Tarsila do Amaral e a educação pública no Brasil - PORVIR
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Inovações em Educação

Tarsila do Amaral e a educação pública no Brasil

Os “Operários” de hoje se mesclam nas possibilidades do mundo conectado, mas como desenvolver uma educação pública universal, laica e libertária para todos?

por Alexandre Le Voci Sayad ilustração relógio 24 de julho de 2018

Este ano a pintora Tarsila do Amaral teve sua primeira exposição individual relevante nos Estados Unidos, mais precisamente no Moma (Museu de Arte Moderna) de Nova York. Ao mesmo tempo, a educação no Brasil parece enfrentar um novo capítulo da saga “Operários “– que a modernista pintou em 1933. A obra inaugurou uma pequena fase na vida da pintora onde a questão da identidade nacional se mescla à explícita preocupação social – fruto do Crash de 1929 que afetou diretamente sua vida.

Se olharmos de longe, enxergamos na tela de “Operários” uma pirâmide de cabeças frente a uma chaminé e um cenário de urbanização. A migração de todos os tipos, raças, cores aos centros urbanos davam a cara de um novo Brasil – industrializado e liberal. Mas quem seriam eles? Uma massa humana. Diferentemente, entretanto, se olharmos de perto (a tela original tem 150 x 205 cm): é possível notar que cada um dos 51 rostos é único e representativo. Segundos especialistas, é possível inclusive reconhecer faces como a do arquiteto Gregori Warchavchik e da cantora Elsie Houston.

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Como consequência desse cenário econômico e social, foi justamente nos anos de 1930 que a escola pública como a conhecemos começa a ser forjada no Brasil. O movimento da Escola Nova traz ingredientes libertários e universais que arrastamos até hoje – John Dewey havia sido mestre de Anísio Teixeira nos Estados Unidos na década anterior. Surge o Ministério da Educação e Saúde, impulsionado pela Era Vargas. O Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou em 1932 o primeiro Plano Nacional de Educação – privilegiando a sistematização dos conhecimentos, o currículo propedêutico e tecnicista que lutamos para flexibilizar hoje.

Releitura de "Operários", obra de Tarsila Amaral, feita por alunos da Escola Santi, de São Paulo

Releitura de “Operários”, obra de Tarsila Amaral, feita por alunos da Escola Santi, de São Paulo – Crédito: Arquivo Pessoal

Novamente, contemplando “Operários” a distância, ficamos com a pergunta: Como desenvolver uma educação universal, laica e libertaria para todos os brasileiros? Mais de 80 anos depois, perseguimos esse ideal. Expandimos a rede, perdemos qualidade e corremos atrás da contemporaneidade – para que as escolas respirem o espírito de nosso tempo.

O olhar cirúrgico, em cada rosto evoca: Como cada um pode aprender da sua maneira? Como as chamadas “limitações” da aprendizagem de alguns podem ocultar habilidades não exploradas, talentos inatos? A tecnologia tem ajudado educadores a traçar caminhos individualizados da educação.

Nesse sentido, os “Operários”, hoje se mesclam e se reinventam nas possibilidades de um mundo conectado e com a presença da inteligência artificial. Qual é o mercado de trabalho hoje? O Fórum Econômico Mundial já apresentou diversas pesquisas apontando a extinção e o surgimento de carreiras para os alunos que estão hoje na escola.

Nesse caso, me parece que a digestão antropofágica de Tarsila e Oswald, por essência, deve ser eternamente relida – inclusive dentro da escola. Uma educação contemporânea, conectada com crianças e jovens, precisa “comer” e “digerir” o que há em nossa volta, como um novo e complexo Abaporu.


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autonomia, competências para o século 21, educação integral, educação mão na massa, personalização, socioemocionais

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