Por RJTV


A rotina de violência em todas as regiões do Rio já prejudicou mais de 126,8 mil alunos este ano. Conforme mostrou o RJTV nesta quarta-feira (26), em 94 dias letivos até junho, somente em sete deles a rede educação na cidade funcionou integralmente. Ou seja, em 92,5% dos dias letivos, tiroteios interromperam o funcionamento de escolas.

“A professora montou um grupo no what's app para as mães poderem informar ‘hoje a gente não vai poder tá levando porque está tendo muito tiro’”, contou Rita de Cássia, moradora do Conjunto de Favelas do Alemão.

Rita revelou a tristeza de conviver com a rotina de tiroteios na comunidade onde vive com filhos pequenos. “Triste é você acordar no meio da madrugada, ir no quarto deles pegar eles e levar pra dentro do seu quarto, escutando eles chorando com medo dos tiros”, desabafou.

“Eu venho com o transporte [escolar]. Ai eu passo no meio do tiroteio. Não tem como vir, fica todo mundo deitado no carro do transporte”, contou uma criança aluna da rede pública de ensino.

De acordo com a pesquisadora Cynthia Paes, do departamento de Educação da PUC-Rio, pesquisas mostram que a percepção dos professores e da direção sobre a violência na escola quase sempre está vinculada a uma violência real. Segundo ela, isso atrapalha o clima escolar e repercute negativamente no desempenho dos alunos.

"Ela afeta de duas maneiras: ela põe a criança sempre num contexto de medo, a criança fica com medo pela própria vida, medo pela vida dos seus colegas...Além disso, você ainda tem as interrupções das atividades escolares. Então, você vai ter menos exposição às possibilidades, as oportunidades de aprendizagem", destacou a pesquisadora.

“Vira e mexe, quando o confronto está muito intenso, a gente já não leva e a escola já sabe [o motivo]. A escola já tem um cronograma anual de lições didáticas e uma aula que se falta faz toda a diferença, ainda mais nessa época agora, que é formação da criança. Por mais que o pai ajude na educação, mas a escola tem um papel fundamental na formação escolar, da criança”, apontou Leonel Costa, que também é morador do Conjunto de Favelas do Alemão.

Para a pesquisadora e educadora Cynthia Paes, os prejuízos provados pela violência à rotina escolar precisam ser uma preocupação de todos.

"Todo mundo precisa se preocupar. Cada criança que deixa de ir à escola por que fechou, que deixa de aprender ou que não está conseguindo alcançar o conhecimento é uma perda para o país", afirmou

Cynthia afirma ainda que o estado falha ao permitir que a violência atrapalhe a rotina escolar. “Não é a educação [que falha], é o estado como um todo. É um estado inexistente que não proporciona a seus cidadãos o que deveria tá proporcionando", destacou

Para a pesquisadora, as soluções para esta situação enfrentada pelos estudantes do Rio devem abranger melhor preparo dos professores e diretores para lidarem com este contexto mas, principalmente, investimentos em segurança pública.

“Segurança pública tem que se preocupar com educação sim. Ela tem que garantir, tem que ser chamada a responsabilidade também em relação a garantir a possibilidade da educação das crianças", enfatizou Cynthia.

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