Brasil Coronavírus

Volta às aulas causa temores nos pais e divide estados e municípios

Datafolha aponta que 79% dos brasileiros acreditam que as escolas devem continuar fechadas nos próximos dois meses; Rio e SP divergem sobre retomada das aulas presenciais
Aulas da rede estadual de ensino do Amazonas foram retomadas no dia 10 de agosto, sob protestos de organizações de profissionais da educação e grupos estudantis Foto: Raphael Alves / Agência O Globo
Aulas da rede estadual de ensino do Amazonas foram retomadas no dia 10 de agosto, sob protestos de organizações de profissionais da educação e grupos estudantis Foto: Raphael Alves / Agência O Globo

RIO - A grande maioria dos brasileiros acredita que as escolas deveriam continuar fechadas nos próximos dois meses . O dado é da pesquisa feita pelo Datafolha, que apontou o seguinte: 79% dos entrevistados acreditam que as escolas devem continuar fechadas, 19% responderam ser a favor da reabertura e 1% não respondeu. O Datafolha também perguntou aos entrevistados se o retorno às aulas poderia agravar a pandemia de Covid-19. A maioria (79%) acredita que sim.

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Mas se a maioria dos brasileiros tem opinião contrária à retomada das aulas presenciais, no Rio, o secretário estadual de Saúde, Alex Bousquet, afirmou, nesta terça-feira, que pode autorizar a reabertura das escolas da rede pública no estado a partir do dia 15 de setembro. Já em São Paulo, o prefeito Bruno Covas descartou que as aulas presenciais nas escolas da rede municipal retornem em setembro. Em todo o país, apenas um estado voltou a ter aulas presenciais. Manaus reabriu as escolas da rede pública estadual no dia 10 de agosto , cinco meses após a suspensão. A rede particular já tinha retomado as atividades em julho e as escolas da rede municipal permanecem fechadas.

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Ainda que a volta às aulas presenciais divida estados e municípios, especialistas ouvidos pelo GLOBO são unânimes em apontar que o retorno passa por uma grande transformação na rotina das escolas, a começar pela ampliação de procedimentos de higiene. O GLOBO ouviu dez infectologistas, epidemiologistas e virologistas , entre outros profissionais da área, para dimensionar os riscos sanitários na volta às aulas. Oito dos entrevistados sugeriram que o retorno seja iniciado com no máximo 10% a 20% do efetivo total de alunos, para reduzir o risco de contágio. E seis dos dez entrevistados acreditam que os alunos do ensino médio devem ser os primeiros a regressar.

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— Para as crianças pequenas, que teriam mais dificuldades de cumprir as regras, o risco é maior que o benefício, e não seria recomendável que voltassem neste ano. Já os alunos mais velhos poderiam retornar de forma gradual. Seria até necessário — opina a médica infectologista Rosana Richtmann, do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo.

Instituto de Educação do Amazonas (IEA), uma tradicional escola de tempo integral da rede estadual de ensino de Manaus, onde aulas foram retomadas no dia 10 de agosto Foto: Raphael Alves / Agência O Globo
Instituto de Educação do Amazonas (IEA), uma tradicional escola de tempo integral da rede estadual de ensino de Manaus, onde aulas foram retomadas no dia 10 de agosto Foto: Raphael Alves / Agência O Globo

Professora do departamento de Saúde Global e População de Harvard, Marcia Castro destaca o estado de algumas das escolas da rede pública no país, que não tinham sequer uma estrutura satisfatória antes da chegada do vírus: unidades sem torneira ou com salas de aula sem janela, por exemplo.

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— Não é só as crianças usarem máascara e estarem afastadas. Tem que pensar o recreio, a atividade física, a merenda, o ar-condicionado. Não há resposta única. Mas também não é justo abrir algumas escolas apenas, senão aumenta mais o buraco da desigualdade.

Segundo Bousquet, no dia 31 deste mês, a Secretaria estadual de Saúde do Rio terá um parâmetro final sobre o acompanhamento da evolução epidemiológica.

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— A perspectiva é que, a partir do dia 15 de setembro, a gente tenha condições de retornar às aulas. Esse retorno vai ser planejado para que ocorra em total segurança, tanto para os alunos quanto para os funcionários da educação.

Recentemente, a prefeitura do Rio, após liberar o retorno às aulas presenciais nas escolas privadas, foi impedida pela Justiça através de uma liminar. Nela, o presidente do TJ-RJ, Cláudio de Mello Tavares pediu coordenação por parte de estado e município.

Em São Paulo, o prefeito decidiu que as aulas presenciais não retormam em setembro depois que um levantamento entre alunos de 4 a 14 anos mostrou que 16,1% deles já tiveram contato com o novo coronavírus, a maioria em casos assintomáticos . Segundo estudo apresentado nesta terça-feira, 66,4% das crianças com prevalência de anticorpos para a Covid-19 não apresentaram sintomas, o que seria um risco para a disseminação silenciosa do vírus na volta às escolas, afirmaram as autoridades.

— Isso significa que duas a cada três crianças contaminadas com o vírus não apresentaram nenhum sintoma. A escola coloca o medidor de temperatura na porta, mas essa criança não vai apresentar febre, mas está contaminada, às vezes até com a mesma carga viral de um adulto. As medidas (de precaução) nas escolas não seriam aplicáveis — disse o prefeito Bruno Covas, em coletiva transmitida on-line.

O estudo feito em São Paulo encontra eco na pesquisa feita pelo Datafolha. Ao todo, 79% dos entrevistados acreditam que a epidemia pode ser agravada com o retorno das atividades escolares. Destes, 59% afirmam que deve agravar muito e 20% que vai agravar pouco. Outros 18% afirmam que não vai agravar e 3% não sabem. A pesquisa foi realizada entre 11 e 12 de agosto, com 2.065 brasileiros com telefone celular em todas as regiões e estados do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.