Descrição de chapéu Agência Fapesp Família

Uso de celular em excesso por adolescentes causa dor na coluna, diz estudo

Jovens com a condição apresentam baixo rendimento acadêmico e mais problemas psicossociais

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Ricardo Muniz
Agência Fapesp

Com a popularização de dispositivos como celulares e tablets e a multiplicação de canais de vídeos, jogos e aplicativos educacionais, crianças e adolescentes passam cada vez mais tempo em frente de telas. E, nesses momentos, é comum adotarem posturas inadequadas, que podem causar, entre outros problemas, dores na coluna vertebral.

Jovens usando celular
A partir de questionário, estudo identificou que jovens que usam aparelhos eletrônicos por mais tempo têm mais problemas de coluna - Adobe Stock

Estudo financiado pela Fapesp e publicado na revista científica Healthcare identificou diversos fatores de risco para a saúde da coluna, como o uso de telas por mais de três horas ao dia, a pouca distância entre o equipamento eletrônico e os olhos, a utilização na posição deitada de prono (de barriga para baixo) e também na posição sentada.

O foco do trabalho foi a chamada dor no meio das costas (thoracic back pain, ou TSP, em inglês). Foram avaliados 1.628 estudantes de ambos os sexos entre 14 e 18 anos de idade, matriculados no primeiro e no segundo ano do ensino médio, período diurno, na área urbana do município de Bauru (SP), que responderam a um questionário entre março e junho de 2017.

Destes, 1.393 foram reavaliados em 2018. A pesquisa constatou que, de todos os participantes, a prevalência de um ano foi de 38,4%, o que significa que os adolescentes relataram TSP tanto em 2017 quanto em 2018. A incidência em um ano foi de 10,1%; ou seja, não notificaram TSP em 2017, mas foram encaminhados como casos novos de TSP em 2018. As dores na coluna ocorrem mais nas meninas do que nos meninos.

Fatores de risco

TSP é comum em diferentes grupos etários na população mundial. Estima-se que afete de 15% a 35% dos adultos e de 13% a 35% de crianças e adolescentes. A pandemia de Covid-19 e a consequente explosão no uso de eletrônicos agravaram a incidência do problema.

Fatores de risco físicos, fisiológicos, psicológicos e comportamentais ou uma combinação destes estão associados à TSP, de acordo com várias investigações. Há também fortes evidências dos efeitos da atividade física, comportamento sedentário e saúde mental na condição da coluna vertebral. Todos esses fatores foram considerados críticos pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em sua mais recente revisão global de evidências e diretrizes.

"Esse trabalho pode ser utilizado para implementar programas de educação em saúde nos diversos níveis escolares, visando capacitar estudantes, professores, funcionários e pais", diz Alberto de Vitta, doutor em educação pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), com pós-doutorado em saúde pública pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Botucatu e um dos autores do artigo.

"Isso vai ao encontro de alguns objetivos dos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), segundo os quais a escola deve assumir a responsabilidade pela educação para a saúde, identificando fatores de risco à saúde pessoal e coletiva no meio em que vivem, intervindo de forma individual ou coletiva sobre os fatores desfavoráveis à saúde e promovendo a adoção de hábitos de autocuidado com respeito às possibilidades e limites do corpo", complementa Vitta, que atualmente leciona e pesquisa no departamento de Fisioterapia da Faculdade Eduvale de Avaré (SP) e no programa de pós-graduação em Educação, Conhecimento e Sociedade da Universidade do Vale do Sapucaí (Pouso Alegre, MG).

Informações sobre fatores de risco para TSP em estudantes do ensino médio são relevantes porque crianças e adolescentes com dor nas costas são mais inativos, apresentam baixo rendimento acadêmico e mais problemas psicossociais, aponta o artigo. Além disso, poucos estudos foram realizados em TSP em comparação com a dor lombar e cervical. Uma revisão sistemática deste tipo de dor identificou apenas dois estudos prospectivos sobre fatores prognósticos.

Além de Vitta, assinam o artigo Matias Noll, Instituto Federal Goiano e da Faculdade de Educação Física e Dança da Universidade Federal de Goiás, Manuel Monfort-Pañego e Vicente Miñana-Signes, da Universidade de Valência (Espanha), e Nicoly Machado Maciel, da USP (Universidade de São Paulo).

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.