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USP, Unicamp e Unesp querem vestibular seriado para alunos de SP

Estudantes serão avaliados ao fim de cada série do ensino médio e nota final servirá para acesso às vagas das 3 universidades

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Ribeirão Preto

As três universidades estaduais paulistas querem transformar o Saresp (prova que avalia a qualidade do ensino da rede estadual de São Paulo) em um vestibular seriado. Assim, os estudantes serão avaliados ao fim de cada série do ensino médio e a nota, ao fim dos três anos, será usada para ingresso nos cursos de graduação.

Elas buscam transformar o Saresp em um modelo próximo ao vestibular americano, o SAT (Scholastic Aptitude Test), em que os alunos fazem as provas várias vezes durante a etapa similar ao ensino médio brasileiro. O processo seletivo para ingresso nas universidades nesse formato só poderá ser feito por alunos de escolas da rede estadual paulista.

Vestibulandos participam da segunda fase da Fuvest em unidade da USP
Vestibulandos participam da segunda fase da Fuvest em unidade da USP - Rivaldo Gomes - 16.jan.22/Folhapress

A proposta já foi feita ao governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e as universidades querem iniciar o modelo ainda neste ano. Segundo Carlos Gilberto Carlotti, reitor da USP, a gestão estadual já sinalizou entusiasmo com a proposta.

A Secretaria estadual de Educação confirmou que negocia novos formatos para aplicação do Saresp.

Atualmente, o exame é aplicado apenas no 5º e 9º anos do ensino fundamental e no 3º ano do ensino médio. Uma das críticas ao modelo atual da prova é que os alunos têm pouco estímulo para fazê-la, já que os resultados servem apenas para avaliar a qualidade do ensino das unidades escolares —as notas também definem o valor para o pagamento de bônus aos professores.

Para transformá-lo em vestibular seriado, as provas seriam aplicadas também no 1º e 2º ano dessa etapa final. Ao fim dos três anos, será calculada uma nota final e os estudantes poderão concorrer às vagas de graduação na USP, Unicamp e Unesp.

"São várias vantagens nesse modelo. A principal é poder identificar desde o 1º ano do ensino médio um aluno com potencial para entrar na universidade e assim acompanhá-lo, oferecer atividades complementares para que ele consiga ser aprovado e chegar melhor preparado na graduação", disse Carlotti.

A proposta do novo modelo de seleção para as universidades paulistas foi apresentada na manhã desta sexta-feira (10) no campus da USP em Ribeirão Preto, onde foi lançada a Cátedra Instituto Ayrton Senna de Inovação em Avaliação Educacional, que terá como titular a professora Maria Helena Guimarães de Castro.

A USP pretende reservar cerca de 10% de suas vagas de graduação para a seleção pelo vestibular seriado. Das cerca de 11 mil vagas, 1.500 seriam destinadas para esse modelo. A mesma proporção deve ser seguida pela Unicamp e Unesp.

Apesar de querem implementar o modelo já neste ano, as universidades precisam aprovar o novo processo seletivo em instâncias internas, como os Conselhos de Graduação e os Conselhos Universitários (instâncias máximas das instituições).

"Elaboramos em conjunto esse modelo e queremos implementá-lo ao mesmo tempo nas três. O Cruesp [Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo] está empenhado em fazer isso acontecer de forma conjunta", disse o reitor da USP.

Segundo Carlotti, ao transformar o Saresp em processo seletivo, as três universidades vão se aproximar mais do ensino público e assim poderão colaborar de forma mais efetiva com a melhoria da qualidade da educação básica.

"Ao participar dessa avaliação, vamos ter condições de identificar o que está indo bem ou não no ensino público e colaborar com a nossa presença dentro do ensino médio. O estado de São Paulo tem 3 universidades de ponta, do Brasil e do mundo, e podemos colaborar muito mais com a educação básica do que fazemos hoje", disse.

O reitor lembrou que, apesar de ser o estado mais rico do país, São Paulo não tem conseguido melhorar os níveis de aprendizado nas escolas estaduais. Dados do Saresp de 2021 mostram que 96,6% dos alunos terminaram a escola sem ter aprendido sequer como resolver uma equação de primeiro grau.

No Saeb (avaliação federal da educação básica), os resultados mostram que só 7% dos alunos de escolas estaduais paulistas terminam o ensino médio com aprendizado considerado adequado em matemática —percentual que é maior no Espírito Santo, Goiás, Rio Grande do Sul e Ceará.

"Estamos no estado com a melhor economia, com as melhores condições. Seria natural que a gente buscasse a melhor qualidade de ensino para os nossos alunos e as três universidades paulistas podem contribuir mais."

Com o modelo de vestibular seriado, as universidades esperam aumentar o estímulo para os estudantes tentarem ingressar no ensino superior. A rede estadual paulista tem cerca de 400 mil alunos no ensino médio, mas menos de 10% se inscrevem para fazer a Fuvest (prova que dá acesso às vagas na USP).

"A proporção de alunos que terminam o ensino público e acham que têm condições de entrar na universidade é muito pequena e isso é muito ruim. Com esse modelo, vamos ter os 400 mil alunos com a possibilidade de entrar. Acho que esse é um estímulo importante, podemos criar um caminho real de acesso às universidades", disse Carlotti.

Em 2008, com o objetivo de aumentar a participação da rede pública no vestibular, a USP criou um sistema de bonificação conforme o desempenho dos alunos ao longo do ensino médio. A medida, no entanto, teve pouco efeito em incentivar os estudantes.

O vestibular seriado já é usado em outras instituições do país, como a UnB (Universidade de Brasília) e a UPE (Universidade Estadual de Pernambuco). Nesses casos, houve aumento do ingresso de alunos da rede estadual nos cursos de graduação.

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