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Coronavírus

​​​Troca de experiências é base para formar professores para educação híbrida

Trabalho com os educadores deve buscar desenvolver competências socioemocionais além das tecnológicas em workshops rápidos e que discutam o futuro. Objetivo é encontrar formas de engajar os estudantes em aulas presenciais e online

Parceria com Conexia

por Fernanda Nogueira ilustração relógio 26 de julho de 2021

Especialistas apontam que a troca de experiências, atividades práticas, projeção do futuro e encontros online rápidos são algumas das principais estratégias para garantir o sucesso na formação de professores para a educação híbrida de forma inovadora. Com mais escolas retornando ao presencial neste segundo semestre de 2021 e a tecnologia mais presente na vida dos alunos, é papel do professor encontrar estratégias que tenham a intenção de promover o desenvolvimento do estudante, bem como sua autonomia e a personalização da aprendizagem. Mas como preparar docentes para essa mudança?

Para Sheldon Assis, gerente de relacionamento da Conexia Educação, a troca de experiências é o primeiro ponto a ser considerado. “Os educadores e educadoras fazem grandes trabalhos, mas muitas vezes não conseguem compartilhar. Isso ajuda muito.” Por isso, a sondagem dos conhecimentos prévios deve ser o foco principal no início. “Possibilita que a formação possa ser ‘calibrada’ e traga novidades aos participantes.”

Gustavo Borba, diretor do Instituto para Inovação em Educação da Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), em São Leopoldo (RS) e professor de design, cita autores como John Dewey e Anísio Teixeira para explicar que a aprendizagem acontece nos momentos de interação e conexão com os outros. “Eles, e outros tantos, trabalharam com a perspectiva de formação a partir da relação com o assunto, com a matéria ou com a prática. A transformação acontece neste espaço.”

Ambos concordam que é preciso haver mais prática do que teoria, com ideias e dicas do que pode ser realmente usado em sala de aula e com atividades que conectem os educadores a partir de um espaço de construção coletiva.

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“Fazer formações dinâmicas, com vários momentos diferentes, em grupo, leituras, criação de materiais colaborativos. Várias ferramentas possibilitam essas interações”, diz Sheldon, que é autor do livro “Educação para o Século XXI – Desafios e Oportunidades para uma Transformação Pedagógica”, da editora Albatroz.

É preciso também projetar o futuro, de acordo com Gustavo. “O design se propõe a isso. Quando a gente trabalha com workshops de design, um dos tipos que fazemos é o de workshops de futuro, para avaliar, por exemplo, qual seria a sala de aula do futuro, o currículo, qual seria a ‘aula’ ideal do futuro.”

Com esse trabalho feito em ambientes virtuais, como também acontecem parte das aulas da educação híbrida, é importante otimizar o tempo. “Por experiência, as formações online não devem passar de duas horas, sempre com um intervalo para uma pausa”, explica Sheldon.

Competências
Para Gustavo, com base em autores como Michael Fullan, Andy Hargreaves e Dennis Shirley, a formação deve ter um objetivo e trabalhar a construção de competências ao longo do tempo. “Essas competências envolvem a tecnologia, para a educação híbrida, mas envolvem muito mais competências socioemocionais do professor, como autoconhecimento, escuta ativa, contação de histórias e uma série de outras questões.”

Isso ajuda o educador a buscar formas de gerar engajamento nos alunos e superar a dificuldade de mantê-los motivados e focados mesmo em aulas com turmas parte presenciais parte remotas. “O ideal seria planejar duas aulas e atividades diferentes, até porque a distância cria situações distintas e aprendizagens diferentes, mas é muito difícil pela falta de tempo. Os educadores já estão sobrecarregados e têm que criar atividades que, até então, nunca tinham feito”, afirma Sheldon.

Um caminho é provocar a interação entre as turmas, com alunos da sala presencial colaborando com o professor, segundo Gustavo. “Tenho visto muito a necessidade do uso de tecnologia para tornar cada vez mais presente o aluno que está remoto e um empoderamento dos alunos que estão em sala, para apoiar o professor. Alguém na sala, por exemplo, pode ser um elo entre a sala virtual e a sala presencial, para trazer comentários e dúvidas dos colegas.”

Durante a pandemia, houve avanços neste sentido, de acordo com o diretor, com o aprofundamento das competências tecnológicas dos educadores e de formas de despertar o engajamento. Sheldon também vê melhorias. “Os educadores aprenderam a trocar experiências, a buscar informações, a pesquisar novas plataformas de ensino e aprendizagem. Evoluímos muito apesar das dificuldades.”

Atenção
O professor de biologia Rogério Fadul, que dá aulas para turmas do ensino médio nas escolas Pueri Bilíngue Candanguinho e Escola SEB Dínatos, em Brasília (DF), adota a gamificação, com o uso de aplicativos de quiz e de realidade aumentada. “Essas atividades foram fundamentais para aumentar o engajamento dos estudantes em aulas síncronas, em que o professor atua ao mesmo tempo com alguns alunos presenciais e outros remotamente.”

Nestas aulas, o educador usa material didático digital, que traz teoria, exercícios e videoaulas, e plataformas educacionais, como Scules e Google Classroom, que fazem a conexão entre professor e aluno e fornecem dados personalizados sobre a execução das atividades propostas por cada aluno.

Ele busca manter uma atenção igualitária durante as aulas, olhando para a câmera ao se comunicar com os estudantes que estão em casa e acompanhando o chat. “Sempre que possível, chamo os alunos para participar, seja com opiniões pessoais ou pedindo respostas técnicas sobre o assunto.”

Rogério já conhecia o ensino híbrido antes da pandemia. “Tive uma série de formações para entender as metodologias ativas e ferramentas digitais e saber quando utilizá-las em minhas aulas.” As formações acontecem todos os semestres em encontros presenciais e online. Em 2020, ele teve que aprender também como dar aulas síncronas. “Tem sido uma experiência incrível.”

O educador diz que chegou a ter dificuldade para passar da condição de “dador” de aula para mediador, mas conseguiu. “Propor atividades que despertam a autonomia do estudante, permitindo que aprendam também por outros meios, não somente por sua aula, é complicado. No início, temos a sensação de que eles não estão aprendendo, mas, de verdade, estão! E, por se envolverem mais, aprendem de maneira mais significativa.”

Online x presencial
Para os especialistas, apesar da desconfiança inicial, os professores passaram a entender a importância da atuação no espaço online. “Começaram a compreender melhor essa modalidade e passaram a utilizar melhor esses ambientes para tornar mais robusta a sua própria atuação no presencial”, afirma Gustavo.

A busca constante dos professores por aprendizado ajudou muito neste sentido. “Queremos sempre ver uma coisa diferente, ouvir um colega. Eu percebi duas coisas bem importantes que funcionam. Uma delas é ouvir histórias de colegas que deram e que não deram certo, que seriam escutas mais cruzadas, horizontais, onde professores formam professores”, diz o diretor. Além disso, ele considera que os workshops são uma opção melhor do que palestras e seminários, por permitirem que o educador se conecte com o grupo.

Para Sheldon, dicas para uso no dia a dia, além da troca de ideias, são fundamentais. “Os educadores estão precisando de orientações, se possível de algumas ‘receitas prontas’, e principalmente que sejam ouvidos.”

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coronavírus, ensino híbrido, formação continuada

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