Juventudes

Juventudes e Participação: escola precisa conhecer as expectativas dos estudantes

14/02/2020

CURADORIA: Instituto Unibanco

Introdução

A coleção Juventudes e Participação convida os profissionais da educação a ampliar o seu repertório e refletir sobre quem são os jovens, estudantes do Ensino Médio brasileiro.

Consideramos que a escola tem um papel importante na formação dos jovens para a vida em uma sociedade democrática. Para que essa formação seja efetiva, é preciso que o ambiente escolar promova o desenvolvimento integral dos estudantes, levando em consideração as desigualdades que interferem nas trajetórias educacionais e, também, as diferentes experiências de viver a juventude. Além disso, a escola precisa conhecer as demandas dos jovens a partir das suas necessidades no presente e não apenas prepará-los para o que serão no futuro.

 

Desse modo, para qualificar o diagnóstico sobre quem são os estudantes do Ensino Médio, seus desejos e expectativas, selecionamos nesta coleção um conjunto de documentos com contribuições distintas, que abordam diferentes temas relacionados à juventude: i) jovem como sujeito social e detentor de direitos; ii) relação entre gestão democrática/ambiente escolar democrático e a importância da participação dos estudantes; iii) a diversidade dos estudantes e a identificação das suas necessidades e demandas na escola; iv) a organização dos jovens em diversos agrupamentos juvenis (políticos, culturais, esportivos, etc.) dentro ou fora do espaço escolar; e v) a organização estudantil na escola e os ganhos com a participação dos jovens.

 

O conjunto de documentos desta coleção pretende auxiliar a gestão escolar e os demais profissionais da educação na compreensão dos jovens a partir de suas especificidades, o que deve apoiar a abertura da escola para a promoção da participação dos jovens nas diferentes instâncias de tomada de decisão, além de fundamentar a realização de ações pedagógicas mais assertivas e ativas, que garantam o direito de aprendizagem e propiciem maior sentido da escola aos estudantes do país.

 

Esses documentos em destaque disponibilizam um repertório importante para o reconhecimento da heterogeneidade dos jovens, que muitas vezes é ignorada por professores e gestores, acirrando as desigualdades educacionais e aumentando o desafio de garantir a equidade para todos os estudantes do Brasil.

Para começar, indicamos o vídeo Juventudes: concepções, demandas e políticas públicas da cientista social Regina Novaes, gravado durante o curso Juventudes e educação: identidades e direitos, realizado pelo Instituto Unibanco em 2018. Nele, a pesquisadora aborda as diferentes concepções de juventude, enfatizando suas especificidades na contemporaneidade. Também ressalta que, para melhor compreender os jovens e suas trajetórias escolares, é preciso atentar para a intersecção entre as desigualdades e as diversidades. Em sua aula, Regina Novaes destaca o peso da desigualdade étnico-racial quando analisa os dados do Atlas da Violência e a maior taxa de mortalidade entre os jovens negros, o que reforça a necessidade de uma educação que tenha como princípio a equidade.

 

Na sequência, propomos a leitura da publicação Jovens e o Ensino Médio: desafios para educação brasileira, produzida pelo Instituto Unibanco, que, a partir do conhecimento teórico e de um conjunto de informações sobre os jovens e o Ensino Médio, tem como objetivo contribuir para o entendimento das especificidades desse período da vida denominado juventude e do modo como os jovens se relacionam com a escola.

 

No primeiro capítulo, são apresentados os marcos conceituais da juventude e os marcos legais (ECA e o Estatuto da Juventude). No segundo, discute-se a relação dos jovens com a escola, bem como a necessidade de se criar relações mais horizontais, respaldadas na autoridade e não no autoritarismo. O terceiro capítulo pontua duas questões fundamentais quando se pensa em jovens e educação: a diversidade e as desigualdades. No âmbito da diversidade, apresenta um panorama dos diferentes perfis de jovens, destacando os aspectos étnico-racial, regional, de gênero  e de orientação sexual e religiosa. No que diz respeito às desigualdades, o capítulo ressalta o quanto as questões étnico-racial e de gênero influenciam as trajetórias escolares. O quarto e último capítulo trata da questão do abandono escolar, um grande desafio para as escolas de Ensino Médio.

 

Recomendamos também a entrevista Juventudes: do Ensino Médio que temos ao Ensino Médio que queremos, realizada pelo Instituto Unibanco com estudantes secundaristas. Nela, os estudantes abordam questões como a importância da escola para a vida pessoal e profissional, a necessidade de as escolas terem boa infraestrutura para garantir o aprendizado dos estudantes e de a instituição escolar dialogar com o entorno no qual está inserida. A fala dos participantes demonstra que os jovens não estão alheios aos desafios do Ensino Médio e anseiam pela mudança.

 

Certos de que os jovens podem contribuir com os dilemas que afetam a escola, indicamos também o vídeo do Observatório de Educação encontrado na seção Luz, Câmera e Gestão, EEFM Adahil Barreto Cavalcante – Evasão Escolar. Na entrevista, uma estudante de Ensino Médio apresenta um exemplo de protagonismo juvenil. A jovem, ao identificar que sua escola havia sido indicada como a que mais registrava evasão escolar no município de Maracanaú (CE), criou e realizou ações de mobilização e resgate de estudantes que estavam fora da escola em parceria com a gestão.

 

Na direção de que é importante a escola criar canais de escuta dos estudantes, sugerimos a leitura do artigo “Ocupar e resistir”: a insurreição dos estudantes paulistas, dos autores Ana Paula de Oliveira Corti, Maria Carla Corrochano e José Alves da Silva. O documento traz importantes contribuições para discutir a participação dos jovens nas tomadas de decisões da escola, uma vez que todas elas dizem respeito diretamente a eles. Analisa as ocupações estudantis como uma nova modalidade de ação coletiva, que trouxe questionamentos para as políticas educacionais e para a cultura escolar.

 

Por fim, a entrevista do programa Conexão Futura Participação adolescente na escola, com os estudiosos do tema juventude Camila Leite e Paulo Carrano e com a estudante Ana Alice do Nascimento, chama a atenção para a necessidade de qualificar a participação dos jovens na escola, de modo que eles sejam envolvidos nos processos que são cruciais para seu funcionamento, como a organização do tempo e espaço, a utilização dos recursos e, até mesmo, os conteúdos a ser aprendidos.

 

Esperamos que a seleção dos materiais disponibilizados nesta coleção permita aos gestores e demais profissionais da educação reconhecer que não existe uma única forma de ser jovem nem de ser estudante. Ao apreender e valorizar a diversidade dos jovens, a gestão escolar poderá aprimorar suas ações pedagógicas, melhorar o clima escolar e aproximar a gestão dos estudantes.

 

Uma gestão não se torna democrática sem um longo processo de aprendizado que envolve toda a comunidade escolar, sendo a escuta dos estudantes e sua participação no cotidiano da escola requisitos indispensáveis para a construção de relações mais respeitosas.

DESTAQUES DO CURADOR