Análise de Imprensa - Especial Ideb - Setembro de 2020
Como a imprensa monitorada pelo Observatório de Educação cobriu os resultados do principal índice de qualidade da educação brasileira?
A divulgação dos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é um momento importante na cobertura de educação no Brasil. Reeditado a cada dois anos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o instrumento opera como o principal meio de monitorar a qualidade da educação básica no país. No último dia 15 de setembro, ocorreu o lançamento do Ideb 2019, o oitavo de uma série histórica que começou a ser compilada em 2005.
A cobertura do Ideb gera sempre intensa produção de matérias e análises na imprensa. Em grandes linhas, os resultados da avaliação são escrutinados do nacional ao local, do amplo ao específico, com direito a uma enormidade de comparações entre estados, municípios, redes e escolas. Em setembro, a seção Radar de Imprensa do Observatório de Educação publicou 26 clippings abordando o Ideb. Este texto faz um compilado deste extrato.
A clipagem do Ideb foi pinçada de uma amostra de 227 peças jornalísticas – notas, matérias, reportagens, entrevistas pingue-pongue, artigos, análises e editoriais – produzidas por veículos monitorados pelo Observatório de Educação. A seleção contou com clippings da Agência Brasil, Carta Capital, Blogs do Estadão, Correio Braziliense, Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, G1, O Globo, UOL e Valor Econômico. A figura 1 caracteriza os 26 textos clipados pelo Radar de Imprensa, conforme o tipo de conteúdo produzido.
Figura 1
Ensino médio, equidade e pandemia
Entender – e cobrir – o Ideb é tarefa para iniciados: um índice que vai de 0 a 10 e é composto pela combinação de outros dois indicadores – as médias de desempenho dos estudantes em português e matemática apuradas pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e as taxas de aprovação extraídas do Censo Escolar.
A partir do resultado do Ideb, pode-se observar como evolui a qualidade da educação nas etapas do ensino fundamental (I e II) e do ensino médio, por diferentes ângulos: geográfico (município, estado/DF, região e Brasil); por dependência administrativa (redes municipal, estadual, federal e privada); conforme o tipo de rede (pública e privada); e ao nível de cada escola.
Na manhã de 15 de setembro, tão logo caiu o embargo do Inep sobre a divulgação dos resultados, começaram a ser publicadas nos grandes veículos as reportagens sobre o Ideb 2019. A etapa do ensino médio foi a que apresentou maior evolução desde o Ideb 2017, subindo de 3,8 para 4,2, um resultado a ser celebrado, porém ainda distante da meta esperada de 5,0.
Devido à complexidade já mencionada, a cobertura do Ideb exige um componente de didatismo nos textos – um esforço adicional para que se possa traduzir ao grande público, a cada dois anos, o conceito e o sentido deste indicador. Assim, o Estado de S.Paulo compareceu com um pacote de matérias puxado pela boa notícia do ensino médio e apoiado pela nota explicativa “Saiba o que é o Ideb, índice que mede a qualidade da educação no Brasil”.
A Folha de S.Paulo também saiu com um pacote de matérias e optou por destacar a perspectiva da equidade: “Apesar de avanços, abismo entre estados equivale a três anos de aprendizado”, escreveu em um dos textos. A revista Carta Capital seguiu a mesma linha com “Ideb aponta desigualdade na educação entre regiões do País”.
A cobertura do UOL, por sua vez, apresentou um balanço dos resultados e caprichou na infografia. A matéria “Avaliação do ensino médio brasileiro melhora, mas segue distante da meta” trouxe gráficos e mapas com o recurso de visualização de dados complementares. No dia seguinte à divulgação dos resultados, o portal publicou uma matéria aprofundando o tema pela visão de especialistas.
Ainda no campo da reportagem, alguns veículos diversificaram a cobertura, contextualizando-a com a realidade da pandemia. Foi o caso de O Globo com “Ideb: avanço histórico pode dar lugar a retrocesso com suspensão das aulas por Covid-19” e da Folha de S.Paulo com “Avanço no Ideb pode ser perdido com a pandemia, avaliam especialistas”.
