Rio

Taxa de evasão escolar no Jacarezinho e em Manguinhos supera média da cidade

No ano passado, 286 alunos deixaram a sala de aula nas duas regiões. Escolas fechadas reabrem nesta quinta-feira

Sem aulas. Uma das unidades fechadas no Jacarezinho: ontem, violência na área deixou 6.497 alunos em casa. Colégios vão voltar a funcionar amanhã
Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Sem aulas. Uma das unidades fechadas no Jacarezinho: ontem, violência na área deixou 6.497 alunos em casa. Colégios vão voltar a funcionar amanhã Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

RIO - A cada dia de aula, mais de um aluno deixa de estudar na região do Jacarezinho e de Manguinhos, duas das mais conflagradas do Rio. No ano passado, 286 crianças abandonaram as nove escolas de ensino fundamental das duas comunidades (1,4 estudante por dia, já que o ano letivo tem 200 dias). A evasão tem aumentado nos últimos três anos, e passou de 3,7% do número total de alunos dessas unidades, em 2014, para 4,7%, em 2016. Essa taxa é mais do que o dobro da evasão da cidade (de 2%).

As nove unidades de onde as crianças saíram foram fechadas por tempo indeterminado anteontem pela Secretaria municipal de Educação, junto de outras quatro creches e dois Espaços de Educação Infantil, por causa dos confrontos na região. Ontem, o secretário Cesar Benjamin disse que 14 escolas afetadas voltarão a funcionar nesta quinta-feira. A 15ª unidade retomará as atividades nesta quarta-feira, mas em horário reduzido. Ele resolveu reabrir os espaços após conversar com o secretário de Segurança, Roberto Sá, que garantiu não estarem programadas operações do porte das que estavam sendo realizadas na área, que já provocaram seis mortes:

— Atuamos em tempo real e analisamos escola por escola. Saí agora de uma reunião com o secretário de Segurança, Roberto Sá, que garantiu a retomada do protocolo de ações firmado com a prefeitura (no sentido de que ações policiais não aconteçam próximas a escolas nem em horários de vulnerabilidade para estudantes).

Para Miriam Abramovay, coordenadora da área de Juventude e Políticas Públicas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) no Brasil e ex-secretária executiva do Observatório Ibero-Americano de Violência nas Escolas, o fechamento das unidades provoca transtornos:

— Qualquer interrupção de aulas causa prejuízos ao aprendizado dos alunos. E, nesse caso, é ainda pior. Porque, quando essas crianças retornarem ao seu cotidiano escolar, elas estarão marcadas pelo terror, com medo do que ouviram — explica.

Nesta terça-feira, 6.497 alunos ficaram sem aulas por causa da violência no Jacarezinho e em seu entorno. Na segunda-feira, quando as tropas federais fizeram uma megaoperação em sete comunidades, 64 escolas fecharam, deixando 26.975 alunos sem aulas — o número representa o maior contingente já prejudicado por tiroteios este ano.

Os sucessivos fechamentos de escolas têm deixado pais de alunos da rede pública e particular preocupados. A mãe de uma menina de 13 anos que cursa o 8º ano no Colégio Salesiano Alberto Monteiro de Carvalho, que fica no Jacaré e está fechado há uma semana, diz que a adolescente está sendo prejudicada.

— Ela não tem aula há uma semana e isso vai prejudicá-la lá na frente. Não a deixo sozinha nem por um segundo. Aonde eu vou, ela vai — contou.

Desempregada há dois anos, Elaine da Silva de Souza lamentou a paralisação das aulas no Ciep Vinícius de Moraes, onde seu filho mais velho, Ronald Rangel, de 14 anos, cursa a 3ª série:

— Sonho com um futuro melhor para o Ronald, que já está atrasado nos estudos. Isso tudo só atrapalha.

Tereza Cordeiro Ferreira também está preocupada com a quantidade de aulas que sua filha, Daniele Ricardino Ferreira Cardoso, de 16 anos, vem perdendo na Escola Municipal George Sumner.

— Ela tem ficado dentro de casa. E, mesmo se a escola estivesse aberta, acho que ninguém tem cabeça para pensar em ir. Aqui só se pensa na vida.