Política, polêmica e posicionamento são palavras-chave do clipping de agosto

Inserções de clipping em tom de denúncia, mas que, em muitos casos, também contemplavam a busca de soluções. Presença marcante de pautas ligadas às políticas públicas educacionais. Predominância de assuntos de abrangência nacional. Diretrizes e posições polêmicas. Em linhas gerais, este foi o retrato da cobertura da educação no Brasil em agosto, composto mediante a tabulação de 282 textos jornalísticos publicados na seção Radar de Imprensa ao longo do mês.

Na divisão de temas de interesse do Observatório de Educação, questões ligadas à estrutura organizacional e às políticas públicas foram as mais frequentes no clipping analisado. Elas apareceram em 56% da amostra, seguidas de pautas abordando modalidades e níveis de ensino (31,9%), equidade (31,2%), fatores extraescolares (30,9%, categoria em que se inserem as notícias sobre educação na pandemia) e avaliação (28,7%).

Presença de temas de interesse do Observatório de Educação

282 respostas

Fonte: Análise de clipping Radar de Imprensa

A editoria de Educação abrigou a maioria do clipping do mês (52,8%), sendo sucedida, na ordem, pela de Geral/Cidade/Cotidiano (16,7%) e a de Opinião (10,3%). As editorias de Opinião reúnem artigos que apresentam e defendem ideias e pontos de vista a partir da interpretação de fatos e dados, sem refletir, necessariamente a posição dos veículos. Além destas editorias, textos opinativos assinados também podem ser alocados livremente nas editorias temáticas dos veículos. O mês de agosto apresentou elevada incidência de artigos no clipping como um todo. Eles representaram 23% da amostra analisada, ante 20,2% na média aferida pela pesquisa do Radar de Imprensa em 2021.

Editoria

282 respostas

Fonte: Análise de clipping Radar de Imprensa

Política e discórdia

O noticiário sobre políticas públicas educacionais ostentou um desfile de assuntos controversos ao longo do mês. As pautas tiveram origem ora no desdobramento de apurações que começaram em meses anteriores, ora em novos posicionamentos oficiais do governo federal e do Ministério da Educação (MEC), como se pode observar nesta cronologia:

A força das palavras

A sequência de polêmicas não parou por aí. Ao tentar explicar por mais de uma vez as afirmações que fez em 9 de agosto, Milton Ribeiro adicionou calor ao debate, gerando novas críticas e repercussão negativa, a ponto de o MEC precisar lançar uma nota pública para reparar algumas das falas do ministro.

Assim, no papel clássico de mostrar “o outro lado”, a imprensa publicou notícias como “Em visita a Manaus, ministro da Educação diz que foi ‘mal compreendido’ sobre ‘universidade para poucos’”(G1, 13/08); “Ministro da Educação pede desculpas após dizer que há crianças com grau de deficiência em que é ‘impossível a convivência’” (G1, 19/08), “MEC pede desculpas por declaração de Milton Ribeiro sobre pessoas com deficiência”(O Globo, 19/08) e “Após fala de Ribeiro, MEC diz ter compromisso com educação especial”(UOL, 19/08).

Cada um à sua maneira, diferentes atores da sociedade responderam por meio da imprensa aos pronunciamentos de Ribeiro em agosto:

As reações dos agentes da imprensa, por sua vez, foram convergentes e podem ser conferidas nos trechos dos editoriais a seguir.

“Cada entrevista que o ministro Milton Ribeiro concede, cada pronunciamento que faz, logo se convertem em lamentáveis oportunidades para a nação constatar que suas preocupações, assim como as do antecessor de ignominiosa memória [Abraham Weintraub], passam ao largo das questões mais prementes para os milhões de crianças, jovens e adultos que dependem de políticas públicas de educação assertivas e bem implementadas para seu desenvolvimento pessoal e, como corolário, para a construção de um futuro mais auspicioso para o Brasil”.

