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Brasil Educação Enem e vestibular

Veja exemplos de redações nota 1000 no Enem nos últimos anos

Professores orientam candidatos a se dedicar à área na reta final
Redação é uma das principais áreas do exame Foto: shutterstock.com
Redação é uma das principais áreas do exame Foto: shutterstock.com

RIO - A Redação é uma das áreas principais do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e, por conta de sua relevância, os professores são unânimes ao afirmar que é preciso dar atenção especial ao treinamento da escrita, sobretudo na reta final. Para isso, o GLOBO reuniu algumas propostas de exames anteriores e, em alguns casos,  exemplos de redações que obtiveram nota 1000.

Em 2018, a prova do Enem acontece nos dias 4 e 11 de novembro. No primeiro dia, serão aplicadas as provas de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Redação e Ciências Humanas e suas Tecnologias, com duração de 5 horas e meia. No dia 11 de novembro será a vez de Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias, com cinco horas de duração.

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Veja dez temas para a prova de Redação do Enem

2017- "Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil"

No ano passado, o Enem pediu aos candidatos que escrevessem sobre "Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil". A proposta, considerada uma das mais difíceis dos últimos anos, trouxe como primeiro texto de apoio um trecho da Constituição sobre o direito à Educação. O exame disponibilizou ainda um gráfico com número de matrículas de surdos na educação básica, uma peça publicitária sobre o acesso dessa população ao mercado de trabalho e, por fim, um texto sobre o histórico de oferta educacional a esse público e a sanção da lei que institui a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como segunda língua oficial do país.

Leia a redação nota 1000 de Maria Clara Delmas Campos:

A formação educacional de surdos representa um desafio para uma sociedade alienada e segregacionista como a brasileira. O desconhecimento da língua brasileira de sinais — LIBRAS — e a visão inferiorizante que se tem dos surdos podem acabar por excluí-los de processos educacionais e culturais e mantê-los marginalizados em relação ao mundo atual. Portanto, esses desafios devem ser superados de imediato para que uma sociedade integrada seja alcançada.

Em primeiro lugar, a pouca abrangência da língua de sinais entre os mais diversos setores da sociedade faz dela um ambiente inóspito para os deficientes auditivos. Pesquisas corroboradas por universidades brasileiras e estrangeiras, como a Unicamp e a Universidade de Harvard, atentam para a importância da linguagem como principal porta para a convivência social, permitindo uma multiplicidade de interações interpessoais, como as de educação, cultura, trabalho e lazer. Assim, quando a sociedade se fecha à comunicação por sinais, justificada pela ignorância, aqueles que dependem dessa linguagem têm dificuldades de obter educação de qualidade e ficam, muitas vezes, à margem das demais interações sociais.

Além disso, a maioria das escolas brasileiras não incluem os surdos, assim como os demais portadores de necessidades especiais, em seus programas, estimulando a diferença e o preconceito. Por mais que a legislação brasileira garanta o ensino inclusivo, a maioria das escolas brasileiras não possuem estrutura para atender aos deficientes auditivos, principalmente por conta da falta de profissionais qualificados. A pouca inclusão dos jovens deficientes e não-deficientes valoriza a diferença entre eles, gerando discriminação e uma sociedade dividida. O renomado geógrafo Milton Santos dizia que uma sociedade alienada é aquela que enxerga o que separa, mas não o que une seus membros, algo que se evidencia na exclusão de surdos em todos os níveis de ensino.

Dessarte, visando a uma sociedade mais justa, é mister superar os desafios da educação de deficientes auditivos. Para que o surdo se integre aos diversos meios sociais, como o educacional, o MEC deve fazer uma reforma curricular, que contemple o ensino de LIBRAS como obrigatório em todas as escolas, através de consultas populares na internet para determinação da carga horária. Ademais, com o intuito de tornar as escolas inclusivas, o MEC e o Ministério do Trabalho devem prover as escolas de profissionais capacitados, que possam lidar com alunos surdos através de programas de capacitação profissional oferecidos pelo SESI e SENAC. Dessa forma, o ensino tornará a sociedade brasileira mais unida.

2016

Em 2016, o Enem foi aplicado duas vezes, pois muitos candidatos não conseguiram fazer a primeira prova em consequência das ocupações de escolas contra a Reforma do Ensino Médio e a PEC do teto de gastos. Assim, o exame teve dois temas diferentes.

