Rio

Tecnologia à serviço da solidariedade: projetos da Rocinha e da Baixada são contemplados em campanha nacional

Empresa conecta doadores a iniciativas educacionais, como a Associação Educacional Francisca Nubiana da Silva (AEFNS), em São João de Meriti, e a Plataforma Impact, na Rocinha
Musicista Stéfani, ex-aluna e agora professora da AEFNS, em São João de Meriti, e, de azul, a diretora Núbia da Silva Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo
Musicista Stéfani, ex-aluna e agora professora da AEFNS, em São João de Meriti, e, de azul, a diretora Núbia da Silva Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

RIO — A educação foi uma espécie de mandamento na vida de Núbia da Silva. Desde criança, quando ainda morava na cidade de Crato, no Ceará, ouvia do pai, um trabalhador da roça analfabeto, que a única forma de vencer na vida seria estudando. Ela seguiu à risca o ensinamento. E, hoje, aos 67 anos, é diretora e uma das fundadoras da Associação Educacional Francisca Nubiana da Silva (AEFNS), escola de educação infantil e de música, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. A organização é uma das seis no país e está entre as duas no Rio beneficiadas por uma campanha em que uma plataforma tecnológica conecta doadores a projetos sociais.

— A fundação deveu-se à minha história de vida. Tive uma infância muito difícil. Chegamos ao Rio de Janeiro em 1970, fomos para Duque de Caxias, onde catávamos caranguejo num manguezal. Depois que minha mãe morreu, fomos para Cordovil, e, em 1980, para São João de Meriti. Comecei a ter a ideia da escola depois que meu sobrinho nasceu. As crianças queriam estudar, mas não havia colégios na região — lembra Núbia.

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Ela fez o curso normal, duas graduações, em letras e pedagogia, e uma pós em gestão escolar. Em 1992, fundou a escola, junto com seu marido:

— Dava aula em cinco colégios para poder estudar à noite. Além de me manter, tinha que ajudar minha família. Tinha que devolver à sociedade o bem que ela um dia me deu, e cumprir o desejo do meu pai de que a educação era um portal para a liberdade.

‘Presente de Papai Noel’

A instituição filantrópica no bairro Vila São José atende gratuitamente cem crianças de 2 a 6 anos na educação infantil. Além disso, tem a escola de música e a orquestra clássica Som da Vila, projeto que atende 40 jovens do entorno e de onde já saíram talentos. Caso da violinista Stefani dos Santos, de 20 anos, que foi aluna do projeto e, hoje, leciona numa escola em Caxias:

— Entrei no projeto aos 9 anos, porque fui uma criança que interagia muito com a arte. Depois de aluna, fui monitora. Atualmente, sou professora em outra escola. A música é tudo para mim.

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Estar entre as instituições contempladas pela campanha permite a Núbia fazer planos para a associação:

— Foi um presente de Papai Noel. Uma das coisas que necessitamos muito aqui na região é de atendimento integral, porque mulheres precisam trabalhar e não têm com quem deixar os filhos. Se pudéssemos ter pelo menos 20 alunos em horário integral, seria uma melhoria na vida dessas famílias.

A Impacto é a empresa social responsável por oferecer essa plataforma para fazer o elo entre projetos e doadores. Mas essa relação pode melhorar.

— A Impacto está implementando um sistema de inteligência de dados, para simplificar os processos de contribuição e proporcionar segurança, transparência e rastreabilidade dos impactos gerados. A partir das contribuições, realizamos pesquisas com os usuários. Além disso, o investidor pode acompanhar como o dinheiro está sendo utilizado — explica Camila Soares, CEO da Impacto.

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Além do projeto de São João de Meriti, a outra iniciativa contemplada no Rio de Janeiro é a Plataforma Impact, na Rocinha. Esse centro educacional forma jovens de baixa renda em Tecnologia da Informação e possibilita o acesso deles ao mercado de trabalho. Fundada em fevereiro de 2021, a instituição também oferece aulas de matemática e lógica. Apesar de ficar na Rocinha, o projeto é aberto a moradores de todas as favelas do Rio.

No projeto, jovens profissionais que se destacam e se dedicam integralmente à formação em TI recebem bolsas de estudos integrais, podendo se tornar professores de uma nova geração de alunos.

A meta para o ano que vem é, segundo Gary Carrier, fundador e CEO da instituição, ampliar o programa:

— Pretendemos expandir, oferecendo espaço e equipamento a alunos que não têm recursos. E também crescer a nossa rede de mentoria, tanto de pessoas atuando no mercado de tecnologia no Brasil quanto da diáspora brasileira que trabalha nos Estados Unidos ou na Europa.

Os detalhes das campanhas estão no site goimpacto.com .