Por Bom Dia Rio


Levantamento mostra que tiroteios acontecem em quase metade das escolas e creches do Rio

Levantamento mostra que tiroteios acontecem em quase metade das escolas e creches do Rio

A violência afeta diretamente o desempenho dos alunos nas salas de aula e um número assustador revela o risco que crianças, pais e profissionais de educação estão correndo. Um levantamento feito pelo Volt Data Lab e pelo aplicativo Fogo Cruzado, exibido pelo Bom Dia Rio nesta quarta-feira (18), revela que 46% das 1.886 escolas e creches públicas do Rio — quase a metade — registraram pelo menos um tiroteio ou disparo no seu entorno, entre fevereiro de 2017 e fevereiro de 2018. Os confrontos aconteceram em um raio de 300 metros de distância de 871 unidades de ensino.

“Quando não tem tiroteio, eu aproveito, vou para a escola para estudar e pensar no meu futuro, mas, quando as coisas ficam complicadas, fica difícil de estudar. Penso menos no meu futuro e mais na minha vida”, disse uma estudante de 11 anos.

Pensar no futuro fica difícil quando o presente é arriscado, já que os tiroteios levam os estudantes a uma rotina de medo nas escolas.

“Eu fico na frente do quadro abaixado de baixo da mesa”, relatou um outro estudante de 9 anos sobre os dias em que presenciou tiroteios perto da sala de aula. Questionado pela reportagem do Bom Dia Rio sobre como gostaria que fosse a escola, ele não hesitou: “mais segura”, respondeu.

A realidade dos confrontos afeta famílias inteiras.

“Às vezes eu deixo de trabalhar para ficar com eles por causa de tiroteio. A escola não é para a criança ter medo. Devia ser um lugar seguro, para a criança se sentir protegida, mas não se sente. Aqui, muitas crianças estão deixando de ir para a escola por causa de tiroteio”, disse a mãe de um aluno.

Escolas da Cidade de Deus são as mais afetadas

A Cidade de Deus, na Zona Oeste a cidade, é a região onde ficam algumas das escolas mais vulneráveis do Rio. Das 17 unidades de ensino mapeadas na comunidade, cinco têm registrado um tiroteio ou disparo, nos arredores, a cada três dias.

O Ciep João Batista dos Santos é uma das cinco escolas que mais sofrem que tem a maior incidência de disparos por perto: foram 136 casos em um ano no entorno da unidade. O caminho de ida e de volta da escola é cercado de violência.

“Eu fico com muito medo. As pessoas passando na rua, eu fico com medo de tomar uma bala”, disse uma estudante de 11 anos.

A violência acontece fora e dentro da escola. Toda noite o Ciep é invadido por usuários de crack. Eles fazem fogueira, bebem, se drogam e espalham lixo. Na quadra esportiva, há panos sujos sobre a arquibancada. No pátio, muitos cacos de vidro.

“A CDD (Cidade de Deus) está em guerra. Tiroteio quase todo o dia. Essa violência acaba refletindo na sala de aula. Está cada dia pior mesmo. Eles ficam trancados como se fosse uma cadeia, mas ninguém garante o ir e vir aqui dentro. A gente não pode usar mais o espaço externo. A educação sofre. A tendência é piorar mesmo. A única saída é investir na gente, no colégio, para que a gente possa atender a comunidade”, disse um professor do Ciep João Batista dos Santos.

Alunos e professores de um colégio em Bangu, também na Zona Oeste, estão assustados. Alguns já foram assaltados na porta da unidade de ensino.

“As pessoas vão trabalhar com medo. Eu dou aula à noite. À noite é uma tensão. É assim: ‘gente, temos que ir. Pessoal, vamos embora. É desse jeito que os professores e alunos trabalham e estudam à noite. Afeta sim a aprendizagem do aluno e afeta sim o desempenho do profissional porque tanto o aluno como o profissional estão tensos ali porque não sabem o que o aguarda na saída da escola. o que o aguarda dentro da própria escola”, explicou a professora de química.

A professora já fez denúncias sobre a violência ao Ministério Público e à Secretaria de Educação e fez registro na delegacia quando uma bala foi encontrada dentro da escola, mas nada foi feito.

“A rua fica deserta, tudo escuro e nenhum carro de polícia, nenhuma segurança, nada”, completou a professora.

A Polícia Militar diz que evita operações em horários de entrada e saída de estudantes e mantém viaturas a uma distância segura dos colégios.

A violência é um problema que afeta a educação e, com menos educação, a violência cresce mais. É um ciclo vicioso. Uma pesquisa divulgada este mês mostra que a maior parte da população brasileira (77%) concorda com a afirmação de que o problema da violência no brasil está ligado diretamente com a baixa qualidade da educação no país.

Aluna de 13 anos morreu baleada durante aula de Educação Física

Em 2017, a história da estudante Maria Eduarda Alves, de 13 anos, chamou atenção para as consequências dos confrontos nas próximidades de escolas. A estudante foi morta durante uma aula de educação física, atingida por uma bala perdida, na Escola municipal Jornalista Daniel Piza, em Acari, Zona Norte da cidade.

Em 2016, a escola onde Maria eduarda estudava teve que fechar mais de 20 vezes em 2016 por causa de tiroteios. No dia 30 de março de 2017, a adolescente foi morta com dois tiros na base do crânio e dois tiros na região dos glúteos.

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