Ilustração
Desafio: O que fazer para melhorar a relação das famílias com a escola?

Arte para trabalhar pertencimento e fortalecer laços

Resumo da solução

Resumo da solução

Na Escola Estadual Professora Marieta Amorim Vieira, localizada na zona urbana do município de Buritizeiro, no norte de Minas Gerais, a Arte é a disciplina que faz a ponte com as demais áreas do conhecimento para o desenvolvimento de competências cognitivas e socioemocionais. Também é por meio dela que são abordados temas como racismo, saúde mental e o uso das tecnologias na aprendizagem, sempre com a participação protagonista dos estudantes. O sucesso das ações pedagógicas promovidas pela Arte acabou por influenciar positivamente a área de esportes da rede, criando um campeonato. Também motivou o corpo docente a trabalhar mais interdisciplinarmente. Sensação de pertencimento, melhora da autoestima e da saúde mental, diminuição da indisciplina e de conflitos foram alguns dos resultados colhidos pelo projeto.

Depoimento completo:

O projeto de Mostra de Arte foi criado e implementado, primeiramente na Escola Estadual Silvia de Alencar Zschaber, no município de Buritizeiro (MG), onde ficou ativo até 2018. Na época, vivíamos uma realidade difícil, porque a escola está inserida em um território de altíssima vulnerabilidade, com muita violência. Os estudantes eram maus vistos, justamente porque viviam ali. Indisciplina, baixa autoestima e problemas de aprendizagem eram alguns de nossos desafios que conseguimos, pouco a pouco, enfrentar. Obtivemos sucesso e fomos reconhecidos pela Secretaria de Educação do Estado no Congresso de Boas Práticas. Os bons resultados alcançados me estimularam a levar o projeto para a escola da qual hoje sou gestor.

Olhamos para nosso contexto, bem menos vulnerável, mas com pontos de atenção também, como o racismo, a indisciplina, o uso excessivo de celulares e aquele que considero o principal deles, a saúde mental dos estudantes, que está fragilizada desde a pandemia.

Com relação à tecnologia, mostramos aos professores e alunos a importância de utilizá-la para descobrir a Arte. Incentivamos o uso de celulares para pesquisas, com o objetivo de ter acesso a diferentes tipos de Arte e de artistas nas diversas partes do mundo e fases da história.

Da pesquisa, partimos para a prática, levando essas descobertas às oficinas de pintura, teatro, música, dança e performance, sempre trazendo para o contexto de nossa realidade. Saúde mental é uma das temáticas abordadas por meio de debates, leituras de obras e, a partir delas, leituras de mundo.

O respeito à diversidade, às etnias também são objetos de estudo da Arte. Os alunos pesquisam manifestações nas diferentes linguagens artísticas, que retratem o assunto em culturas diversas, fazendo uma nova interpretação de seus achados.

Trabalhamos a cultura regional para fortalecer nossa identidade e autoestima, muito pautadas no Rio São Francisco e no que ele oferece para a criação artística, com matéria prima (argila) e com costumes e história (pesca e lavoura), por exemplo. Apropriados desse contexto, os alunos podem comparar e descobrir outras identidades culturais.

Toda essa produção conta com a participação do corpo docente. Cada disciplina lança mão da Arte para trabalhar conceitos próprios, olhando para o aluno de forma integral.

Temos, no final do ano, a Mostra de Arte onde os estudantes apresentam à comunidade o que produziram. Durante três dias a escola abre as portas e recebe cerca de cinco mil pessoas. Essa iniciativa é uma estratégia importante para estreitar vínculos com as famílias e a comunidade. Pais, mães e responsáveis acompanham os aprendizados de seus filhos e suas filhas, durante o ano todo. Não tem uma casa na cidade, onde more um aluno, que a arte não esteja contemplada de alguma forma. E a Mostra é o cume desse trabalho que as famílias prestigiam, orgulhosas.

A Mostra é inteiramente organizada pelos estudantes, com o apoio dos docentes, e esse processo, do começo ao fim, ajuda-os a se conhecerem, conhecerem seus pares e a comunidade. Eles começam a estruturar e protagonizar seus projetos de vida. E toda essa aprendizagem é construída, também, por meio de outros três projetos: Xadrez Humano, Feira Literária e Jogos Escolares de Minas Gerais (JEMG).

 No Xadrez Humano, as peças e quem as manipulam são os alunos. É um momento de muito silêncio e reflexão sobre questões voltadas ao papel de cada um, o que isso impacta no todo e como encontrar soluções para desafios. É quando, também, eles desenvolvem habilidades matemáticas, como o raciocínio lógico e estratégico.

A Feira Literária é a concretização de um trabalho de resgate das obras clássicas, por meio da leitura, de debates para, depois, transformá-las em teatro, música e demais manifestações artísticas pautadas na realidade atual, para que usem não só os conhecimentos da língua portuguesa, mas, também, aprendam a ser cidadãos críticos e proativos.

Por fim, temos os Jogos Escolares de Minas Gerais (JEMG), que reúnem os estudantes para a prática da competição esportiva, desde futebol e handball até peteca e xadrez. O objetivo dos jogos é levantar questões sobre o que significa perder, ganhar, a importância da socialização, da disciplina, sempre relacionadas às vivências cotidianas. Este projeto recebeu muita influência do projeto de Arte, por também ser um espaço capaz de ampliar as discussões e levar soluções que ajudem os estudantes a resolverem desafios, conflitos e fortalecerem sua saúde emocional.

Os resultados desse trabalho são participação ativa das famílias no desenvolvimento de seus filhos e suas filhas; melhora significativa da disciplina e maior contenção de conflitos, inclusive relacionados a preconceitos, especialmente o racismo; melhor resultado da aprendizagem; senso de pertencimento e autoestima fortalecidos; um olhar crítico e estético qualificado; maior protagonismo e autonomia dos estudantes.

 


Depoimento por: Fabrício Mota dos Santos (gestor escolar)
Instituição: Escola Estadual Professora Marieta Morim Vieira, Buritizeiro (MG))

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