Sala de aula vazia em escola de Fortaleza, no Ceará. — Foto: SVM
Três a cada dez crianças em idade escolar estão sem acesso ao ensino remoto durante a pandemia, de acordo com o relatório "A acessibilidade do aprendizado remoto", do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgado nesta quinta-feira (27).
O índice representa 463 milhões de crianças em todo o mundo, desde a pré-escola até o ensino médio. A maior parte (72%) é de famílias pobres.
“Para pelo menos 463 milhões de crianças cujas escolas fecharam devido à Covid-19, não existiu a aprendizagem remota”, disse Henrietta Fore, diretora-executiva do Unicef. “O grande número de crianças cuja educação foi completamente interrompida por meses a fio é uma emergência educacional global. As repercussões poderão ser sentidas nas economias e sociedades nas próximas décadas.”
Para o Unicef, é primordial que os governos deem prioridade à reabertura de escolas assim que a taxa de contaminação diminuir nas regiões. A entidade apela para que, quando a reabertura não for possível, que sejam feitas ações para compensar a aprendizagem perdida.
Crianças mais novas são as mais atingidas
O Unicef alerta que as crianças em idade pré-escolar são as mais atingidas pela falta de acesso à educação remota. — Foto: Erika Fletcher / Unsplash
O Unicef alerta que as crianças em idade pré-escolar são as mais atingidas pela falta de acesso à educação remota.
Segundo a entidade, 120 milhões de crianças em idade pré-escolar (70%) estão sem ensino e aprendizagem, "em grande parte devido aos desafios e limitações da aprendizagem online para crianças pequenas". Nesta etapa, faltam programas adequados de aprendizagem remota e bens domésticos para concluir o ensino.
No ensino fundamental, ao menos 29% dos estudantes dos primeiros anos deste ciclo (217 milhões) e 24% (78 milhões) dos estudantes do ciclo final estão sem aprender formalmente.
Já os estudantes do ensino médio tiveram menores prejuízos, proporcionalmente. Pelo menos 48 milhões de adolescentes (18%) não estão tendo os recursos tecnológicos para acessar a aprendizagem remota.
Desigualdade no acesso ao ensino remoto
A África teve a maior parcela de estudantes não alcançados pelas atividades remotas: 49% dos alunos estão sem aprendizagem durante o período. A América Latina e o Caribe possuem o menor índice, de 9%. No entanto, em diversos países a percepção é de que a aprendizagem está defasada.
Crianças sem ensino remoto, segundo o Unicef
Região | Nº | % |
África Oriental e Meridional | 67 milhões | 49% |
África Ocidental e Central | 54 milhões | 48% |
Oriente Médio e Norte da África | 37 milhões | 40% |
Ásia Meridional | 147 milhões | 38% |
Europa Oriental e Ásia Central | 25 milhões | 34% |
Leste da Ásia e Pacífico | 80 milhões | 20% |
América Latina e Caribe | 13 milhões | 9% |
Mundo (total) | 463 milhões | 31% |
"Os resultados revelam grandes lacunas no acesso a dispositivos eletrônicos, como computadores ou telefones celulares, e para conexões de internet ou outras modalidades de distância educação, especialmente em áreas pobres e rurais", diz o Unicef.
"Mesmo quando as crianças têm a tecnologia e as ferramentas em casa, elas podem não ser capazes de aprender remotamente por meio dessas plataformas devido a outros fatores em casa, incluindo pressão para fazer tarefas domésticas, obrigação de trabalhar, um ambiente ruim para aprendizagem e falta de apoio para seguir o currículo online ou sua transmissão", alerta a entidade.
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