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Unifesp só tem dinheiro para funcionar até setembro, diz reitora

Verba repassada pelo Ministério da Educação diminuiu 43% desde 2014

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São Paulo

Prestes a completar 30 anos, a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) enfrenta problemas financeiros. Com o orçamento atual, a instituição só consegue funcionar até setembro deste ano, segundo sua reitora, Raiane Assumpção.

Em entrevista à Folha, ela falou sobre as dificuldades enfrentadas por sua gestão e ressaltou a necessidade de ajuda do governo federal.

Raiane Assumpção, reitora da Universidade Federal de São Paulo
Raiane Assumpção, reitora da Universidade Federal de São Paulo - Divulgação/ Unifesp

Há dez anos, a Unifesp operava com o chamado orçamento de custeio –utilizado para pagar a operação diária, sem contar o salário de professores e funcionários– de mais de R$ 159 milhões, em valores corrigidos pela inflação.

Neste ano, trabalha com pouco mais R$ 90 milhões, uma diminuição de 43%. É o menor repasse desde 2014, excluindo o período da pandemia (2021-2022).

Já o orçamento de capital –investimentos em construções e instalações– repassado pelo MEC (Ministério da Educação) "foi quase inexistente nos últimos três anos", disse Assumpção.

A universidade recebeu recursos pontuais para obras emergenciais em seus campi em São José dos Campos (no interior do estado), São Paulo, Osasco e Diadema (ambas na região metropolitana da capital). Este última é alvo de recorrentes reclamações de alunos quanto a sua infraestrutura.

Um problema adicional surgiu em dezembro, diz ela. O orçamento das universidades federais para 2024 foi reduzido no Congresso Nacional, comparado ao ano anterior. O montante foi de R$ 6,2 bi em 2023 para R$ 5,9 bi. Assim, cada universidade perdeu 10% da verba, aproximadamente.

"Os recursos que temos dão até setembro", afirmou a reitora da Unifesp, eleita em julho de 2023. "Isso considerando o funcionamento mínimo, sem fazer nenhuma coisa nova. É pagar o básico. Segurança, limpeza, energia, água e telefone", explicou.

Até dezembro, a universidade ainda tinha um respiro: emendas parlamentares de bancada. Com a progressiva diminuição da verba liberada pelo governo, elas se tornaram cada vez mais importantes para o funcionamento dos centros de ensino, segundo a reitora.

Em 2023, as emendas representaram 11,85% do orçamento total dessas instituições, segundo dados das próprias universidades federais, um aumento significativo em relação a 2014, quando representavam 1,57%.

Neste ano, porém, os deputados priorizaram seus repasses ao governo estadual, de acordo com Assumpção, deixando de lado as universidades federais. "Nós não recebemos nada. Estamos vendo se conseguimos algo. É necessário que os deputados federais mandem o recurso para nossa sobrevivência", disse ela.

Desde esta quarta-feira (22), a reitora participa de um encontro de gestores de instituições federais na Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), no interior paulista. Eles têm como tema central o orçamento das instituições.

"A situação de todas é parecida à da Unifesp, algumas estão até piores", afirmou a reitora.

O grupo, segundo ela, pede recomposição urgente da verba perdida de 2023 para 2024, ao menos para conseguir terminar o ano. Assumpção também considera urgente a criação de um sistema que deixe mais estável o montante recebido por cada universidade por ano.

Para isso, o grupo cita o modelo da USP (Universidade de São Paulo) e das outras universidades públicas paulistas, que recebem um percentual fixo do que o governo estadual arrecada com ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços).

Enquanto nada do tipo é colocado em prática, a Unifesp tenta manter o funcionamento de seus serviços por meio de arrecadação própria. O caixa é preenchido por dinheiro cobrado no vestibular, concurso público e até aluguel de espaços, entre outros.

Há, porém, uma trava: a universidade só pode embolsar R$ 6 milhões do que angaria. Toda sobra deve ser enviada à União.

Outra fonte de renda vem de órgãos de fomento para projetos de pesquisa em áreas como saúde, agricultura e direitos humanos. Todo esse valor é revertido em bolsas de pesquisa e extensão.

"Para conseguir receber esses projetos, no entanto, precisamos oferecer condições mínimas de infraestrutura e funcionamento. E isso só é possível com investimento constante", diz Assumpção.

Ela diz ter ter contatos frequentes com representantes do governo Lula (PT), mas que apenas recebe respostas pontuais sobre os pedidos.

A Unifesp é uma das três universidades federais do estado, ao lado da Ufscar e da UFABC (Universidade Federal do ABC). È formada por 7 campi localizados nas cidades de Diadema, Guarulhos, Osasco, Santos, São José dos Campos e São Paulo (que tem dois campi). Hoje, há 14.664 alunos de graduação matriculados e 7.459 de pós-graduação.

Em 2023, a instituição de ensino apareceu entre as melhores da América Latina (5º lugar) pela Times Higher Education, sendo a 3ª melhor universidade brasileira e a primeira universidade federal do país.

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Comentários

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MARCO ANTONIO FARIAS COUTINHO

24.mai.2024 às 12h46

Enquanto as UFs dependerem de emendas parlamentares em vez de verbas do orçamento da União, como se fazia antes da derrocada do nosso sistema político, essas matérias deveriam ser feitas em cada uma das Federais. E depois enxergam nossa greve somente por reposição salarial falando bobagebs.