Outras camadas de discussão
Entre os gêneros opinativos, já no fim do dia da divulgação dos resultados saiu o primeiro de sete artigos sobre o Ideb 2019 capturados pelo clipping do Radar de Imprensa em setembro. Na Folha de S.Paulo, os técnicos Camila Pereira e Daniel De Bonis, da Fundação Lemann, afirmaram: “Aos dez anos, 40% dos estudantes ainda não têm proficiência adequada em leitura e escrita. Ao final do ensino médio, só 37% aprenderam o esperado em língua portuguesa; só 10%, em matemática. Foi nesse duro cenário que a pandemia chegou”.
A dupla seguiu seu raciocínio pontuando que “o coronavírus pode vir a intensificar nossos problemas – baixa proficiência, alta evasão, inaceitável desigualdade – mas eles não são novos. E a crise atual não nos permite outra postura senão encará-los e recomeçar melhor”.
Em editorial veiculado no dia 19 de setembro, o Estadão fez uma leitura transversal dos resultados da avaliação e soltou um veredito: “Os números do Ideb de 2019 revelam, assim, o alto preço que o País está pagando pelo modo equivocado e ineficiente como a educação básica – que é vital para a redução das desigualdades sociais – vem sendo conduzida há duas décadas. Também deixam claro como tem sido negada às novas gerações a formação escolar de que elas necessitam para se emancipar social e profissionalmente”.
Já no posicionamento “Marshall no ensino”, a Folha de S.Paulo recomendou, à luz dos resultados do Ideb, uma mobilização nacional com o espírito de reconstrução do pós-guerra europeu, “para salvar essa geração de estudantes do atraso para onde ruma pela contingência e pela falta de coragem política de abreviar ao máximo o tempo fora da escola”.
Diferentes visões
Relevante e complexa, a cobertura do Ideb pede uma apuração mais elaborada. A figura 2 mapeia o número de fontes consultadas no conjunto de clippings republicados pelo Radar de Imprensa.
Figura 2
Representantes do Poder Executivo e de organizações da sociedade civil foram os porta-vozes mais frequentes nas matérias. No Poder Executivo, destacaram-se como fontes o ministro da Educação, Milton Ribeiro, que apresentou os resultados da avaliação em coletiva de imprensa, e o presidente do Inep, Alexandre Lopes.
Nas organizações da sociedade civil, a cobertura priorizou repercutir os resultados do Ideb com lideranças de ONGs e fundações/institutos empresariais, sobretudo aqueles com atuação no campo do ensino médio.
Nessa última frente, sobressaíram as visões de Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco, Ana Paula Pereira, diretora-presidente do Instituto Sonho Grande, e David Saad, diretor-presidente do Instituto Natura. Entre as ONGs, despontaram a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, nas vozes da coordenadora Andressa Pellanda e da assessora de políticas educacionais Ana Helena Rodrigues, e o movimento Todos pela Educação, com a presidente executiva Priscila Cruz e o diretor de políticas educacionais Olavo Nogueira Filho.
Nos bastidores da notícia
Cobrir o Ideb exige preparação e que cada um faça a sua parte. O Inep publicou o aviso de pauta no dia 10 de setembro, convidando os jornalistas interessados para uma coletiva presencial e on-line na manhã de 15 de setembro. Um press kit e um resumo técnico foram distribuídos. Na tarde do dia anterior, os resultados do Ideb foram enviados com embargo aos profissionais da imprensa que os solicitaram.
A Jeduca – Associação de Jornalistas de Educação apoiou de diversas formas os membros da organização: informando sobre a divulgação do dia 15 ainda no início de setembro; distribuindo um extenso material de preparação à cobertura na semana anterior; reforçando os cuidados necessários com as informações embargadas; resumindo os destaques da avaliação; e indicando textos técnicos complementares, entre outras ações.
Algumas organizações sociais com atuação no ensino público disponibilizaram apoio aos jornalistas também. O Instituto Unibanco elaborou um dossiê com foco no ensino médio, comparando dados sobre a avaliação desde 2010, e lançou a plataforma on-line Ideb 2019; o movimento Todos pela Educação preparou 28 documentos com informações aprofundadas sobre a qualidade da educação no Brasil e nas 27 unidades federativas; e o Insper incorporou os dados do Ideb 2019 ao site Raio-X dos Municípios, com indicadores nas áreas de educação, habitação, meio ambiente, mobilidade, saúde e segurança.