Por Lívia Machado, G1 SP — São Paulo


Fachada da EMEF Jean Marmoz, na Saúde, Zona Sul de São Paulo — Foto: Arquivo pessoal

Após semanas acompanhando o desespero das famílias com relação à volta as aulas na rede municipal, e a preocupação das gestões das escolas em que seus dois filhos estão matriculados, a atriz Bruna Anauate, de 38 anos, fez um desabafo em vídeo e postou em suas redes sociais no último sábado (13).

O relato já registra mais de dez mil visualizações e quase 200 comentários. No post, professores, pais e funcionários de outras escolas municipais endossaram o coro da revolta e narram outros problemas.

As escolas municipais da cidade de São Paulo retomam o ensino presencial nesta segunda-feira (15). A reabertura é marcada por críticas e denúncias contra a falta de estrutura de algumas unidades, principalmente para cumprir os protocolos de segurança contra a Covid-19.

A rede municipal da capital paulista é a maior do Brasil, com mais de 4 mil unidades. As escolas municipais suspenderam as aulas presenciais em 23 de março de 2020 por conta da pandemia de Covid-19.

“Fiquei emocionalmente muito abalada e desconfortável de passar a semana em reuniões com as duas escolas, vendo o desespero das famílias e das gestões e vendo a completa incoerência. Acho uma injustiça muito grande falar na educação como o futuro de uma sociedade melhor e, na prática, não é o que acontece. A desigualdade social é imensa, o abismo de acessos é imenso, é parece que é o ‘modus operandi’ e vida que segue”, disse Bruna em entrevista ao G1.

Mãe fez desabafo em redes sociais sobre falta de estrutura das escolas municipais em que suas filhas estudam em SP — Foto: Reprodução/Instagram

Bruna conta que embora tenha decidido que seus filhos não voltarão a frequentar a escola, tem participado ativamente do processo de retorno na rede.

“Eu não vou enviar meus filhos porque sei que tem famílias que estão sem opção, eu tenho condição de ficar com meus filhos em casa e preferi não superlotar a escola" , disse a mãe.

Segundo Bruna, a escola municipal Suzana Campos Tauil, na Vila Clementino, na Zona Sul, é uma das mais de 500 escolas que a reabertura foi adiada às vésperas da volta por falta de funcionários de limpeza.

A unidade é uma das mais concorridas da região e já foi usada em propagandas eleitorais de gestões tucanas.

O problema eclodiu na última sexta (12), quando a empresa terceirizada, segundo a prefeitura, abandonou o serviço.

Entretanto, Bruna relata que a situação era alarmante desde o início da pandemia. O número de funcionários foi sendo reduzindo ao logo dos meses, a ponto de, nas últimas semanas, sobrarem apenas duas pessoas responsáveis pela higiene da escola.

Ela afirma ainda que os profissionais sequer sabiam como deveria ser feita a limpeza de acordo com os protocolos da vigilância sanitária.

“Quando cheguei lá para pegar o kit de higiene da minha filha, encontrei somente duas pessoas sendo responsáveis para cumprir todo o protocolo de limpeza e os funcionários estavam com o vale-transporte atrasado, correndo risco de não ter como chegar à escola”, conta.

Segundo Bruna, a escola tem problemas estruturais que não foram resolvidos ao longo desses 11 meses de pandemia. Uma das salas do berçário não tem janelas para permitir que o ar circule, conforme estabelecido no protocolo.

A direção acionou a prefeitura sobre a necessidade de readequação, um engenheiro chegou a ir até o local, mas nada foi feito.

“A sala possui uma grande porta que dá para o parquinho privado dos pequeninos. Em dias que não há chuva serve super como ventilação natural, mas quando chove tem que fechar. Quando não havia pandemia, não é o ideal, mas seguia-se dessa maneira. Só que agora é inviável. É uma sala que não tem como funcionar porque não segue o protocolo.”

Problema similar ocorre na Escola Municipal de Ensino Fundamental Jean Mermoz, também na Zona Sul, onde o filho mais velho de Bruna começaria a estudar este ano.

“As janelas são todas basculantes, com grade e muitas nem abrem, estão emperradas. Então não tem essa ventilação natural. Como eles sobreviviam no calor antes? Usando ventilador. Só que o protocolo não permite ventiladores, tem que ser ventilação natural. Teria que ter feito vistoria nos prédios e não foi. E isso é geral, não houve essa preocupação durante esses 11 meses de pandemia”.

