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Suspeita e certeza

Prisões em apuração de corrupção mostram só parte da ruína do MEC sob Bolsonaro

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O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o então ministro Milton Ribeiro, da Educação - Pedro Ladeira - 10.fev.22/Folhapress

Pouco depois de a Polícia Federal prender o ex-ministro Milton Ribeiro, da Educação, o presidente Jair Bolsonaro (PL) veio a público encenar desinteresse republicano pelo destino de seu aliado.

"Ele que responda pelos atos dele, eu peço a Deus que não tenha problema nenhum", disse à rádio Itatiaia de Minas Gerais. "Se a PF prendeu, tem um motivo, e o ex-ministro vai se explicar."

Nem pareceu o mesmo Bolsonaro que, em março, usou sua live semanal para afirmar: "Coisa rara de eu falar aqui: eu boto minha cara toda no fogo pelo Milton. Estão fazendo uma covardia contra ele".

À época, pipocavam notícias na imprensa sobre um balcão de negócios montado no Ministério da Educação, com a atuação escandalosa de dois pastores evangélicos sem vínculos formais com a pasta.

O jornal O Estado de S. Paulo revelou a movimentação da dupla, e a Folha publicou um áudio no qual o então ministro explicava que a liberação de verbas priorizava prefeituras que tivessem se acertado com os pastores Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura —também presos nesta quarta (22).

O acerto, segundo alguns gestores, envolvia o pagamento de propina, às vezes em barra de ouro. Ribeiro deu a entender que tudo corria a pedido do presidente.

Como ficou claro pela operação batizada de Acesso Pago, a PF trabalhou nos últimos três meses e se convenceu de que há indícios suficientes para acusar o ex-ministro e os pastores de crimes como tráfico de influência e corrupção.

Decerto que as investigações ainda precisam prosseguir, e resta longo caminho até uma eventual condenação pela Justiça. Entretanto a ruína promovida por Bolsonaro no MEC, uma das pastas mais essenciais da administração pública, pode ser constatada desde já.

O desastre começou pelo aparelhamento ideológico, que sacrificou a continuidade de políticas públicas em nome de caças às bruxas como as tentativas de intervir no conteúdo do Enem, o exame do ensino médio. A isso se somaram nomeações sucessivas de incompetentes, como o próprio Ribeiro.

O ministério ainda deu abrigo à sanha fisiológica —se é que se limita a isso— do centrão, que se apossou do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Daí viriam os recursos prometidos pelos pastores e também para emendas parlamentares de escassa transparência e motivo de suspeitas de superfaturamento.

Se Bolsonaro agora adota um tom distanciado, portanto, não é por um surto repentino de republicanismo, mas pelo receio de que o escândalo seja um desastre para sua campanha eleitoral, evidenciando o quanto há de mentiroso em seu discurso anticorrupção.

editoriais@grupofolha.com.br

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