Tema 1- "Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil"

O primeiro tema de Redação de 2016 foi "Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil". Na proposta, o exame disponibilizou um trecho de um texto publicado no site do Ministério Público sobre a laicidade do Estado e a liberdade de crenças religiosas. Além disso, os candidatos tiveram acesso a outro texto, publicado no Jornal do Senado, sobre a diferença entre liberdade de expressão e o ato de agredir ou ofender alguém em função de suas crenças, acompanhado de um trecho do Código Penal. A proposta acrescentou ainda um gráfico com número de denúncias de intolerância religiosa por tipo de religião.

Leia a redação nota 1000 de Bernardo Lucas Pinñon de Manfredi:

O Brasil é mundialmente reconhecido por sua diversidade religiosa. Ao longo da sua formação e com as influências externas e internas, o país tornou-se um grande exemplo de miscigenação, evidenciando a sua riqueza cultural. Porém, apesar desses fatos, o Brasil sofre com um grave problema de intolerância religiosa, formado pelo reflexo de uma filosofia etnocêntrica marcada nas raízes da sociedade brasileira. Como combater esta realidade que implica na harmonia?

Primeiramente, é preciso entender que a intolerância religiosa começa na educação, ou seja, na falta de conhecimento das religiões. As famílias costumam seguir as religiões tradicionais, no caso o cristianismo, e adotam uma filosofia etnocêntrica. Essa adoção é influenciada por preconceitos históricos, como racismo, e baseada num processo radical de "cristianizar" o Brasil. A partir disso, todas as outras religiões são consideradas inferiores e acabam sofrendo um total desrespeito, sendo vítimas de violência.

Além disso, é necessário analisar o choque entre o Estado laico e o conservadorismo social. Apesar de o cidadão ser constitucionalmente livre para escolher sua religião, os conservadores (muitos deles políticos, padres e pastores) obrigam que tal indivíduo siga o ritual referente, e pior, pregando atos fundamentalistas e modificando a conduta dos fiéis. Há também uma silenciosa mistura de política com religião, fazendo instensificar a intolerância por meio de discurso preconceituoso e desmoralizador que afeta o olhar para as diferenças e o convívio entre elas.

Diante desse grave cenário é possível compreender que a instolerância religiosa no Brasil está enraizada e deve, portanto, ser combatida. É necessário implantar o ensino de religião em todas as escolas de fundamental e médio formando os jovens dotados de conhecimento sobre a diversidade religiosa no país e assim ajudar a combater a intolerância. Além disso, deve-se criar ONGs de parceria com o Estado e a Unesco, fazendo valer a laicidade e fornecer projetos culturais que influenciem um novo olhar das pessoas, entendendo melhor as diferenças, e assim combater o radicalismo que tanto prejudica a harmonia da sociedade.

Tema 2- "Caminhos para combater o racismo no Brasil"

Na segunda aplicação do exame em 2016, o Enem pediu que os candidatos escrevessem sobre "Caminhos para combater o racismo no Brasil". A proposta, assim como a da primeira aplicação, cobrou um tema relacionado às minorias. O primeiro texto de apoio da prova foi um trecho da obra "O povo brasileiro", de Darcy Ribeiro, sobre as explorações às quais os negros foram submetidos após a abolição e os reflexos disso na contemporaneidade. Depois, o exame disponibilizou ao aluno um trecho da lei sobre crimes de preconceito de raça e cor, e também uma campanha publicitária do Senado diferenciando injúria racial de racismo. Os candidatos também tiveram acesso a um texto sobre ações afirmativas.

2015- "A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira"

A proposta da prova de 2015 abordou "A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira". Para escrever sobre o tema, os candidatos tiveram como texto de apoio um trecho do Mapa da Violência de 2012 com dados sobre violência contra a mulher, além de um infográfico com informações sobre processos relacionados à lei Maria da Penha. Os estudantes também tiveram acesso a uma peça publicitária sobre feminicídio.

2014- "Publicidade infantil em questão no Brasil"

O tema de 2014 foi considerado um dos mais difíceis do Enem até então. Na ocasião, os candidatos precisavam escrever sobre publicidade infantil. No primeiro texto de apoio, o candidato teve acesso a um trecho de uma matéria da BBC sobre o tema, abordando o impasse entre ONGs de defesa dos direitos da criança e setores interessados na receita gerada por esse público. A prova ofereceu ainda um infográfico com informações sobre a regulamentação da publicidade infantil ao redor do mundo, e o trecho de um texto sobre a necessidade de preparar as crianças para receber essa publicidade.

