Violência na escola: Quando os professores viram alvos

Violência na escola: Quando os professores viram alvos - Pesquisa aponta que duas em cada três escolas na Alemanha registraram episódios de agressão psicológica contra docentes nos últimos cinco anos; no caso de agressões físicas, foram uma em cada três. Um raio-x do problema.Na Alemanha, as férias de verão chegaram ao fim em quase todos os estados. As salas de aula estão cheias mais uma vez; sobre elas, volta a pairar a ameaça da violência – até mesmo contra os professores. Os números são alarmantes e a situação nas escolas é assustadora, afirma à DW Gerhard Brand, presidente do segundo maior sindicato de educadores do país, a Verband Bildung und Erziehung (VBE).

A organização que Brand dirige encomendou um estudo representativo sobre a violência contra professores, realizado no outono passado com diretores de escolas. Quase dois terços dos entrevistados relataram episódios de violência psicológica – ameaças ou importunação – ocorridos nos cinco anos anteriores à pesquisa; no caso das agressões físicas, a proporção foi de quase um terço.

A polícia criminal no estado da Baixa Saxônia, por exemplo, registrou em 2022 um aumento de 30% em relação ao ano anterior no número de delitos de lesão corporal contra professores. A situação é parecida na Saxônia-Anhalt, no leste alemão, onde o Ministério Estadual do Interior computou 104 crimes contra a categoria, sendo 43 de lesão corporal e 45 de ameaça.

Um professor que pediu à DW para ter a identidade preservada relatou o que lhe ocorreu ao tentar apartar uma briga entre dois alunos durante uma aula de alemão. Um deles teria pegado um estilete usado anteriormente na aula de arte e partido "para cima do outro aluno, gritando alto que o mataria". Tentando acalmar os ânimos, o professor então teria se colocado entre os jovens. "Ele me atacou com o estilete depois disso – porque estava tão furioso que precisava esfaquear alguém", afirma o educador, que diz ter sofrido ferimentos leves. "E ele não era lá muito jovem, estamos em [falando de] uma escola secundária. Foi uma situação bem extrema."

O caso acima, segundo o sindicalista Brand, não é algo que se veja cotidianamente nas escolas. Ele, porém, ressalta que a estatística é só a "ponta do iceberg" e afirma que o número de casos reais deve ser muito maior devido à subnotificação – a violência contra educadores ainda seria um tabu, e muitos não teriam coragem de falar sobre esses episódios em sala de aula.

Vice-presidente de psicologia escolar na Associação Profissional de Psicólogos Alemães, Klaus Seifried, que atuou por 26 anos em escolas, diz que a situação nas escolas alemãs não é tão dramática assim, nem os casos de violência têm aumentado de fato. "Acontece que hoje se presta mais atenção e se fala mais sobre isso", argumenta. Ele atribui ainda a situação nas escolas ao fator geracional, com a aposentadoria dos professores mais velhos e a chegada de novos profissionais às salas de aula. "Muitos são inexperientes e não sabem lidar com conflitos. E os fatores de estresse para os professores aumentaram devido à falta de pessoal."

Faltam professores

Segundo estimativas da conferência dos ministros da Educação dos estados da Alemanha (Kultusministerkonferenz), até 2025 o país terá um déficit de 25.000 professores – ou até mesmo o dobro disso, pelos cálculos do sindicato VBE, que aponta que a falta de educadores é um problema em 69% das escolas.

Esse é o ponto central, explica Brand, que representa a VBE: "Faltam docentes, sob todos os aspectos." Ele sustenta que um acompanhamento mais intensivo dos alunos por mais professores reduziria a agressão em sala de aula, mas diz não vislumbrar um futuro com mais docentes.

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Pandemia piorou quadro

Uma pesquisa do sindicato de professores VBE aponta que a situação nas escolas piorou entre 2020 e 2023. Nesse período, durante a pandemia, pais e alunos estiveram sob uma pressão psicológica especial, a vida social era muito limitada. A frustração aflorou frequentemente no contexto escolar, segundo especialistas.

"No período da pandemia teve, claro, estudantes que viveram num vácuo de regras, passando o tempo em frente à TV ou ao computador", afirma o psicólogo Seifried.

Já Brand é mais categórico: "Ao longo da pandemia, a solidariedade inicial foi descambando para uma agressividade crescente."

Mas, além dos estudantes, quem contribuiu para a escalada de violência e erosão de limites nas escolas foram os pais, acima de tudo. No estado da Turíngia, segundo a VBE, eles foram responsáveis por 56% dos casos de violência psicológica direta e 70% dos casos de violência online nos anos da pandemia – os alvos eram professores que insistiam no cumprimento das regras sanitárias; alguns relatam terem sido acusados de administrar a escola com métodos nazistas, outro afirmou ter sido chutado nas coxas e na barriga.

Escola é espelho de uma sociedade cada vez mais brutalizada

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Brand, do sindicato VBE, culpa também as mudanças na sociedade pelos casos de violência contra docentes. Ele afirma ver um aumento da disposição para a violência e a brutalização. "As pessoas passam a se tratar de forma menos respeitosa, solícita e amigável", explica.

Seifried, por outro lado, pondera que a resignação não é uma opção, e propõe uma receita contra a violência em sala de aula: "Os professores devem estabelecer uma relação positiva e construtiva com os alunos, estabelecer limites e oferecer apoio – tudo isso com uma autoridade positiva."Autor: Volker Witting

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