Por João Vitor Ferreira, colaboração para o g1 AL


Genival Neto, de 20 anos — Foto: Arquivo pessoal

Alimentar um sonho é o que dá sentido à existência de Genival Neto, de 20 anos. Após superar as crises de ansiedade que enfrentou na transição da adolescência para a vida adulta, ele agora pensa em cursar psicologia para ajudar outras pessoas que passam pelo mesmo problema.

“Às vezes vemos alguém da nossa idade que já entrou na faculdade, comprou carro e até casa própria, e você, não. Obviamente, quando queremos algo na nossa hora, sentimos raiva e vontade de desistir de tudo, só que hoje eu entendo que nem sempre a vida vai te levar aonde você quer, mas aonde você precisa chegar”, disse Genival.

No mês da campanha Setembro Amarelo, criada para a prevenção ao suicídio e promoção dos cuidados com a saúde mental, o g1 AL publica uma série de reportagens sobre pessoas que enfrentaram episódios traumáticos, mas que conseguiram se recuperar com ajuda profissional e apoio psicológico.

Morador da Serraria, em Maceió, o jovem vive com a família adotiva e 4 cachorros. Desde que se viu na obrigação de assumir maiores desafios, começou a desenvolver ansiedade. Com exercícios de autodisciplina e inteligência emocional, entendeu que precisava esperar o tempo natural das coisas.

Genival Neto relata que gatilhos mentais o colocaram de frente para conflitos internos nessa transição para a fase da vida com mais responsabilidades, assim como o fato de ser adotado, mas que aprendeu a lidar com essas questões pessoais.

“Desde os cinco anos, sei que sou adotado. Nunca foi um incômodo porque eu amo minha verdadeira família. Às vezes, pode até pintar um pensamento vago de rejeição e abandono, mas aprendi a ser grato. Eu ganhei a família ideal, que sempre me ofertou o conforto que eu mais precisava”, disse Genival.

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De acordo com o psicólogo Diógenes Pereira, uma possível crença de rejeição pode se tornar uma cicatriz para a vida toda, o que ocasiona relações conflituosas e relacionamentos instáveis.

“É comum que alguns dos primeiros dilemas enfrentados na vida adulta estejam relacionados à indecisão, seja para escolher qual faculdade cursar, seja para decidir quando é a hora de sair da casa dos pais ou ainda uma instabilidade nos relacionamentos provocada pela imaturidade”, explica o psicólogo.

Ao se jogar nos braços da vida, o jovem percebeu que já carregava alguns pesos em excesso, além de toda ansiedade por planejar um futuro. Essa reflexão o fez surfar em uma grande onda de desesperança.

Mas insistiu em seguir em frente. Mergulhou nos estudos e se inscreveu em todo concurso público que apareceu, Detran, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros... era uma tentativa de conseguir estabilidade financeira, mas também de descobrir quem ele queria ser. Porém, não passou em nenhum concurso.

Também tentou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para realizar o sonho de cursar psicologia, mas também não conseguiu, e ainda tenta obter a pontuação necessária. As reprovações fizeram com que ele questionasse a sua própria capacidade intelectual.

“Senti o impacto sobre crescer na vida e ser adulto já no começo de 2021, quando não passei no curso de psicologia. Ainda não tinha reservista e estava esperando para entrar no Exército. Estava totalmente sem rumo. Foram quatro provas, mas não passei em nenhuma. Isso prejudicou minha autoestima”, lamentou.

Disciplina da carreira militar ajudou a saúde mental

Genival Neto abraçou a carreira militar e diz que isso ajudou a cuidar da saúde mental — Foto: Arquivo pessoal

Logo quando se formou no ensino médio, Genival não exitou em seguir carreira militar, pois sempre gostou de esportes. Em fevereiro de 2022, aos 19 anos, entrou para o Exército, em Maceió.

“O que me levou a procurar o Exército foi a busca por desenvolvimento pessoal e também para ter um início de vida, algo para pôr no currículo. Mas meu objetivo principal foi olhar para dentro de mim mesmo, ver meus defeitos, a pessoa que eu era e o homem que desejo me tornar”, informou.

Genival conta que apesar dos treinos físicos causarem algum incômodo, a “pressão” do quartel e dos seus superiores foi importante para que ele aprendesse a lidar com a dor e assumisse compromissos.

“Lá eu tive alguns incômodos, tanto físicos quanto psicológicos. Alguns treinos me faziam sentir pressão no corpo. Nos treinos militares, por exemplo, eu rastejava na lama e carregava o companheiro em minhas costas. De um ponto de vista positivo, foi algo que me fortaleceu e me ensinou a entrar na linha. Também tive contato com pessoas de diferentes personalidades da minha”, afirmou.

Apesar da pouca idade, hoje ele entende que foi necessário passar por algumas perdas e derrotas para desenvolver amadurecimento, aprender a controlar os impulsos iniciais e para seguir em frente.

“Comecei a evoluir no Exército, quando bati de frente com a realidade e enxerguei como as coisas eram. Agora estou no meu segundo emprego, estou lidando bem, então mostra que já evoluí bastante. Acho que tudo vai de acordo com o seu desenvolvimento pessoal”, avaliou.

Ao praticar o autoconhecimento e inserir a meditação no dia a dia, sua maneira de lidar com as emoções foi transformada positivamente. O contato com os quatro cachorros e o esporte é algo que o acalma, assim como a arte. Além disso, escrever poemas tornou-se uma válvula de escape.

“[A escrita] Surgiu num momento de raiva, na época da escola. Peguei um papel e comecei a escrever. Minha relação com a poesia é terapêutica. Também toco violão. Tudo isso é uma forma de ter um momento comigo mesmo”, explicou.

Mantendo o sonho de trabalhar como psicólogo, Genival defende que jovens da Geração Z, assim como ele, falem sobre suas angústias e não deixem de procurar ajuda profissional.

“Eu fiz terapia por sete meses na época da quarentena e pretendo voltar. Foi algo muito bom, eu sempre vou recomendar. Meu sonho ainda é cursar psicologia. Quero trabalhar com isso para ajudar as pessoas a entenderem e combaterem seus conflitos internos”, disse.

Prevenção ao suicídio

A campanha "Setembro Amarelo" é uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), da Associação Brasileira de Psiquiatria e do Conselho Federal de Medicina. O CVV faz um apoio emocional e preventivo do suicídio pelo número 188.

Na rede pública, a indicação é procurar os Centros de Apoio Psicossocial (CAPS) do Sistema Único de Saúde (SUS). Por lá, é possível marcar uma consulta com um psiquiatra ou psicólogo.

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