Passado, presente e futuro das políticas educacionais em alta na imprensa em abril

O clipping selecionado pelo Observatório de Educação para a seção Radar de Imprensa em abril mostrou que a cobertura setorial priorizou três grandes tópicos no período: políticas educacionais, assuntos relacionados ao ensino médio e educação na pandemia. A amostra totalizou 195 inserções, abrangendo textos informativos (notas, notícias, reportagens e entrevistas) e opinativos (editoriais, artigos e colunas).

No campo das políticas educacionais, a pauta mais pungente foi o recente avanço do projeto de regularização da educação domiciliar – o Projeto de Lei nº 3.179/2012 – na Câmara dos Deputados. No ensino médio, a cobertura foi diversificada, mas o noticiário sobre reclamações a um suposto erro nas notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) se destacou. Em educação na pandemia, houve um pouco de tudo: ensino remoto, volta às aulas, desigualdade de acesso, saúde mental, vacinação de professores, etc.

De acordo com a classificação de temas de interesse do Observatório de Educação, sobressaíram, em abril, os clippings sobre estrutura organizacional e políticas públicas, fatores extraescolares (incluindo as notícias sobre educação na pandemia), avaliação (na qual se insere cobertura dos exames nacionais) e ensino médio.

PRESENÇA DE TEMAS DE INTERESSE DO OBSERVATÓRIO DE EDUCAÇÃO

195 respostas

Fonte: Análise de clipping Radar de Imprensa.

 

Políticas educacionais

A tramitação do PL da educação domiciliar – ou “homeschooling” – gerou um amplo debate na imprensa em abril, com muitas posições contrárias e outras favoráveis disputando a cena. O G1 veiculou um texto didático sobre o assunto no dia 4 de abril com a chamada “Homeschooling’: entenda o modelo de aprendizagem domiciliar que o governo quer regulamentar até julho”.

A proposta é uma prioridade do governo Jair Bolsonaro (sem partido) desde que assumiu a presidência da República – e também a única prioridade que ele anunciou em 2021 para a educação. O presidente segue pondo em segundo plano agendas fundamentais da área, como a regulamentação do novo Fundeb e o apoio às redes de ensino público para enfrentar os desafios da pandemia.

Os defensores da ideia argumentam que a educação domiciliar é um direito das famílias já assegurado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A aspa a seguir foi extraída da matéria publicada por O Globo em 5 de abril e é atribuída ao ministro Milton Ribeiro, chefe da pasta da Educação:

“A aprovação dessa lei vai dar segurança jurídica às famílias que optarem pela educação domiciliar. O fato de ser minoria, que é 0,000%, que seja, mas para essas pessoas que têm essa possibilidade de aderir a essa modalidade de educação, para elas é 100%. No Brasil pode ser uma dízima, mas para elas é 100%”. 

Os críticos do homeschooling ressaltam que a prática reduz o direito das crianças à educação plena para atender às convicções dos pais, limita suas possibilidades de socialização, além de afastá-las do espaço institucional da escola, que age como elo importante na rede de proteção da criança no Brasil. A Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (Anec) divulgou um manifesto contra a educação domiciliar que veio a público em uma matéria de 8 de abril na Folha de S.Paulo:

“Implantar o ensino domiciliar de forma abrupta e unilateral é ignorar as vozes que se erguem a favor das infâncias e das juventudes e de toda a trajetória da construção das legislações que envolvem a educação no Brasil e as metodologias que foram desenvolvidas por especialistas ao longo de anos de pesquisa e estudos.”

Mas a educação domiciliar não foi o único tema controverso na mídia ao redor das políticas educacionais brasileiras em abril. A lista a seguir elenca outros pontos que reverberaram na imprensa:

Ensino médio e educação na pandemia

Além de matérias questionando as notas do Enem, a cobertura sobre a principal avaliação do ensino médio brasileiro usou diversos personagens para contar histórias de sucesso e superação na realização da prova. A estratégia foi adotada por vários veículos, mas a menção aqui vai para o G1 com “João Victor tirou nota máxima em matemática e Luiz Pablo alcançou a nota 1000 na redação em Sergipe”. Desde o fim do ano passado, o portal investe de maneira consistente em pautas criativas e abrangentes com a retranca “Enem 2020”.

O processo de inscrição para o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que dá acesso às faculdades públicas, gerou matérias de serviço e notícias polêmicas. Como explicou o G1 em 9 de abril, “pelo segundo ano consecutivo, candidatos reclamaram de um sistema introduzido pelo MEC que infla temporariamente as notas de corte e foi chamado de ‘dupla classificação’ ou ‘nota fantasma’”. Tal sistema acabou sendo corrigido dias depois, conforme noticiou O Globo.

A cobertura sobre educação em tempos de Covid-19 se desenrolou ao longo de todo o mês de abril, como ocorre desde março de 2020. Muitas das numerosas pautas foram atualizadas ou mesmo ressignificadas. A Folha de S.Paulo inovou preparando relatos de jovens sobre educação na pandemia: “Meu cérebro não estava acostumado a tanto computador”, “Professores estavam comigo na pior fase da vida” e “Como estudar à distância sem internet?” (18/04).

Equidade, diversidade e inclusão

Na amostra de clipping de abril, as inserções que buscaram falar diretamente de equidade educacional o fizeram abordando principalmente o racismo, a inclusão de pessoas com deficiência e a evasão escolar.

A questão racial foi o mote da reportagem “Educação antirracista: escola resiste há 31 anos com referência da cultura afro-brasileira como parte essencial do currículo” (G1, 18/04); da coluna “Projeto aponta racismo estrutural como uma das causas do trabalho infantil” (Blogs do Estadão, 01/04); e do artigo “Apoiar entrada de jovens negros na universidade é pensar sobre qual futuro queremos”, assinado por três jornalistas integrantes do programa Já É, que apoia o ingresso de jovens negros no ensino superior.

O rol de pautas sobre inclusão de pessoas com deficiência na educação incluiu textos como “Instituto Rodrigo Mendes publica novos materiais pedagógicos acessíveis” (Blogs do Estadão, 01/04), “Bullying e dislexia: como abraçar a inclusão na escola” (Revista Educação, 07/04) e “Iniciativas facilitam inclusão de crianças com deficiência em escolas” (UOL, 14/04).

Por fim, o problema da evasão escolar foi retratado na imprensa à luz dos impactos da pandemia na educação e com base em novos dados do Unicef, Unesco, Banco Mundial e Pnad Educação 2019. Alguns dos clippings gerados foram:

Vida que segue

Vale ressaltar, ainda, um conjunto de clippings que se descolou dos ganchos factuais de abril e resgatou temas mais perenes na cobertura de educação, como bons pequenos projetos pedagógicos, relatos de experiências e outras discussões sempre revisitadas no setor.

O portal Porvir brilhou nesse quesito, com exemplos como “Bullying, no presencial ou no online, não é coisa de ‘deixar pra lá’” (06/04), “Mitos afastam alunos da matemática. Como a escola pode virar o jogo?” (08/04) e “Xadrez na escola: o jogo que aliado à tecnologia desenvolve competências da BNCC” (29/04).

Na grande imprensa, a Folha de S.Paulo abriu espaço para o artigo “Educação midiática vai além da educação digital e tecnológica”, assinado por Mariana Ochs, enquanto o Estadão publicou “A participação da família na vida escolar é realmente importante?”, por Natália Venâncio, especial para o Blog dos Colégios.