Educação

Por Naira Zitei, g1 Campinas e Região


Estudantes sobem escadas para chegar às salas de aplicação das provas da segunda fase da Unicamp — Foto: Júlio César Costa/g1

Os estudantes que realizaram a primeira prova da 2ª fase da Unicamp, neste domingo (11), tiveram que escolher entre escrever uma redação sobre racismo ou porte de armas. O exame também contou com questões dissertativas de português, inglês e ciências da natureza. Um dos assuntos abordados foi a aporofobia.

Candidatos ouvidos pelo g1 na saída da prova comentaram que a proposta sobre racismo exigia que o estudante escrevesse um depoimento sobre se já presenciou, sofreu ou cometeu ato racista em escolas. O depoimento contemplaria um projeto de educação antirracista.

Como textos de apoio, a Unicamp reuniu dados sobre evasão escolar de pessoas pretas e brancas. Além disso, ofereceu um texto sobre educação antirracista e como o tema é pouco debatido.

O estudante Ian Santos do Nascimento, de 20 anos aprovou a abordagem adotada pela prova. "Eu gostei do tema, achei que foi uma oportunidade ótima que a Unicamp deu para falar sobre questões pessoais. E mesmo você não sendo uma pessoa preta, poderia falar se já presenciou. Essa é uma ótima discussão que precisa ser cada vez mais ressaltada".

Porte de armas

Já na proposta das armas, a Unicamp contextualizou o aumento de mortes após a flexibilização do porte no Brasil. Os estudantes tinham de analisar os perigos do uso de armas e a eficácia da política de segurança pública.

Como apoio, a Unicamp escolheu, entre outros textos, uma tabela que comparava os locais que tinham mais mortes pelo uso das armas e que mostrava o aumento em 2020 do número de armas. Outra publicação informava que facções criminosas usam pessoas com permissão para comprar armas para aumentar o arsenal.

Candidato usa máscara durante primeira prova da 2ª fase do vestibular Unicamp 2023 — Foto: Júlio César Costa/g1

Aporofobia

Os candidatos responderam seis questões de língua portuguesa e literaturas de língua portuguesa; duas questões interdisciplinares em língua inglesa; e outras duas de ciências da natureza.

Uma das perguntas abordou a aporofobia, prática que usa artifícios como espetos, pedras e cacos de vidro para evitar a presença de moradores em situação de rua. A situação é denunciada constantemente pelo Padre Júlio Lancellotti, que usa as redes sociais para expor exemplos em todo o Brasil.

A questão usa uma citação de Júlio Lancellotti, que atua na Pastoral do Povo da Rua, em São Paulo, e um anúncio contra esmolas como exemplos de aporofobia. Há, ainda, uma imagem de bancos.

"Achei muito interessante, trouxe um debate que me fez pensar. E os textos me fizeram entender melhor o tema e abordar sobre", comentou o estudante Miguel Silva Ferreira, 18 anos.

Padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo da Rua, destruindo paralelepípedos a marretadas — Foto: Reprodução/Instagram

"Eu achei que a prova foi tranquila comparada ao Enem. Eu senti que foi mais curta, mas que algumas questões foram complicadas. Na redação, eu senti que tinha mais conteúdos para se basear e achei que foi mais fácil, pois eles te colocam em uma situação", completou o estudante.

Veja, abaixo, outros temas abordados:

  • Releitura do quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo, com celulares no lugar das espadas
  • Mudança dos termos favela e favelado para comunidade e morador de comunidade.
  • Uso de novas tecnologias
  • Mudanças climáticas e como o vidro foi importante para a preservação das vacinas (inglês)
  • Processo de derretimento de vidro e potência de energia elétrica gerada por energia eólica (ciências da natureza)
  • Bordão que viralizou na web "É sobre isso, e tá tudo bem"
  • Aporofobia, prática de usar elementos para afastar pessoas em situação de rua, como pregos no chão e cacos de vidro sob viadutos
  • Poema de Olavo Bilac
  • Citação do livro "O Ateneu", de Raul Pompeia

O vestibular

Foram convocados para a segunda fase 12.708 candidatos. A prova deste domingo começou às 13, com duração de cinco horas.

A universidade oferece 2.540 vagas em 69 cursos. Nesta etapa, as avaliações ocorrem em 17 cidades de São Paulo (14 a menos do que na 1ª fase), além de Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Curitiba (PR), Fortaleza (CE) e Salvador (BA).

Em Campinas (SP), onde fica a reitoria da universidade, as provas ocorrem no campus I da PUC-Campinas e no campus II da Unip.

A Unicamp tem pela primeira vez, nesta 2ª fase, provas coloridas com objetivo de deixá-las mais didáticas para os participantes. Veja, abaixo, como as provas foram organizadas.

Domingo: mesma prova para todos

  • Redação: duas propostas de textos para que o candidato escolha e execute apenas uma;
  • Língua portuguesa e literaturas de língua portuguesa, com seis questões;
  • Duas questões interdisciplinares em língua inglesa;
  • Ciências da natureza (interdisciplinar): duas questões;

Segunda: provas comuns a todos os candidatos

  • Matemática: seis questões;
  • Ciências humanas (interdisciplinar): duas questões;

Segunda: provas de conhecimentos específicos

  • Candidatos da área de ciências biológicas/saúde: seis questões de biologia e seis questões de química;
  • Candidatos da área de ciências exatas/tecnológicas: seis questões de física e seis questões de química;
  • Candidatos da área de ciências humanas/artes: seis questões de geografia e seis questões de história, englobando conteúdos de filosofia e sociologia;

Pontuação

  • Questão dissertativa: 4 pontos cada
  • Cada questão tem dois itens: 2 pontos cada item

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A 1ª fase do vestibular 2023

A Unicamp, na prova de 1ª fase, abordou temas como transfeminismo, a presença do cristianismo em comunidades periféricas e o uso de selfies e linguagens da internet como recursos de comunicação. Confira aqui a lista de assuntos e a repercussão com estudantes.

Além disso, o exame percorreu assuntos como resistência à ditadura no Brasil, pandemia, saúde mental - uso de manicômios e hospícios no país, reservas extrativistas e Amazônia, além do uso de armas e massacres registrados em países como Canadá e Estados Unidos.

Conteúdo da prova (questões)

  • 12 de língua portuguesa e literatura
  • 12 de matemática
  • 8 de cada disciplina: biologia, física, geografia/sociologia, história/filosofia, inglês e química

Cronograma

  • 2ª fase: 11 e 12 de dezembro de 2022;
  • Provas de habilidades específicas: 4 a 6 de janeiro de 2023;
  • Divulgação da primeira chamada: 6 de fevereiro de 2023;
  • Matrícula on-line da primeira chamada: 7 a 9 de fevereiro de 2023;

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