Descrição de chapéu
Helena Branco e Rebeca Sousa

Você está dialogando com a juventude?

Somos diversos, e assim queremos ser vistos e representados na política

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Helena Branco

Estudante de relações internacionais, 19, é supervisora de programas na Girl Up Brasil

Rebeca Sousa

Estudante de ciências sociais, 18, é líder da Girl Up em Aracaju (SE)

Esta pode ser a eleição com a menor participação jovem desde a redemocratização. Começamos o ano com apenas 12% dos adolescentes entre 16 e 17 anos com título de eleitor, fração muito abaixo de eleições anteriores. Mas não se enganem: não estamos desinteressados na política. Como duas jovens orgulhosamente assinando este artigo, trazemos um spoiler: não somos o futuro, já estamos fazendo história.

Em março de 2022, tivemos quase uma dezena de meninas na mesa diretora do plenário da Câmara dos Deputados durante a apreciação do veto presidencial ao que ficou conhecido como PL dos absorventes. Acontecimento inédito. Nós, meninas, fomos peça fundamental na derrubada do veto: após cinco meses de pressão e articulação políticas, ocupamos nosso espaço no maior palanque político do país.

Você, leitor ou leitora, sabia de feitos como esse, protagonizados por jovens que já estão fazendo política?

Depois de artistas, internet incentiva jovens a tirar o título de eleitor
Internet incentiva jovens a tirar o título de eleitor - @imagineedesenhe no Instagram

O preconceito sobre o desinteresse do jovem na política poderia ser motivado pela falta de diálogo intergeracional e pela afirmação constante de uma narrativa dual sobre a juventude. Ou o jovem é uma exceção extraordinária —uma Malala Yousafzai, uma Greta Thunberg, uma Alice Pataxó—, ou um viciado em redes sociais sem nenhum envolvimento comunitário. A realidade, como sempre, é muito mais cheia de nuances. Somos diversos, e assim queremos ser vistos e representados. Como ressignificar essa ideia de jovem que habita o imaginário das outras gerações e assegurar apoio para nossa formação e participação políticas?

Nós já estamos na política e queremos mais. Percebemos a curiosidade do jovem em entender esse mundo nebuloso da política. Porém, essa chama só se transforma em interesse quando as pautas dialogam com a gente. Em outras palavras, não faz sentido querermos que os jovens participem das eleições sem nos esforçarmos para criar mensagens com formatos e linguagens que nos acessem. O que falta para a juventude não é interesse, é espaço de protagonismo e apoio.

É o que estamos construindo com a #SeuVotoImporta, uma campanha destemida, divertida e audaciosa que quer contribuir para que esta seja a eleição com maior participação de jovens da história. A campanha, assinada pela Girl Up Brasil e por sua enorme rede de meninas, cria, finalmente, um lugar de pertencimento, porque traz em cada pedacinho —nos conteúdos, nas cores, nas ações— a voz de meninas que participaram ativamente de sua construção. Na semana de lançamento, em março, foram emitidos mais títulos do que em fevereiro inteiro. Isso antes do envolvimento de Anitta, Mark Ruffalo e da euforia do Lollapalooza.

Em abril, milhares de títulos de eleitor foram emitidos com a ajuda de jovens que têm movimentado suas escolas e comunidades com o chamado para a participação política. Com banquinhas espalhadas de norte a sul do país, meninas e meninos apoiam uns aos outros na missão de tirar o título e confirmar presença no rolê das eleições. Como o prazo final do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já é nesta quarta-feira (4), nossa corrida está cada dia mais intensa.

Esse é o poder de um chamado horizontal, menos interessado em dar uma bronca em um suposto encostado e mais comprometido com um diálogo verdadeiro com o jovem que já está mudando o mundo —e que, sim, adora um meme, joga videogame e é viciado em séries. Começamos 2022 com o menor número de jovens aptos a votar da história e agora vemos um crescimento de quase 45% no mês de março, algo que se destaca na comparação com outros anos.

Agora, imagine um país em que apenas os jovens votassem? Temos alguns palpites: maior representatividade de mulheres no Congresso, parlamentares com agendas sólidas com relação às mudanças climáticas e de proteção da Amazônia, projetos que preveem maior investimento na educação pública. Não é utopia, é a realidade tal qual sonhada por jovens que estarão aí para construir pelos próximos 50, 70 anos. Muitos de nós já começaram. Vamos conquistar os que faltam? Vamos fazer deles parte desse futuro mais sustentável e menos desigual?

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.