Turma de AEE desenha ‘Liga da Inclusão’ para reforçar importância da diversidade na escola - PORVIR
Crédito: smolaw11/iStock

Diário de Inovações

Turma de AEE desenha ‘Liga da Inclusão’ para reforçar importância da diversidade na escola

por Anderson Gomes dos Santos ilustração relógio 11 de janeiro de 2023

Que tal propor aos alunos a criação de super-heróis reais, que defendem o planeta e a causa das pessoas com deficiência? Essa é a proposta da “Liga da Inclusão”, criada em 2022 com a turma de AEE (Atendimento Educacional Especializado) da Escola Estadual Graciliano Ramos, localizada em Palmeira dos Índios, no agreste de Alagoas. 

A escola é de ensino médio e conta com 350 alunos, sendo 10 estudantes com deficiência. Os estudantes que atendo no AEE são cinco, com idades entre 15 a 18 anos. Durante os atendimentos na sala de recursos multifuncionais, surgiu a necessidade e a vontade de reunir arte e ciências no formato de histórias em quadrinhos e, nelas, retratar personagens que lutam por uma sociedade inclusiva e sustentável.

Clique na imagem abaixo para conferir a galeria de personagens:

Tanto a arte quanto a ciência são importantes para as vivências na educação especial. Ambas funcionam como instrumentos que fortalecem a proposta de trabalho dentro da pedagogia de projetos no espaço da sala de recursos. Trabalhamos com práticas que buscam reforçar o engajamento, o protagonismo e a participação autônoma de nossos estudantes. 

Uma dica: antes de tudo, é necessário conhecer as áreas de interesse dos alunos. Durante três meses, fizemos oficinas para decidir quem seriam os personagens. Um primeiro passo foi levar para a classe quadrinhos de diversos formatos, dos mais antigos aos mais atuais (como mangá, por exemplo). É preciso entender qual a relação deles com as HQs e em que momento da vida isso aconteceu. 

No AEE, é importante dialogar com os estudantes sobre o Projeto de Vida, compreender também esse aspecto. É um um ponto fundamental nos atendimentos, pois podemos visualizar as áreas de interesse, perspectivas e sonhos dos estudantes e relacioná-los com a criação dos personagens.

Inicialmente, cada aluno criou um personagem baseado em seus interesses e gostos pessoais. Notei que a turma aderiu rapidamente à proposta: a atividade é super estimulante e provoca a criatividade da turma. 

Um dos alunos, o Gabriel Firmino, de 18 anos, já é escritor. Ele é autista e adora histórias de ficção. A proposta de construir os quadrinhos coletivamente foi um desafio interessante para ele, que participou ativamente, apresentando várias ideias. Neste ano, inclusive, teremos um momento de lançamento das histórias que o Gabriel escreve. 

Gabriel criou o Camilo, um jovem que teve um experimento alienígena após uma explosão. Muito inteligente, passa a ter movimentos rápidos e, quando recebe os superpoderes, transforma-se no Autaalien. 

Seu colega, Eduardo, de 18 anos, deu vida ao personagem Nelson, um menino surdo que gosta de jogar videogame e defender a natureza.

Outro estudante, o Jamerson, adora skate. Ele desenhou o Capitão Elástico, chamado Andrey. Cego de um olho, o personagem é filho de um cientista famoso, que mora com seus dois irmãos, gosta de andar de skate e tem superpoderes e elasticidade.

Os desenhos são feitos em rascunho pelos estudantes; neles, eles esboçam as ideias iniciais. A Márcia Emanuelle, nossa aluna e ilustradora, utiliza a mesa digitalizadora para finalizá-los. Os desenhos são feitos com base nas características que já foram pensadas e escritas por cada autor. 

Além do material de apoio (como computadores, cadernos para escrita e desenho), usamos aplicativos de design para aprimorar os personagens. Utilizamos o Canva para fazer os cards gerais e, para os desenhos dos personagens, diversos aplicativos podem apoiar a finalização, como: Photoshop, Illustrator, Krita (aplicativo de pintura digital), Corel Painter, Caderno de Esboços e Rebelar.

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Criamos, em conjunto, a primeira história. A primeira edição, que está sendo finalizada e será enviada para uma editora, é uma apresentação dos personagens e o encontro deles, formando a Liga da Inclusão. A proposta é que em 2023 tenhamos várias edições nos formatos online e impresso também. Em breve, lançaremos o Instagram da Liga. 

Na AEE, vale dizer, realizamos iniciativas em outras áreas: contamos com um grupo de teatro desde 2013, formado por atores com TEA (Transtorno do Espectro do Autismo). No Clube de Química, produzimos materiais para que os alunos com deficiência visual possam estudar a disciplina e a tabela periódica. Também unimos skate, música e física, a fim de aprender mais sobre o esporte e a matéria, com a participação, inclusive, de quem não faz parte da educação especial.

Também contamos com o apoio de outras disciplinas. É um diálogo que funciona no sentido de trazer parceiros para as ações do AEE, e também para que possam nos ajudar na aprendizagem, por exemplo, de conceitos científicos. Essas parcerias são fundamentais para as ações na sala de recursos. 

O que é preciso fazer para replicar esse projeto?

Acredito que o primeiro passo é entender o interesse do estudante e a relação dele com a arte. É importante pesquisar sobre histórias em quadrinhos e sua contribuição no contexto escolar. Levar gibis de diferentes formatos para a aula e contar com material de apoio para os desenhos, bem como aplicativos digitais.


Anderson Gomes dos Santos

Graduado em pedagogia e artes visuais, com especialização em educação inclusiva, é mestre no ensino de ciências e matemática e doutorando em agroecologia e desenvolvimento territorial. Atualmente, é professor da educação especial, arte e Projeto de Vida na Escola Estadual Graciliano Ramos. Consultor de Projetos na Associação Comunitária dos Produtores Rurais de Jurema, em Estrela de Alagoas.

TAGS

educação inclusiva, educação mão na massa, ensino médio

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