Maior gargalo da educação pública, o ensino médio no país registra mau desempenho em exames de avaliação e altos índices de evasão escolar. São auspiciosos, portanto, os resultados de pesquisa sobre os impactos do período integral na vida acadêmica e profissional desses alunos.
O estudo, realizado pelos pesquisadores Naercio Menezes Filho e Luciano Salomão, em parceria com o Instituto Natura, demonstrou ganhos significativos para estudantes submetidos a carga superior a 35 horas semanais (7 diárias) em relação a egressos da jornada parcial, com 20 horas semanais (4 por dia).
Os jovens com mais tempo de estudo alcançaram maior participação no Enem (16,5% a mais); melhores notas (em média, 29 pontos a mais na redação); mais matrículas no ensino superior (5,8%, no geral, e 7,7% se consideradas as instituições públicas); e até vagas de trabalho (3% a mais nos empregos formais para o mesmo município avaliado).
De 2017 a 2019, a pesquisa acompanhou mais de 1 milhão de jovens que ingressaram no ensino médio em ambas as modalidades. Após os anos de pandemia, voltou a monitorá-los em 2022.
Os pesquisadores ressaltam que as vantagens incluem avanços nos indicadores educacionais e socioeconômicos. O período prolongado intensifica as conexões entre professores e estudantes, possibilita que ambos qualifiquem suas tarefas e amplia o leque de disciplinas eletivas.
De modo geral, a etapa educacional que antecede o ensino superior —e aqui, registre-se, apenas 25% dos jovens de 18 a 24 anos o alcançam— está estagnada.
Mesmo considerando a somatória de escolas públicas e privadas (8 em 10 alunos estudam em unidades do Estado), o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) registrou, de zero a 10, nota média de 4,2 em 2019 e 2021 e 4,3 em 2023 —ainda longe da nada ambiciosa meta de 4,9.
A disseminação do tempo integral também avança a passos lentos e de forma desigual pelos estados —apenas quatro atingiram a meta de que o país adentrasse 2024 com pelo menos metade das escolas nesse formato e 25% das matrículas do ensino infantil ao médio. Essas proporções atingem hoje, respectivamente, apenas 30,5% e 20,6%.
Realidade há décadas nas nações desenvolvidas, a jornada estendida proporciona ganhos em todos os níveis da vida escolar. No ensino médio, em particular, pode ser a diferença entre uma formação incompleta e a universidade, entre o subemprego e uma carreira profissional.
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