A unidade, conta Bruna, também tem problemas de falta de professor para dar conta do ensino híbrido e está sem parte do material de limpeza necessário.

“Aulas devem acontecer presencialmente na EMEF e remotamente ao mesmo tempo. O professor que vai estar presente com a turma não tem recurso para transmitir a aula remotamente. Teria que ser um outro professor remotamente, mas não tem.”

Ela ainda relata o descompasso na divulgação das informações e a falta de autonomia das diretorias das unidades. “É uma escola que não tem condições de receber. E não é por falta de vontade.”

“Não há uma conduta na divulgação das informações. Na quarta pela manhã passam uma informação. À tarde já muda. Na quinta muda novamente. Tudo pode mudar a todo momento. Como que se trabalha desse jeito?”, questiona.

Procurada, a Prefeitura de São Paulo disse que as unidades citadas pela reportagem receberam através do Programa de Transferência de Recursos Financeiros (PTRF), R$ 275,3 mil para melhorias e ações de prevenção contra a Covid-19, sendo R$ 102 mil para o Centro de Educação Infantil (CEI) Suzana Campos e R$ 173,3 mil para a Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Jean Mermoz (leia a nota completa abaixo).

Escolas municipais de SP retomam ensino presencial nesta segunda

Escolas municipais de SP retomam ensino presencial nesta segunda

Volta às aulas

Dentre os problemas do retorno presencial nesta segunda, a falta de profissionais de limpeza fez com que a reabertura fosse adiada em mais de 500 creches municipais do município.

Na semana passada, a gestão municipal disse que a empresa responsável pelo serviço de limpeza de 530 unidades abandonou o contrato e será punida.

O secretário municipal de Educação, Fernando Padula Novaes, disse nesta segunda-feira (15), que um novo contrato emergencial foi assinado na última sexta, e que o processo deverá ser concluído nos próximos dias.

Ele disse não ter uma lista das escolas com as respectivas datas de retorno e orientou os pais a procurarem as diretorias da unidade.

Outras 50 escolas estão com reformas em andamento e também não vão voltar a funcionar. Sobre o atraso em tais unidades, Fernando Padula culpou o "excesso" de chuvas e burocracias na administração pública.

Nessas unidades, a volta às aulas foi adiada para o dia 22 de fevereiro ou para o dia 1º de março. Entretanto, os diretores de diversas unidades foram informados do adiamento apenas na tarde desta última sexta-feira (12).

Veja a nota da Prefeitura de São Paulo:

A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Educação (SME), informa que investiu até agora R$ 571 milhões em reformas e compra de equipamentos para garantir a retomada segura das atividades. Do total de recursos destinados para a adequação das escolas ao protocolo de higiene e segurança elaborado em conjunto com a Secretaria Municipal de Saúde, R$ 274 milhões foram utilizados na reforma de 552 escolas e R$ 297 milhões na compra de 760 mil kits de higiene (sabonete líquido, copo e nécessaire), 2,4 milhões de máscaras de tecido, 6,2 mil termômetros e 75 mil protetores faciais (face shield).

As aulas presenciais ocorrerão em 3,4 mil escolas da rede e cerca de 530 unidades que tiveram rompimento do contrato para serviço de limpeza pelas prestadoras de serviço, iniciarão suas atividades de forma online e voltarão a atender os estudantes nos locais nos dias 22 de fevereiro e 1º de março. Outras 50 unidades que estão com reformas em andamento ou ainda não concluídas, retomarão o atendimento físico até o final de março. As equipes gestoras de todas as unidades permanecem com atividades em andamento.

As unidades citadas pela reportagem receberam através do Programa de Transferência de Recursos Financeiros (PTRF), R$ 275,3 mil para melhorias e ações de prevenção contra a Covid-19, sendo R$ 102 mil para o Centro de Educação Infantil (CEI) Suzana Campos e R$ 173,3 mil para a Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Jean Mermoz.

Os tablets serão distribuídos em 7 lotes. No primeiro lote foram entregues 10 mil e os demais, com mais de 455 mil unidades, estão com as entregas previstas até maio.

VÍDEOS: Especialistas analisam desafios da volta às aulas na pandemia

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