Rio Bairros

Atentas aos perigos da Covid-19, escolas se preparam para receber os alunos

Instituições de ensino investem em treinamento de funcionários, adequação de espaços e aquisição de materiais para desenhar o retorno, ainda sem previsão
Antônia Burke, diretora de duas unidades do Colégio de A a Z, diz que foi criado um comitê para definir medidas de segurança Foto: Divulgação/Bernardo Stampa
Antônia Burke, diretora de duas unidades do Colégio de A a Z, diz que foi criado um comitê para definir medidas de segurança Foto: Divulgação/Bernardo Stampa

RIO - Embora as instituições de ensino já estejam empenhadas em cuidar de cada detalhe para garantir a volta com a maior segurança possível, ainda não há uma data definida para o retorno às aulas presenciais. Com tantas incertezas, surgem sentimentos conflitantes, que misturam alívio e preocupação. Quais protocolos de saúde e higiene serão adotados no retorno, desde a hora da entrada até a saída dos alunos? As respostas estão sendo estudadas.

José Alessandro, relações-públicas especialista em comunicação educacional da Zele Comunicação, afirma que o retorno exigirá um plano de ações em diversas frentes, o que demandará uma intensa articulação e contextualização em cada escola. O treinamento de todos os funcionários de cada instituição de ensino é primordial, segundo ele. Ao lado da relações-públicas Thais Cristine Enseñat, Oliveira elaborou um relatório minucioso sobre protocolos para o retorno às aulas a partir de pesquisas em documentos oficiais da Unesco e de países como França, Espanha, Portugal, China e Estados Unidos. O documento foi consultado por colégios como o Notre Dame, em Ipanema; e o Instituto Nossa Senhora da Piedade, no Flamengo.

Para compreender o que pensam os pais sobre este momento delicado do retorno, a rede Notre Dame encerrou, no último dia 17, uma pesquisa interna.

—A consulta dará ainda mais segurança ao que já temos trabalhado ao longo destes quatro meses que estamos debatendo o assunto pandemia. Nossa equipe pedagógica trabalha ajustando os pontos convergentes que existem entre os protocolos apresentados nos diferentes estados brasileiros — afirma a diretora educacional da rede Notre Dame, Ivanes Filippin.

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Antônia Burke, diretora das unidades de Ipanema e Botafogo do Colégio e Curso de A a Z, conta que foi criado um comitê especial interno para definir como as medidas de segurança serão implementadas, visando a respeitar todos os critérios estabelecidos pelas autoridades para resguardar alunos e funcionários.

—As medidas incluem a instalação de totens de álcool em gel em todas as unidades, tanto em salas de aula, que terão espaçamento maior entre as carteiras, como em corredores e lugares comuns, além do uso de termômetros, instalação de tapetes desinfetantes e lixeiras especiais para descarte de máscaras descartáveis. Também faremos distribuição de kits de proteção, além de afixar cartazes, banners e sinalizações com relacionadas à Covid-19 — diz.

Informação é peça-chave para tranquilizar pais

Desde que as aulas presenciais foram interrompidas, os canais de comunicação têm sido fundamentais para a adaptação de alunos, educadores e gestores escolares. Palestras on-line, reuniões à distância, cartilhas digitais, comunicados, vídeos, áudios e campanhas estão a toda. Até as lives entraram em cena, como explica Márcia Santiago, uma das diretoras dos sete colégios da Rede Piedade de Educação, que fez parte do grupo de estudos que pesquisou e criou os protocolos de retorno às aulas presenciais.

—Uma prática que tem ajudado muito neste processo são as transmissões ao vivo, as populares lives, protagonizadas por educadores do INSP e profissionais de outras áreas. Compartilhando conhecimento, tornamos ainda mais eficazes nossas medidas práticas de cuidado, bem como orientações contidas nos protocolos de retorno— afirma a irmã Márcia, que dirige o Instituto Nossa Senhora da Piedade, no Flamengo.

Márcia Santiago, do INSP: comunicação é essencial Foto: Divulgação/José Alessandro
Márcia Santiago, do INSP: comunicação é essencial Foto: Divulgação/José Alessandro

Impedir o contato entre os estudantes é um dos desafios

No relatório minucioso elaborado pela Zele Comunicação para o retorno às aulas, uma das sugestões é que sejam utilizadas cores diferentes para que fique evidenciado que os funcionários trocaram as máscaras ao longo do dia, já que a recomendação é de que se troque a cada duas ou três horas. Essa é uma entre tantas medidas que estão sendo estudadas pelas instituições de ensino. Consultora do Departamento de Saúde Escolar da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (Soperj) e diretora médica da Urmes, Isabella Ballalai diz que, enquanto se aguarda a definição das secretarias de Saúde e Educação, estão sendo elaborados protocolos adequados à atividade educativa, para dar suporte às escolas, tanto na adoção de medidas já definidas pelas autoridades da saúde em todo o mundo como de fato efetivas quanto na orientação sobre dúvidas que geram insegurança.

— As escolas vão precisar de um apoio constante, e o processo de comunicação com as famílias deve ser eficiente. E o mais importante de tudo, a parceria família-escola deve ser fortalecida. As crianças precisam retornar à rotina escolar e as escolas precisam da parceria dos pais para que todo o processo se dê de forma segura e tranquila— defende Isabella.

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Sobre protocolos, Verinha Affonseca, diretora da Escola Nova, com unidades na Gávea e no Jardim Botânico, informa que nenhum adulto, sob hipótese alguma, exceto professores e funcionários, poderá entrar na escola. A temperatura será tomada, máscaras serão disponibilizadas e trocadas duas ou três vezes por manhã.

