução quanto do problema do fato jornalístico em questão.
Fonte: Análise de clipping Radar de Imprensa
Pandemia e desigualdade
Houve outros focos de atenção na fotografia do clipping de outubro, além desse dos professores. A cobertura sobre educação na pandemia ganhou fôlego com matérias em quatro frentes:
- Volta às aulas presenciais – Com o avanço da vacinação de adolescentes, o movimento de reabertura das escolas começou a engrenar: “Aulas presenciais voltam a ser obrigatórias para 100% dos alunos em SP a partir de segunda-feira” (G1, 13/10); “Volta às aulas presenciais é considerada adequada por especialistas” (UOL, 14/10); “Nove estados liberam retorno das aulas presenciais para todos os alunos; veja situação do país” (G1, 14/10); e “Alunos negros e pobres são os mais afetados com escolas que ainda não reabriram” (Folha de S.Paulo, 21/10).
- Questões socioemocionais – O retorno à escola, depois de 18 meses de aulas remotas, gerou sentimentos misturados nos estudantes e a necessidade de readaptá-los: “Carga emocional e dispersão marcam a volta dos alunos ao ensino presencial” (O Estado de S.Paulo, 04/10); e “Reabertura de escolas volta a motivar alunos” (Veja, 22/10); “Como preparar crianças e adolescentes para a volta às aulas presenciais” (G1, 14/10); e “De apoio psicológico a aspectos do prédio, novos fatores afetam a escolha de escola” (O Estado de S.Paulo, 28/10).
- Saúde mental – Professores e alunos viveram com altos e baixos os efeitos da pandemia sobre a sanidade: “Saúde mental dos professores melhorou em 2021, em comparação com 2020, aponta pesquisa” (G1, 04/10); “Relatório aponta impacto na pandemia na saúde mental de adolescentes” (Agência Brasil, 04/10); e “Com melhora na pandemia, estudantes focam em diminuir ansiedade para Enem” (UOL, 27/10).
- Evasão escolar – A escola reabriu, mas os riscos de abandono da escola continuam preocupantes, sobretudo entre as crianças com falta de acesso ao ensino remoto: “Busca ativa: ações para garantir que nenhuma criança ou jovem fique para trás” (Nova Escola, 06/10); “De guarda-roupa novo a bolsa de estudos, escolas públicas de todo o país oferecem atrativos para resgatar alunos” (O Globo, 07/10); e “Aulas presenciais são necessárias para conter evasão, defende Priscila Cruz” (UOL, 13/10).
A preocupação com a equidade em tempos de Covid-19 embasou, ainda, artigos como “Mais desigualdade: como seria se a aula nunca mais voltasse ao presencial”, do repórter Rodrigo Lara (UOL, 26/10), e “Crianças mais pobres pagarão a maior conta da pandemia”, assinado pela economista Ana Carla Abrão (O Estado de S.Paulo, 05/10). Neste segundo exemplo, Carla analisou um estudo recente, realizado pelos economistas Angus Deaton (Universidade de Princeton/Estados Unidos), laureado com o prêmio Nobel, e Ricardo Paes de Barros (Insper/Brasil), sobre as assimetrias provocados pela pandemia.
No caso do Brasil, o estudo concluiu que as perdas de aprendizagem decorrentes do período de fechamento das escolas – um recorde mundial de 178 dias – poderão resultar numa redução da renda futura da ordem de 9% do Produto Interno Bruto (PIB) para a atual geração de crianças e adolescentes. As crianças negras, pobres, moradoras da zona rural e filhas de pais com baixa escolaridade tendem a ser as mais afetadas.
Combate ao racismo e à pobreza
A questão racial permeou o clipping também em inserções como “A escola expulsa os meninos negros e os empurra para as cadeias” (Carta Capital, 01/10), “Clarissa e uma reflexão sobre a infância negra: ‘É hora de falar’” (UOL, 09/10), “Rede de professores contra o racismo já reúne 3.500 mestres que debatem o tema nas escolas” (O Globo, 17/10) e “Gestão escolar: a urgência do debate por uma educação antirracista” (Nova Escola, 27/10).
Sobre o acesso ao ensino superior, começaram a aparecer matérias de balanço do programa de cotas nas universidades federais para alunos da escola pública e autodeclarados pretos, pardos, indígenas e com deficiência – a Lei no 12.711/2012. Entre os exemplos, estão “Cotas fizeram negros saírem das páginas policiais e virarem colunistas, diz reitor da Zumbi dos Palmares” (Folha de S.Paulo, 02/10) e “Bolsas para ajudar a entrar – e ficar – na universidade” (UOL, 19/10). A Lei no 12.711/2012 prevê que o programa de cotas seja avaliado e revisado dez anos após sua promulgação, prazo que vencerá em agosto de 2022.
Por fim, em clima de aprovação do orçamento do programa de transferência de renda Auxílio Brasil, sucedâneo do Bolsa Família, pôde-se notar um subconjunto de clippings associando educação, pobreza e focalização de políticas: “Educação dos mais pobres dispara, mas crise econômica destrói renda” (Folha de S.Paulo, 04/10); “É totalmente insensato dizer que falta dinheiro para dar aos pobres, diz Ricardo Paes de Barros” (Folha de S.Paulo, 05/10); e “Brasil: 9,1 milhões de crianças e adolescentes vivendo em situação de extrema pobreza” (O Estado de S.Paulo, 07/10).
Opinião e políticas públicas educacionais
É difícil tratar de educação sem falar de política. O tema das políticas públicas educacionais transversalizou a cobertura em outubro com abordagens diretas e indiretas, sendo o mais frequente na amostra de clipping do Radar de Imprensa para o período. O jornal O Estado de S.Paulo expressou essa tendência por meio de quatro editoriais:
- “A pandemia e as prioridades na educação” (03/10), sobre formas de sanar as perdas de aprendizado e as desigualdades aprofundadas durante o período em que as escolas ficaram fechadas.
- “Verba para quem mais precisa” (06/10), em favor da diretriz de focalização de políticas adotada pela cidade de São Paulo no Plano Plurianual (PPA) 2022-2025.
- “É hora de voltar à sala de aula” (14/10), em defesa da retomada imediata do ensino presencial também nas escolas públicas.
- “Mais problemas na área de educação” (21/10), criticando a falta de recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para pagar bolsas de formação de professores.
Ainda dentro do gênero opinativo, vale mencionar que os textos sob a forma de artigo perfizeram 26% das inserções mapeadas em outubro. Como demonstrado, eles versaram sobre valorização dos professores, pandemia, equidade, entre outros assuntos mencionados anteriormente.
Como dica extra, fica a recomendação de leitura da peça “Educação: 1.000 dias de omissão e destruição” (Folha de S.Paulo, 01/10), de autoria da deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP). O artigo reconstrói os mil dias do governo Bolsonaro – completados no último dia 27 de setembro – reproduzindo várias chamadas do noticiário da educação no período.
Registro sobre o ensino médio
A cobertura sobre a etapa do ensino médio foi modesta na amostra de outubro. Os destaques ficaram para a implementação do novo ensino médio (exemplos aqui, aqui, aqui e aqui) e para o Enem 2021. Neste último caso, falou-se sobre o silêncio do Ministério da Educação (MEC) a respeito do Enem seriado, da revisão “ideológica” do Enem, da atualização do Guia do Participante, além de dicas variadas para estudo e elaboração da