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Brasil Educação

Uma em cada cinco escolas públicas de ensino médio do país não tem banda larga

MEC anunciou que até 2026 o Enem será feito digitalmente, mas quase 18% das instituições públicas também não possuem laboratório de informática
Enem é a principal via de acesso ao ensino superior do país Foto: Terceiro / Agência O Globo
Enem é a principal via de acesso ao ensino superior do país Foto: Terceiro / Agência O Globo

RIO — O Ministério da Educação ( MEC ) anunciou nesta quarta-feira que o Exame Nacional do Ensino Médio ( Enem ) será totalmente digital até 2026 . O projeto do governo é fazer uma migração progressiva para o modelo aplicado pelo computador já a partir do ano que vem, mas dados do Censo Escolar 2018 indicam que a tarefa não será simples.

Isso porque, segundo as estatísticas, uma em cada cinco escolas públicas de ensino médio no país, ou seja, quase 20%, não tem internet banda larga , e 17,9% não têm nem sequer laboratório de informática. Em relação à conexão online, 6,4% das escolas públicas da etapa não têm conexão.

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Na rede privada, a cobertura de banda larga é melhor: apenas 4,9% não têm esse serviço, e somente 1,3% não tem conexão com a internet. A infraestrutura em termos de laboratórios de informática, no entanto, é inferior à da rede pública: apenas 31,6% não têm.

— Se considerarmos dados agregados de Brasil, na região Norte, Nordeste e nas zonas rurais, o índice de acesso à internet e à banda larga é muito baixo. Mesmo onde há conectividade, ela é muito baixa e precária, instável. Entre os cerca de cinco mil municípios, mais de mil não têm acesso nenhum à rede. Em um país continental como o nosso esse é um desafio que precisa ser contornado — afirmou Thiago Tavares, diretor presidente da ONG SaferNet Brasil, que atua no combate a crimes virtuais.

Segurança da prova é outro desafio

Em coletiva de imprensa nesta quarta-feira, o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes, diz não ver problemas nem riscos eventuais de uma prova em formato digital . Segundo ele, a empresa contratada para fazer a aplicação será responsável por fornecer estrutura necessária para fazer o Enem nesses moldes.

— O consórcio será responsável por obter as salas para aplicação digital. E a gente ajuda nessa parceria com as secretarias de educação estaduais e municipais — disse Lopes.

A infraestrutura, porém, não é o único desafio na aplicação do exame digital. Segundo Tavares, o MEC precisa estar preparado para garantir que esses computadores não sejam atacados virtualmente. Ele explica que qualquer computador conectado está suscetível a intervenções:

— É preciso pensar em uma série de estratégias para contornar, inclusive, o risco de ataques a servidores de internet nos locais de aplicação. Até os servidores da Nasa são suscetíveis a ataques, grandes estruturas de gigantes da internet como o Twitter e o Facebook já foram alvo. São ações conhecidas como "ataques de negação de serviço", que procuram sobrecarregar o servidor e fazê-lo parar de funcionar. Não há uma maneira de garantir uma proteção 100% contra isso.

Questionado em coletiva de imprensa sobre a segurança do exame, o ministro da educação, Abraham Weintraub, garantiu que o Brasil tem tecnologia para preservar a inviolabilidade do exame.

— A gente sempre tem que ficar atento porque bandido é sempre criativo, mas hoje achamos que a segurança e a tecnologia que o Brasil tem nos permite fazer isso. Além disso, só essa última etapa da aplicação é analógica, o resto todo é digital — defendeu o ministro, falando também da fiscalização em sala:

— Vai ter um fiscal verificando tudo. É como o Enem (atual), tem que ter um fiscal. Não é que você vai chegar ficar sozinho, você é o computador, terá um fiscal. Como é feito no Toefl.

O presidente do Inep disse ainda que a identificação dos candidatos já será feita de maneira eletrônica:

— Na prova piloto, a identificação já será eletrônica. Não será em papel. Hoje em dia a gente colhe a digital em uma folha e remete a uma (...) logística para digitalizar e trazer de volta para nós. A identificação já será digital para aplicação digital.