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Uma a cada quatro pessoas negras com mais de 60 anos é analfabeta, diz IBGE

Pnad Contínua Educação 2019: dos 10 milhões de pessoas entre 14 e 29 anos que abandonaram as aulas sem ter completado o ensino médio, 71,7% são pretos ou pardos
Alfabetização Foto: Divulgação
Alfabetização Foto: Divulgação

Um a cada quatro (27%) pessoas negras com mais de 60 anos é analfabeta, segundo a Pnad Contínua Educação 2019, divulgadas nesta quarta-feira pelo IBGE . O índice entre idosos brancos é de um a cada dez (9,5%). Considerando a população de mais de 15 anos, a diferença entre brancos e negros é ainda de quase três vezes maior: 8,9% contra 3,6%.

— São muitas exclusões que o racismo estrutural causa que vão se somando para chegar a esses número — avalia Catarina Santos, professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília.

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Segundo a Pnad Contínua Educação, dos 10 milhões de pessoas entre 14 e 29 anos que abandonaram as aulas sem ter completado o ensino médio, 71,7% são pretos ou pardos.

Por conta disso, a média de escolaridade de pessoas com mais de 25 anos é menor entre os pretos ou pardos. Em geral, estudam 8,6 anos em comparação com 10,4 dos brancos.

Analise da Silva, professora da UFMG especialista em educação de jovens e adultos, explica essa desigualdade como a consequência dos processos de escravidão.

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— Demorou bastante tempo até que os afrodescentes pudessem entrar na escola — diz Analise. — Além disso, o racismo estrutural faz com que as crianças negras sejam menos valorizadas na escola. E essa menor valorização as leva ao abandono e reprovação.

Idade influencia no abandono

A taxa de analfabetismo tem, segundo a pesquisa do IBGE, um forte componente demográfico. Em 2019, eram quase 6 milhões de analfabetos com 60 anos ou mais, o que equivale a uma taxa de analfabetismo de 18,0% para esse grupo etário.

Ao incluir os grupos etários mais novos, a taxa cai: para 11,1% entre as pessoas com 40 anos ou mais, 7,9% entre aquelas com 25 anos ou mais e 6,6% entre a população de 15 anos ou mais.

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“Esses resultados indicam que as gerações mais novas estão tendo um maior acesso à educação e sendo alfabetizadas ainda enquanto crianças”, informa a pesquisa.

Ainda segundo a Pnad, 8,5% abandonaram a escola até os 13 anos e 8,1% aos 14 anos. Já aos 15 anos, na entrada do ensino médio, a taxa dá um salto para 14,1%. Sobe para 17,8% aos 17 anos e chega ao pico de 18% aos 19 anos ou mais.

O marco dos 15 anos, acontece em todas as Regiões, sendo bem expressivo no Sul (16,3%), no Sudeste (14,9%) e no Nordeste (13,9%). Entre 16 e 18 anos, Norte e Nordeste exibiram percentuais de abandono entre 14,0% e 16,4%, saltando para, respectivamente, 26,6% e 22,2% aos 19 anos ou mais.

“Essa maior saída tardia da escola deve, provavelmente, estar associada a um esforço desses jovens para recuperar o atraso educacional”, avalia a pesquisa do IBGE.