—Mas tem um lado que é muito difícil... Como falar para uma criança não abraçar o melhor amigo, não matar a saudade, não ficar feliz de rever o colega? Acho que ninguém no mundo tem essa resposta. Abraço de cotovelo? —diz Verinha.

No Colégio e Curso de A a Z, foram produzidos vídeos para serem divulgados com instruções sobre cuidados, a serem enviados previamente a todos os alunos e responsáveis, além de divulgados nas redes sociais do colégio. Com as aulas suspensas desde março em decorrência da Covid-19, alguns alunos não veem a hora de encontrar os amigos. Para Antônia Burke, diretora das unidades de Ipanema e Botafogo, as escolas estão diante de um desafio.

— Nossa preocupação agora está em como fazer a escola voltar a ser um ambiente acolhedor. Nosso desafio é achar um caminho para o aluno se sentir integrado e pertencente ao espaço em um ambiente tão cheio de restrições novas. Devemos e precisamos manter a escola como uma entidade que instrui o aluno no sentido de dizer como se portar diante da nova conjuntura, e ao mesmo tempo ela deve continuar como um espaço de acolhimento - afirma ela, acrescentando que a instituição produziu cartazes sugerindo que os alunos se cumprimentem usando os pés.

Coordenadora pedagógica do ensino fundamental 1 do Colégio dos Santos Anjos, na Tijuca, e professora da Escola Municipal Pereira Passos, no Rio Comprido, Priscila Gabriel está vivendo seu maior desafio profissional desde março, quando o distanciamento social se tornou uma necessidade urgente.

Priscila Gabriel é professora e coordenadora pedagógica Foto: Acervo pessoal
Priscila Gabriel é professora e coordenadora pedagógica Foto: Acervo pessoal

— Em poucos dias, nós nos reinventamos para levar as aulas para o on-line, e agora estamos trabalhando para fazer o caminho inverso. As crianças e os adolescentes precisam saber que vamos retornar às escolas, mas que a rotina não voltará ao normal. Minha maior preocupação é com os pequenos, que eram recebidos pelas professoras com abraço, beijo. Essa afetividade física acabou, pelo menos até que se tenha uma vacina que nos imunize da Covid-19. Acredito que a adaptação inicial vai ser difícil, mas estamos nos preparando para esse retorno. A escola não será mais como antes — frisa a mãe de Guilherme, de 12 anos, Beatriz, de 8, e Julia, de 6, todos estudantes do Colégio dos Santos Anjos.

A professora Priscila Gabriel com os filhos Guilherme, Beatriz e Julia Foto: Acervo pessoal
A professora Priscila Gabriel com os filhos Guilherme, Beatriz e Julia Foto: Acervo pessoal

Entre as principais mudanças, a alternância entre o presencial e o virtual.

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— Como as turmas terão que ser reduzidas, enquanto alguns alunos estiverem tendo aula na escola, outros estarão estudando em casa. Por ora, nada de todo mundo junto. Esse revezamento veio para ficar por um tempo. Já o investimento cada vez maior no ensino on-line será para sempre — diz Priscila.

Brincadeiras no parquinho merecem cuidado especial

Desde que a Covid-19 se tornou uma ameaça à saúde, o uso de máscaras, a higienização constante das mãos e o distanciamento social se tornaram parte da rotina diária, e não será diferente na retomada das aulas presenciais. A escola tem a obrigação de manter o ambiente seguro e já se prepara para isso, sobretudo para proteger com olhar ainda mais atento as crianças pequenas, menos conscientes do perigo de contágio do que as que estão na segunda infância e os adolescentes. Diretora-geral do Colégio Marista São José, na Tijuca, Eveline Morelli aposta no diálogo franco com os alunos da educação infantil para obter êxito nesse novo tempo que se aproxima:

Eveline Morelli é diretora do colégio Marista São José, unidade Tijuca Foto: Divulgação
Eveline Morelli é diretora do colégio Marista São José, unidade Tijuca Foto: Divulgação

— A criança tem necessidade de toque, mas, como a palavra da professora é lei, será estabelecido um novo combinado, que é o de não pegar na mão do coleguinha, não abraçar, não pedir o material do outro emprestado... Vamos estabelecer com clareza o que pode e o que não pode. Faz parte do nosso trabalho educativo orientar e treinar a criança e o adolescente para seguirem as regras, as combinações. Não estou dizendo que vai ser fácil. Pelo contrário. Mas estou confiante de que vai dar certo devido à relação de confiança e parceria estabelecida anteriormente entre alunos e professores.

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A convivência no parquinho merecerá atenção especial do colégio.

— Quanto menor a criança, maior o desafio. Se determinado brinquedo não deve ser usado para evitar aglomeração e, consequentemente, o risco de contaminação, vamos isolá-lo, criar estratégias para que os alunos não se aproximem. Se chegarmos à conclusão de que é melhor também não permitir que se leve brinquedo de casa para evitar que uma criança queira trocá-lo com o de outra criança, também evitaremos essa prática. Mas os pais podem ter certeza que, com toda segurança, ofereceremos recursos, sobretudo lúdicos, para entreter os pequenos — garante a diretora-geral do Marista São José.

No novo normal, nem a hora da merenda escapará de sofrer alterações.

— A ideia é que o lanche seja feito em sala de aula, individualmente, na própria carteira. Em seguida, aos poucos, sem aglomeração, os alunos poderão ir para o pátio aproveitar o recreio, esse intervalo que é tão importante dentro da rotina escolar — adianta Eveline.

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