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Blog dos Colégios

Opinião|Todos contra o Bullying

Por Esther Carvalho*

Atualização:
 Foto: Estadão

A Lei Nº 13.185, publicada em 2015 e em vigor desde fevereiro de 2016, institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying), e além de trazer a definição do que é o Bullying, estabelece como dever dos estabelecimentos de ensino, clubes e agremiações recreativas, assegurar medidas de conscientização, prevenção, diagnóstico à violência e à intimidação sistemática.

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Em se tratando de escolas, há muitos desafios com relação ao problema. O primeiro é identificar com rapidez e eficiência os casos de intimidação sistemática, separando-os dos conflitos inerentes ao espaço escolar que reúne pessoas em processo de crescimento, de formação e de desenvolvimento. Nesse sentido, é fundamental apoiar, orientar e conduzir as questões de relacionamento de modo a fortalecer crianças e jovens para viver seus desafios de relacionamento. Conflitos devem ser trabalhados sob a perspectiva das emoções, da empatia, do respeito e da alteridade.

A intimidação sistemática traz três atores: o agressor, a vítima e o expectador. Pressupõe desigualdade de forças, frequência de ataque físico ou psicológico, intenção de causar danos, ausência de motivos para a intimidação. Em geral, há Bullying por que há plateia. Esse coletivo tem papel fundamental na continuidade ou não de atos intimidatórios contínuos, seja por não se posicionar contrariamente, seja por incentivar a situação com gestos de aprovação ao agressor.

Algo importante que a Lei trouxe é a perspectiva educativa do trabalho com o agressor. A ele cabem medidas que sejam firmes o suficiente para mostrar que seus atos têm consequências e, ao mesmo tempo, assertivas para que ele mude sua forma de agir. É preciso se deixar claro que é intolerável no espaço escolar qualquer forma de subjugação do outro, seja pelo motivo que for. À vítima, por sua vez, cabe um trabalho de fortalecimento e apoio para o desenvolvimento a fim de que enfrente, de forma positiva, as adversidades de diversas naturezas em sua vida. Ao grupo de expectadores, por sua vez, cabe um contínuo trabalho de reflexão e conscientização sobre conivência, sobre tomada de posição e sobre as coisas com as quais não se concorda.

Amplia-se o desafio quando o Bullying atinge o ambiente virtual. O impacto desse tipo de agressão muitas vezes é devastador e percebe-se o quanto a criança e o jovem não têm consciência da dimensão que suas atitudes alcançam. Surge, portanto, a necessidade de se trabalhar a cidadania digital, trazendo questões sobre autoria, privacidade, ética, respeito.

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O cotidiano da escola, na verdade, deve se traduzir em experiências contrárias ao Bullying. Propiciar espaços em que crianças, desde cedo, tomem contato com suas próprias emoções, entendendo, inclusive, que não se precisa gostar do amigo e nem concordar com ele, mas se precisa, sim, respeitá-lo. Tolerância e empatia são elementos que devem ser trabalhados colocando a criança e o jovem em contato com a diversidade. Nesse sentido, a diversidade é matriz de formação de pessoas fortalecidas que, em reconhecendo o diferente, respeita-o.

O envolvimento da família na reflexão sobre o Bullying é fundamental. Entre outras importantes ações, no Colégio Rio Branco, por exemplo, há uma agenda mensal denominada Encontro com a Direção, em que pais se reúnem para refletir com a escola sobre temas desafiadores pertinentes à formação das crianças e jovens. Sobre esse tema já foram realizados mais um encontro, procurando identificar o que é e o que não é Bullying, compartilhar os projetos desenvolvidos pela instituição e refletir sobre atitudes, no âmbito da família e da escola, que favorecem ou não comportamentos de intimidação sistemática. Crianças e jovens transgredirem faz parte do processo de crescimento. A grande diferença está na forma como os adultos lidam com isso, seja na família, seja na escola. A Lei trouxe uma excelente oportunidade para que todos assumam seu papel e não permitam que esse mal persevere.

*Artigo originalmente publicado em 2016 no Jornal Perfil Econômico, no Blog Ponto de Vista do Colégio Rio Branco e no livro "Educando no Século XXI: Protagonismo, Responsabilidade Social, Formação Global"

 Foto: Estadão

*Esther Carvalho é  diretora-geral do Colégio Rio Branco. Pedagoga, especialista em Tecnologistas Interativas Aplicadas à Educação e mestranda em Currículo e Tecnologia na PUC-SP. Participa de diversos programas na Universidade de Harvard, tratando do aprimoramento da qualidade da Educação e questões como liderança, gestão, ensino e aprendizagem. Ao longo dos anos, tem se aprofundado em sistemas educacionais e melhores práticas de diversos países que são referência nessa área. Autora do livro recém-lançado "Educando no Século XXI: Protagonismo, Responsabilidade Social, Formação Global", uma coletânea de artigos que  apontam para a construção de um pensamento comprometido com a busca de respostas às inquietações da sociedade contemporânea acerca de temáticas educacionais.

 

Opinião por Colégio Rio Branco
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