Inserções de clipping sobre educação em julho trazem luz ao fim do túnel: chegou a hora da reconstrução

Em julho, dia após dia, as editorias de Geral da imprensa brasileira produziram matérias sobre o avanço da campanha de vacinação contra a Covid-19, que se acelerou ao longo do mês. Elas também acompanharam a queda significativa no número de novos casos diários da doença, depois dos recordes de contágio registrados em junho.

Embora em ritmo aquém do esperado – para um país que se notabilizou pelo longo período de escolas fechadas –, a vacinação de professores e profissionais da educação progrediu. E, ao mesmo tempo, alguns secretários de Saúde começaram a mencionar a inclusão das crianças e dos adolescentes de 12 a 17 anos como público-alvo de seus planos estaduais de imunização.

Todos estes elementos de contexto influenciaram a cobertura da educação em julho. Assim, o que mais se viu no clipping selecionado pela curadoria do Radar de Imprensa no período foram debates equilibrados e produtivos, calcados em dados e evidências, sobre a urgência de reconstituir o direito à aprendizagem aos alunos da educação básica e da educação superior.

A análise de clipping do Radar de Imprensa trabalhou, em julho, com uma amostra de 172 inserções, das quais 80,2% tiveram origem em jornais/portais da grande imprensa. Os veículos com maior presença no clipping analisado foram o UOL (23,2% das inserções), o G1 (29,6%) e a Folha de S.Paulo (15,2%). Vale lembrar que, além de produzir conteúdo, o UOL também republica notícias de terceiros.

Fonte: Análise de clipping Radar de Imprensa.

 

Emergência educacional versus emergência sanitária

Alguns estados brasileiros estiveram com as escolas funcionando em julho, alguns as utilizaram como espaço para reforço escolar, mas a maioria manteve as portas fechadas, como informou uma matéria do G1 no dia 21 de julho: “Levantamento do Jornal da Globo revela que apenas 10 estados brasileiros voltaram com as aulas presenciais”.

Ao longo do mês, duas abordagens de cobertura convergiram para a ideia de que o controle paulatino da pandemia criava condições para um enfrentamento ostensivo à emergência educacional do país, após três semestres consecutivos sem aulas. A primeira delas renovou argumentos quanto à necessidade de abertura imediata das escolas:

A segunda abordagem espelhou o movimento já em curso rumo à retomada do estudo presencial, desta vez com mais alunos do que nas tentativas anteriores de reabertura das escolas:

Um artigo publicado em O Estado de S.Paulo no dia 27 de julho reforçou esta noção de momentum de volta às aulas presenciais capturada pelos veículos de imprensa. Assinado por Angela Dannemann e Mariana Luz, dirigentes da Fundação Itaú Social e da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, respectivamente, o texto “Tá na hora da escola” é parte de uma campanha encabeçada por várias organizações sociais em defesa do retorno do ensino presencial:

“A perda de vínculo, provocada pelo isolamento e pela falta de infraestrutura adequada para manter ao menos contato remoto com a escola, pode significar para boa parte das crianças mais pobres a interrupção definitiva da trajetória escolar. (...)

Os dados, os casos internacionais e o nosso contexto local gritam: as crianças e adolescentes precisam voltar à escola. A vacinação está avançando e – ainda bem – profissionais da educação têm sido priorizados. (...)

É responsabilidade de todos garantir que o retorno às aulas presenciais ocorra e é imprescindível que os gestores públicos das diferentes instâncias federativas se unam para assegurar que a reabertura seja possível nos quatro cantos do país, igualitariamente, com os protocolos de segurança sanitários necessários”.

Ainda no mesmo tema, impossível não recomendar a leitura do especial “A volta da escola”, peça jornalística multimídia assinada por Renata Cafardo, de O Estado de S.Paulo (02/07), com fotos de Tiago Queiroz e edição de Fabio Sales e Regina Elisabeth Silva. Resultado de um esforço de reportagem de seis meses, o conteúdo combina matérias, entrevista pingue-pongue, imagens, infográficos, podcasts e até um vídeo de making-of da apuração dos “desafios, medos e alegrias da reabertura de uma escola estadual na zona leste de São Paulo”. É um tipo de produção rara de se ver na imprensa brasileira hoje em dia, bem ao estilo New York Times.

