Enem 2020

Por Luiza Tenente, G1


Para cuidar das irmãs mais novas, Bruna não pôde assistir às aulas on-line da escola. Ela teme não ter um bom desempenho no Enem. — Foto: Arquivo pessoal

Bruna Caporal, de 17 anos, diz que está ansiosa para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), marcado para janeiro de 2021 - sua família espera que ela seja aprovada em uma universidade federal de Porto Alegre. A jovem, no entanto, teme frustrar as expectativas: ela não pôde acompanhar as atividades on-line da escola durante a pandemia. Teve de estudar sozinha.

“Minha mãe e meu padrasto trabalham em hospital, então não ficaram em casa na quarentena. Com as creches fechadas, precisei cuidar das minhas irmãs [Laura, de 5 anos, e Livia, de 1 ano] bem no horário das minhas aulas”, diz Bruna. “A mais nova tem síndrome de Down e exige mais atenção. Não tinha como não cuidar delas.”

Segundo especialistas, ainda não é possível mensurar o impacto na pandemia de Covid-19 na saúde mental dos jovens. Mas é provável que o tradicional “friozinho na barriga” antes do Enem seja mais intenso após um ano de crise.

“Tudo ainda é muito recente e está sendo pesquisado. Mas já sabemos que muitos jovens estão angustiados”, afirma Rita Calegari, psicóloga do Hospital de Campanha Pedro Dell'Antonia, em Santo André (SP).

No caso de Bruna, a solução foi estudar no fim do dia, sozinha, por meio de vídeos do YouTube. “É difícil, tenho medo de não conseguir um bom resultado no Enem. Já sou ansiosa normalmente, mas estou mais preocupada ainda agora”, conta.

Desafios na pandemia

Calegari menciona a dificuldade de adaptação ao ensino a distância.

Com a suspensão das aulas presenciais, parte dos alunos ficou desamparada: sem computador ou celular, com acesso restrito à internet e sem um espaço apropriado para os estudos em casa. Outros, como Bruna, precisaram abandonar as aulas por causa de afazeres domésticos. Houve ainda os que conseguiram assistir às aulas on-line, mas não se acostumaram ao formato.

Jovens enfrentaram dificuldades no ensino remoto — Foto: Ana Kézia Gomes/G1

“Esses jovens sabem que tinham de absorver 100% do conteúdo, mas só conseguiram 40%. Isso traz mais ansiedade”, completa Calegari.

A psicóloga cita ainda outros elementos que podem abalar o estado emocional dos jovens no preparo para o Enem: isolamento social, sentimento de culpa, crise financeira familiar, gravidez na adolescência, abuso de álcool e uso de drogas.

“Isso tem a ver com o momento em que descobrem a impotência e a finitude. Eles perderam parentes próximos ou amigos. Além da ansiedade esperada antes da prova, podem estar de luto”, diz Calegari.

Sabine Pompeia, professora do departamento de psicobiologia da Unifesp, reforça que as consequências negativas afetarão mais os alunos pobres.

“Muitos não tiveram condição de se proteger, tiveram de trabalhar, pegar transporte público, depois voltar para casa e ficar com vários familiares em um espaço pequeno", explica.

"É uma situação que também provoca um aumento de casos de violência doméstica. E os impactos são diferentes para meninos e meninas. Eles são forçados a atitudes contra a lei. Elas ficam encarregadas de cuidar dos irmãos e de limpar a casa. Pode ser um desastre.”

Um pouquinho de ansiedade é normal?

Rita Calegari explica que ficar ansioso antes do Enem é algo esperado - e, inclusive, desejável. “É uma resposta natural do ser humano; indica preocupação. A princípio, é necessária, porque indica que sabemos quão importante é a prova. É como o sal: precisamos colocar um pouquinho na comida. Mas, se exagerarmos, estragamos o prato”, compara.

E como saber qual a dose certa de ansiedade?

“A ansiedade não pode atrapalhar nosso dia a dia. A prova está chegando, é natural que o sentimento se intensifique. Mas não deve trazer irritabilidade ou interferir no sono, na alimentação e no funcionamento do intestino. São sinais de que o corpo está sofrendo além do que seria saudável”, explica a psicóloga.

Enem em 90 segundos

Enem em 90 segundos

Pompeia alerta para os casos em que os sintomas listados acima são combatidos com automedicação. “Muitos estudantes usam remédios para aumentar a concentração na hora da prova. Mas não há nenhuma evidência de que funcionem para pessoas saudáveis. Inclusive, podem causar efeitos colaterais”, diz a professora.

O que fazer para se acalmar?

Se o jovem descobrir apenas agora que seu quadro de ansiedade está exacerbado, poderá procurar uma ajuda médica, mas sem a expectativa de que a solução apareça antes do Enem. “Não dá tempo de resolver o problema de um ano ou de uma vida inteira. É bom ajustar as expectativas, para não se frustrar”, afirma Calegari.

Alimentação saudável é fundamental para o bom desempenho do candidato no Enem — Foto: Freepik

A psicóloga e a professora Sabine Pompeia dão dicas que podem trazer alívio ao nervosismo. Veja a lista abaixo:

  • Simular condições do exame. “Faça uma prova teste em casa, com o mesmo número de horas do Enem, de máscara. Separe a caneta, veja o que comer antes. Isso dá mais segurança no dia do exame”, diz Pompeia.
  • Praticar meditação mindfulness. “Vários links na internet ensinam a técnica. É muito simples: só ficar sentado, em posição confortável, prestando atenção na própria respiração. Sempre que a mente for para outro lugar, volte para a respiração”, sugere a professora. “É difícil, mas a prática ajuda. Pode ser por 5 minutos, todo dia.”
  • Seguir dieta leve e saudável. “Alimentos frescos e saudáveis aumentam a vitalidade”, afirma Calegari.
  • Praticar atividades físicas, tomando os cuidados para se proteger da Covid-19.
  • Pegar leve nos estudos. “Não dá para aprender agora o conteúdo de um ano inteiro. O ideal é só manter o ‘tônus’, diminuindo o ritmo. Em vez de estudar por 5 horas seguidas, faça uma revisão de 1h30”, diz a psicóloga.

Cronograma do Enem

  • Provas impressas: 17 e 24 de janeiro
  • Provas digitais: 31 de janeiro e 7 de fevereiro
  • Reaplicação: 23 e 24 de fevereiro
  • Resultados: 29 de março

Assista a um vídeo com as principais informações sobre o Enem 2020:

Enem em 90 segundos

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