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Pelo direito de sonhar em São Paulo

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Por Malu Molina e Tabata Amaral
Atualização:
Tabata Amaral e Malu Molina. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

A luta contra a desigualdade é a luta do século 21. Nos últimos anos, reduzimos a extrema pobreza e a fome, colocamos mais meninos e meninas nas escolas e garantimos na Constituição nossos direitos civis, políticos e sociais. No entanto, segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano, o Brasil continua sendo o 2º país com maior desigualdade de renda do mundo, perdendo apenas para a Botsuana.

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Essa desigualdade se manifesta de forma muito acentuada na maior cidade do país, São Paulo, fazendo com que o futuro dos nossos jovens seja determinado muito mais por indicadores como CEP, cor da pele, gênero e orientação sexual, por exemplo, do que pelos seus talentos ou esforços.

Para se ter uma ideia, quando o assunto é acesso a emprego, São Paulo é a cidade mais desigual do país. De acordo com um estudo do Ipea, os 10% mais ricos têm nove vezes mais chances de acessarem oportunidades de emprego próximas de onde vivem do que os 40% mais pobres. Essa mesma desigualdade se manifesta quando comparamos a qualidade do aprendizado das escolas públicas municipais. As subprefeituras de São Paulo com maior Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) estão majoritariamente localizadas nas regiões centrais. Quanto mais nos aproximamos das periferias da cidade, não só o Ideb diminui, como aumentam os desafios enfrentados pelos estudantes, como falta de infraestrutura, internet e materiais didáticos.

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A luta pela igualdade de oportunidades deve ser prioridade para qualquer um que sonhe com um Brasil justo e desenvolvido, e o caminho para alcançarmos esse objetivo passa longe da polarização. Ao invés de perdermos o nosso tempo com discussões sem fim sobre qual deveria ser o tamanho do Estado, deveríamos estar unindo forças para construir um Estado mais efetivo, capaz de promover o bem-estar social com responsabilidade fiscal.

No final do dia, um dos principais objetivos da política deve ser o de garantir a todos o direito de sonhar com um futuro melhor para si, direito esse que ainda é negado a milhões de pessoas na nossa cidade. A conquista do direito de sonhar começa com uma escola pública que equalize os pontos de partida, e garanta a todos oportunidades iguais. Passa por moradias dignas, por bairros mais seguros e por uma saúde que possibilite a todos uma vida longa e saudável.

Nós duas tivemos oportunidades que muitos outros jovens das nossas comunidades, do extremo norte na Vila Mazzei ao extremo sul na Vila Missionária, não tiveram. Foram essas oportunidades que, por meio da educação, não só nos permitiram quebrar o ciclo da pobreza, como ir atrás de conhecimento para que pudéssemos enfrentar essa desigualdade que conhecemos tão de perto. Foi por isso que decidimos estudar Ciência Política e dedicar nossas vidas para que histórias como as nossas sejam regra, e não exceção.

É esse sonho, de uma cidade em que nossas crianças possam sonhar sem limites, que nos move a querer transformar a nossa política. Porque aprendemos, de maneiras diferentes, que se a política e os políticos não mudarem, a educação, as políticas de moradia, a segurança e a saúde, entre tantas outras coisas, tampouco mudarão. O nosso objetivo é que as pessoas possam ser, de fato, livres. "Quem quer consegue" só faz sentido quando as pessoas têm oportunidades para desenvolver seus talentos. Sem igualdade de oportunidades, nossos horizontes são determinados no dia do nosso nascimento e a liberdade se torna um privilégio de alguns poucos.

*Malu Molina é cientista política e ativista pela redução das desigualdades sociais; Tabata Amaral é cientista política, astrofísica e deputada federal pelo PDT-SP

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