Educação

Por Fernando Pacífico, g1 Campinas e Região


Candidato durante a 1ª fase do Vestibular 2023 da Unicamp — Foto: Leandro Ferreira

O g1 Campinas teve acesso na tarde desta terça-feira (8) à resposta da Unicamp para a questão que abordou na 1ª fase do vestibular 2023 o uso de manicômios e hospícios no Brasil, a partir de menção sobre Stella do Patrocínio. A universidade estadual considerou a alternativa "D" como a correta e a argumentação foi enviada para um cursinho que havia formalizado posicionamento pela anulação sob argumento de que ela poderia ter mais de uma resposta aceita. Confira abaixo detalhes.

Questão polêmica

A questão que menciona Stella do Patrocínio, segundo três cursos pré-vestibulares ouvidos pela reportagem, é de língua portuguesa e não tem apenas uma resposta correto. Ela está no número 3 das provas Q, Z, S e X. Já nos cadernos R e Y ela é a pergunta 55, enquanto que nos exames T e W é a 19.

Veja abaixo o texto de apoio, o enunciado, as alternativas de resposta e a argumentação da Comvest:

Quebrando o silêncio dos hospícios

Stella do Patrocínio, apesar de ser reconhecida postumamente como poeta, nunca se definiu assim e não escreveu nenhuma das linhas que estão no livro Reino dos bichos e dos animais é o meu nome, pelo qual ficou conhecida. A potência de suas palavras se encontra no seu falatório (como chamava suas falas), que foi preservado em fitas de áudio pela artista plástica Carla Guagliardi. As conversas entre as duas foram gravadas durante oficinas de arte para pacientes psiquiátricos, entre 1986 e 1988, e o livro, publicado muitos anos depois da morte de Patrocínio, é um recorte de frases dela, transcritas desses diálogos.

As falas de Patrocínio são de uma mulher negra e pobre que foi levada à força pela polícia e internada, no Centro Pedro 2º e depois na Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, onde ficou por trinta anos; quando morreu, foi enterrada como indigente. A história de Patrocínio é a história de milhares de vítimas que foram encarceradas nos hospícios brasileiros por serem consideradas “desajustadas”. Em sua maioria negras. Ali, elas sofreram abusos, violências e torturas, além de serem abandonadas pelo Estado.

(Adaptado de: Quebrando o silêncio dos hospícios. Quatro cinco um, 05/2022, p. 27.)

Questão

Examinando a relação do título com o corpo do excerto da reportagem de revista, o que representa a quebra do “silêncio dos hospícios”?

a) A morte esquecida de Stella do Patrocínio em uma instituição para reclusão de pessoas com transtornos mentais (ou assim consideradas).

Comvest: "Associa incorretamente a morte de Patrocínio à quebra do 'silêncio'".

b) As oficinas de arte que permitiram a Stella do Patrocínio tornar pública a sua voz e as histórias de mulheres encarceradas em instituições manicomiais.

Comvest: "Aponta para os falatórios, mas tem formulação incorreta ao afirmar que foi Stella quem tornou pública a sua voz (e a de outras mulheres), quando, a verdade, o processo de tornar públicas suas falas ocorreu postumamente, a partir da publicação do livro, contendo recortes do conteúdo das gravações. O texto explicita que Stella "não escreveu nenhuma das linhas que estão no livro" e, portanto, não lhe pode ser atribuído o papel de ter levado ao grande público o conhecimento da sua condição".

c) O livro de Stella do Patrocínio que narra as histórias de mulheres vítimas de violência manicomial, abandonadas pelo Estado.

Comvest: "É incorreto, pois o livro não narra a história de mulheres vítimas de violência manicomial, mas apresenta recortes de frases de Stella (o seu 'falatório'), transcritas dos diálogos que teve com a artista plástica Carla Guagliardi".

d) As falas gravadas de Stella do Patrocínio que expressam tanto o seu percurso individual quanto a história de outras mulheres.

Comvest: "O que permite quebrar o 'silêncio dos hospícios' (ou seja, tornar público o que acontecia dentro dos manicômios) é, de acordo com o texto, a potência das falas gravadas de Stella do Patrocínio, cujo conteúdo não apenas revela a experiência vivenciada por ela, mas também representa a situação de outras vítimas de encarceramento manicomial. O item que apresenta corretamente esses pontos é o D."

A 1ª fase do vestibular 2023

A prova com 72 questões de múltipla escolha foi realizada por 56,6 mil candidatos no domingo (6). A universidade oferece 2.540 vagas em 69 cursos e o índice de abstenção foi de 8,14%, informou a comissão organizadora (Comvest). A lista de aprovados para a 2ª fase sai em 3 de dezembro.

Conteúdo da prova (questões)

  • 12 de língua portuguesa e literatura
  • 12 de matemática
  • 8 de cada disciplina: biologia, física, geografia/sociologia, história/filosofia, inglês e química

A avaliação seguiu o modelo da edição anterior do vestibular e foi aplicada em 31 cidades de São Paulo, além de Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Curitiba (PR), Fortaleza (CE) e Salvador (BA).

Resumo da 1ª fase

A Unicamp manteve a tradição de estabelecer diálogos entre conteúdos do ensino médio e assuntos do cotidiano na 1ª fase do Vestibular 2023 ao abordar temas como transfeminismo, a presença do cristianismo em comunidades periféricas e o uso de selfies e linguagens da internet como recursos de comunicação. Confira aqui a lista de assuntos e a repercussão com estudantes.

Além disso, o exame percorreu assuntos como resistência à ditadura no Brasil, pandemia, saúde mental - uso de manicômios e hospícios no país, reservas extrativistas e Amazônia, além do uso de armas e massacres registrados em países como Canadá e Estados Unidos.

Candidatos realizam a prova da 1ª fase do Vestibular da Unicamp 2023 — Foto: Leandro Ferreira

Próximas etapas

As próximas provas do processo seletivo serão nos dias 11 e 12 de dezembro - período em meio à realização da Copa do Mundo no Catar, entre 21 de novembro e 18 de dezembro. O calendário foi definido de maneira conjunta entre responsáveis pelos vestibulares das universidades públicas de São Paulo, para evitar que datas coincidam e ainda facilitar a participação de candidatos nos exames.

A primeira lista de aprovados será divulgada em fevereiro de 2023, com matrícula on-line entre os dias 7 e 9. O semestre letivo começa no mês de março e a Unicamp prevê até oito chamadas.

LEIA MAIS

Os dez cursos mais concorridos

  • Medicina - 293,87 candidatos por vaga (c/v)
  • Arquitetura e urbanismo - 83
  • Ciência da computação - 75,85
  • Ciências biológicas - 49,79
  • Engenharia de computação - 44,7
  • Comunicação social - midialogia - 39,58
  • Farmácia - 32,5
  • Enfermagem - 28,5
  • Ciências Econômicas (integral) - 29,61
  • História - 27,47

Cronograma

  • Lista de aprovados para 2ª fase: 3 de dezembro de 2022;
  • 2ª fase: 11 e 12 de dezembro de 2022;
  • Provas de habilidades específicas: 4 a 6 de janeiro de 2023;
  • Divulgação da primeira chamada: 6 de fevereiro de 2023;
  • Matrícula on-line da primeira chamada: 7 a 9 de fevereiro de 2023;

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