Leia a redação nota 1000 de Carlos Eduardo Lopes Marciano:

É comum vermos comerciais direcionados ao público infantil. Com a existência de personagens famosos, músicas para crianças e parques temáticos, a indústria de produtos destinados a essa faixa etária cresce de forma nunca vista antes. No entanto, tendo em vista a idade desse público, surge a pergunta: as crianças estariam preparadas para o bombardeio de consumo que as propagandas veiculam?

Há quem duvide da capacidade de convencimento dos meios de comunicação. No entanto, tais artifícios já foram responsáveis por mudar o curso da História. A imprensa, no século XVIII, disseminou as ideias iluministas e foi uma das causas da queda do absolutismo. Mas não é preciso ir tão longe: no Brasil redemocratizado, as propagandas políticas e os debates eleitorais são capazes de definir o resultado de eleições. É impossível negar o impacto provocado por um anúncio ou uma retórica bem estruturada.

O problema surge quando tal discurso é direcionado ao público infantil. Comerciais para essa faixa etária seguem um certo padrão: enfeitados por músicas temáticas, as cenas mostram crianças, em grupo, utilizando o produto em questão.Tal manobra de “marketing” acaba transmitindo a mensagem de que a aceitação em seu grupo de amigos está condicionada ao fato dela possuir ou não os mesmos brinquedos que seus colegas. Uma estratégia como essa gera um ciclo interminável de consumo que abusa da pouca capacidade de discernimento infantil.

Fica clara, portanto, a necessidade de uma ampliação da legislação atual a fim de limitar, como já acontece em países como Canadá e Noruega, a propaganda para esse público, visando à proibição de técnicas abusivas e inadequadas. Além disso, é preciso focar na conscientização dessa faixa etária em escolas, com professores que abordem esse assunto de forma compreensível e responsável. Só assim construiremos um sistema que, ao mesmo tempo, consiga vender seus produtos sem obter vantagem abusiva da ingenuidade infantil.

Leia a redação nota 1000 de Maria Eduarda de Aquino Correa Ilha:

De acordo com o movimento romântico literário do século XIX, a criança era um ser puro. As tendências do Romantismo influenciavam a temática poética brasileira através da idealização da infância. Indo de encontro a essa visão, a sociedade contemporânea, cada vez mais, erradica a pureza dos infantes através da influência cultural consumista presente no cotidiano. Nesse contexto, é preciso admitir que a alegação de uma sociedade conscientizada se tornou uma maneira hipócrita de esconder os descaso em relação aos efeitos da publicidade infantil no país.

Em primeiro plano, deve-se notar que o contexto brasileiro contemporâneo é baseado na lógica capitalista de busca por lucros e de incentivo ao consumo. Esse comportamento ganancioso da iniciativa privada é incentivado pelos meios de comunicação, que buscam influenciar as crianças de maneira apelativa no seu dia-a-dia. Além disso, a ausência de leis nacionais acerca dos anúncios infantis acaba por proporcionar um âmbito descontrolado e propício para o consumo. Desse modo, a má atuação do governo em relação à publicidade infantil resulta em um domínio das influências consumistas sobre a geração de infantes no Brasil.

Por trás dessa lógica existe algo mais grave: a postura passiva dos principais formadores de consciência da população. O contexto brasileiro se caracteriza pela falta de preocupação moral nas instituições de ensino, que focam sua atuação no conteúdo escolar em vez de preparar a geração infantil com um método conscientizador e engajado. Ademais, a família brasileira pouco se preocupa em controlar o fluxo de informações consumistas disponíveis na televisão e internet. Nesse sentido, o despreparo das crianças em relação ao consumo consciente e às suas responsabilidades as tornam alvos fáceis para as aquisições necessárias impostas pelos anúncios publicitários.

Torna-se evidente, portanto, que a questão da publicidade infantil exige medidas concretas, e não um belo discurso. É imperioso, nesse sentido, uma postura ativa do governo em relação à regulamentação da propaganda infantil, através da criação de leis de combate aos comerciais apelativos para as crianças. Além disso, o Estado deve estimular campanhas de alerta para o consumo moderado. Porém, uma transformação completa deve passar pelo sistema educacional, que em conjunto com o âmbito familiar pode realizar campanhas de conscientização por meio de aulas sobre ética e moral. Quem sabe, dessa forma, a sociedade possa tornar a geração infantil uma consumidora consciente do futuro, sem perder a pureza proposta pelo Movimento Romântico.