“O ministro da Educação, Milton Ribeiro, aparece pouco. Num país em que a pandemia vai deixando um enorme rastro de destruição educacional, o responsável pela área deveria estar anunciando programas de recuperação, coordenando esforços das secretarias regionais e se desdobrando para conseguir recursos orçamentários.

Ribeiro não faz nada disso; quando ganha as manchetes, é por ter dito bobagem”.

“Milton Ribeiro manteve-se quieto por muito tempo, o suficiente para se desconfiar que o Brasil não tinha um ministro da Educação. Engano: Ribeiro ultimamente se esforça para não ficar atrás de seus péssimos antecessores na pasta, Ricardo Velez Rodrigues e o indescritível Abraham Weintraub”.

Pandemia, equidade e tecnologia

Uma pessoa que acompanha e monitora de forma consistente a cobertura da educação no Brasil poderia supor, no início de agosto, que a pauta da reabertura das escolas, após meses de isolamento social por causa da pandemia, seria dominante. Todavia, a concorrência com tantos fatos marcantes no campo da política educacional fez com que o noticiário da volta às aulas perdesse um pouco de brilho – ao menos na amostra estudada pelo Radar de Imprensa.

Ainda assim, sobretudo no início do mês, praticamente todos os veículos abriram suas páginas para dar tratamento especial ao assunto (veja exemplos aqui, aqui, aqui e aqui). Além dos protocolos sanitários, falou-se, por exemplo, de motivação dos alunos, de saúde mental e de avaliação.

A questão da equidade educacional foi abordada particularmente em pautas sobre evasão escolar, uma sequela do longo período de fechamento das escolas que precisa ser sanada, e sobre desigualdades de acesso. Ilustram o primeiro caso inserções como “Governos apostam em bolsas, merendas e até busca ativa de alunos para evitar evasão escolar” (O Globo, 02/08) e “A hemorragia da evasão escolar” (O Estado de S.Paulo, em editorial de 24/08). No tema do acesso, são emblemáticas matérias como “Pandemia acentua desigualdade de oportunidades na educação e de acesso ao ambiente escolar”(G1, 03/08) e “Mais de meio milhão de alunos no Brasil não teve aula nem a distância em 2020” (O Globo, 18/08).

Por fim, vale mencionar a presença cada vez mais certa no clipping de inserções que tomam a tecnologia como parte da vida de todos os implicados com educação na pandemia e também como parte do futuro da educação. Inserem-se nessa linha notícias como “Plataforma de educação Geekie One é material didático mais bem-avaliado do país” (Folha de S.Paulo, 05/08), “Professor encoraja alunos (e outros educadores) com áudios no WhatsApp” (UOL, 10/08) e “Tecnologia e educação midiática são ferramentas para a formação de novos leitores” (Porvir, 27/08).   

 

Sempre o Enem – ou quase sempre

No dia 4 de agosto, uma reportagem veiculada no G1 trouxe uma provocação: “Estudantes e especialistas questionam educação do ensino médio voltado quase que exclusivamente para prova do Enem”. A matéria do G1 foi curiosa porque, na análise de clipping do Radar de Imprensa, o Enem também se apresenta quase que invariavelmente como o grande foco da cobertura do ensino médio.

Nessa direção, em agosto, havia notícias sobre o número reduzido de inscritos no Enem 2021; o que pode cair no Enem; estratégias para gerir o tempo da prova; a redação do próximo Enem; a pandemia como questão do Enem – e também o Afeganistão; diversidade de inscritos no Enem 2021; a já mencionada possível terceirização da equipe que formula a prova; a aplicação da avaliação para jovens privados de liberdade; a gratuidade de inscrição a quem faltou à prova no ano passado, entre outros exemplos.

Em menor escala, porém digna de nota, a cobertura sobre a última etapa da educação básica tratou, ainda, do novo ensino médio, cujo prazo para ser implementado é 2022. Encontre, a seguir, um compilado sobre este clipping: