PUBLICIDADE

‘Sustentabilidade tem de ser ensinada desde o ensino fundamental’, diz Carlos Nobre

Cientista é o primeiro do País eleito membro da Royal Society

Por Ocimara Balmant
Atualização:

O planeta só vencerá os desafios ambientais se houver uma nova geração que não aceite mais um mundo insustentável. A opinião é do meteorologista Carlos Nobre, o primeiro cientista brasileiro a ser eleito membro da academia científica da Royal Society. A instituição britânica é uma das mais antigas e prestigiadas sociedades científicas do mundo.

PUBLICIDADE

Qual é o papel da escola na construção de um cidadão preocupado com a Terra?

Eu julgo que é muito importante que os estudantes tenham aulas sobre o que é uma vida sustentável, um ambiente sustentável, para construir trajetórias sustentáveis para vida individual, da família, da localidade, mas também de um país e de um planeta. Sustentabilidade tem de ser ensinada de forma obrigatória desde o ensino fundamental. É muito difícil você imaginar que vamos vencer os desafios – seja o combate às emergências climáticas, seja o combate à poluição urbana, que mata entre 4 e 7 milhões de pessoas por ano – sem que apareça uma nova geração que não aceite mais um mundo insustentável.

Inspirados talvez na Greta Thunberg

Exatamente. A Greta (ativista ambiental sueca) tinha 13 anos quando começou a ficar sentada na frente da escola toda sexta-feira pela manhã como protesto pela inação da sociedade. Criar essa nova geração é essencial. Uma geração para a qual sustentabilidade vire um valor como é o conceito de felicidade. Todos nós queremos felicidade. Sustentabilidade tem de se tornar um conceito filosófico como felicidade.

'Tem de se tornar um conceito filosófico como felicidade’, diz Carlos Nobre Foto: Divulgação

Como estamos no contexto brasileiro?

Fui presidente da Capes (órgão regulamentador de pós-graduação no País) de 2015 a meados de 2016. Nessa época, já se discutia muito essa questão de aperfeiçoar o sistema educacional público no Brasil para questões de sustentabilidade. Nos últimos quatro anos houve uma reversão. Nada avançou de 2019 para cá. Eu diria que essa deve ser uma questão prioritária do MEC . E a Capes deve apoiar na formação de professores. Até porque não adianta estar na BNCC (base curricular nacional), se os docentes não tiverem formação para trabalhar com o assunto de forma contextualizada e crítica. Sem essa formação, a população segue não conseguindo entender, por exemplo, porque é tão importante segurar a temperatura do planeta e não deixar que o aquecimento seja maior do que 1,5ºC, tema de discussão acalorada nas Conferências do Clima. Alguns exemplos bem simples: com aquecimento de 1,2ºC estamos com 30% ou mais de tempestades severas, 70% de ondas de calor, 50% de secas severas. Se chegasse em 2ºC, desapareceriam 95% das espécies de recifes de corais dos oceanos. A Amazônia já corre risco com um aquecimento de 1,5ºC.

Publicidade

E isso vale do fundamental à graduação?

Há dez anos, em 2013, visitei o MIT (onde fez doutorado em 1983) e acabei vendo que já naquela época havia a cadeira de sustentabilidade para todos os cursos de engenharia – não era eletiva, todos os alunos, de qualquer engenharia, tinham de aprender sobre sustentabilidade.

Conte-nos sobre o projeto que prevê a criação de um instituto de tecnologia na Amazônia, o AMIT.

A ideia é criar condições para integrar o conhecimento ancestral dos povos originários e o conhecimento científico. Convidamos cinco indígenas para o grupo que estamos montando para avançar com o estudo pleno de viabilidade.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.