 

As políticas no “breaking news”

No que se refere às políticas públicas educacionais, a cobertura das chamadas “breaking news”, ou seja, as notícias de última hora, baseadas na divulgação de atos, fatos e posicionamentos do momento, prevaleceu no clipping analisado para o Radar de Imprensa. Sobre a reabertura das escolas, ressoaram as repetidas declarações do ministro Milton Ribeiro, da pasta da Educação, em favor da volta às aulas.

Ribeiro chegou a fazer na televisão um pronunciamento à nação defendendo a proposta, o que causou estranhamento em alguns setores, já que o Ministério da Educação (MEC) nunca assumiu uma postura de coordenação nacional para resolver o problema da interrupção das aulas. São exemplos desse clipping:

Mas o tópico mais comentado na cobertura das políticas foi o da conectividade, a começar pela sanção, pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), da lei que instituiu a Política de Inovação Educação Conectada (Piec), para incentivar o uso de tecnologia nas escolas. O outro fato gerador de pautas sobre conectividade foi a ação movida junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), também pela gestão Bolsonaro, para suspender a recém-aprovada Lei no 14.172/2021. A normativa prevê a aplicação de R$ 3,5 bilhões para garantir conexão à internet, com fins educacionais, a alunos de famílias de baixa renda e professores de escolas públicas.

Amplamente noticiado pelos veículos – por exemplo, “Bolsonaro vai ao STF contra lei que garante internet na educação pública” (Carta Capital, 07/07) – , o assunto rendeu uma análise nos Blogs do Estadão pelo advogado Marcelo Válio. “A tecnologia é parte do atual processo de educação e negar acesso à internet com fins educacionais é vetar o direito constitucional da educação”, situou o especialista em artigo veiculado no dia 8 de julho.

Equidade em foco

A falta de acesso à internet tem sido um entrave para permitir a manutenção dos estudos durante a pandemia, sobretudo para os alunos pobres. Uma pesquisa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) divulgada em julho revelou novas evidências sobre isso: em 2020, apenas 6,6% das escolas públicas do Brasil forneceram acesso gratuito à internet para os alunos estudarem de forma remota durante o fechamento das escolas na pandemia de coronavírus.

O UOL investigou a percepção de alunos e pais sobre a falta de conectividade e a intenção do governo federal de barrar na Justiça a lei de oferta de internet gratuita para alunos e professores. “Saber disso me deixa triste e prejudica a educação das crianças, mesmo com toda a força-tarefa dos professores em dar continuidade aos estudos delas”, disse a auxiliar de limpeza Debora Cristina, mãe de dois filhos em idade escolar, em depoimento à reportagem. A análise de clipping do Radar de Imprensa constatou que 55,8% das inserções do mês trouxeram algum tipo de porta-voz para repercutir a pauta tratada. Destas, 17,7% ouviram estudantes e 5,2% escutaram familiares.

O rol de notícias com a retranca da equidade abrangeu, ainda, temas como a necessidade de busca ativa dos alunos para conter a evasão escolar induzida pela pandemia e a influência da pandemia sobre a mobilidade social. Em outra vertente, um conjunto de matérias enfocou a temática da equidade racial:

 

Novo ensino médio e Enem para poucos

Por fim, no dia 14 de julho, o governo federal apresentou o cronograma nacional de implementação do novo ensino médio, o que serviu de gancho para algumas matérias sobre o assunto. E, no campo das avaliações, houve o encerramento do período de inscrições para a edição 2021 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Foi alvo de muitas notícias o fato de o número de inscrições para a prova ter caído – foram 3,1 milhões de inscritos neste ano, ante 6,1 milhões no Enem 2020. A quantidade de interessados em participar da avaliação, reconhecida como a principal porta de entrada para o ensino superior gratuito no Brasil, voltou aos patamares de 2005, tendo já chegado a 8,7 milhões em 2014 e 2016.

Em depoimento à imprensa, os estudantes apontaram os percalços do longo período de ensino remoto na pandemia como uma das razões da desistência:

Fazendo nova referência à reportagem multimídia de Renata Cafardo, vale a pena reproduzir a declaração do diretor da Escola Estadual Eliza Rachel Macedo de Souza, o alagoano Aldo Florentino Alves, radicado em São Paulo há quatro décadas: “Quando você vai ao médico, consegue ter o diagnóstico em dias. Mas, na educação, a ferida demanda um tempo muito grande para cicatrizar”.