Denise Barifouse, tem 71 anos de idade. Ela entrou na rede municipal de ensino em 1974 e desde 1977 dá aulas na mesma escola onde também estudou, em Santa Teresa. Maria do Carmo de Souza Castanheira, de 72, leciona atualmente para duas turmas de alunos do 4ª ano do ensino fundamental no Complexo do Alemão. Helzir Borges Lopes, de 68, dá aulas de Educação Física em duas escolas da Ilha do Governador. Juntas as três, cada uma com 48 anos de magistério, somam quase um século e meio de dedicação ao ensino. Com tempo suficiente de trabalho para usufruir da aposentadoria, as três só pensam deixar as escolas quando forem obrigadas, ao atingir os 75 anos de idade e chegar a hora de se aposentar compulsoriamente.
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Às vésperas do Dia do Professor, comemorado nesse sábado, essas mestras e outras nove colegas, igualmente com uma longa história no magistério, foram as estrelas de uma homenagem prestada pela Secretaria Municipal de Educação, num hotel da Barra da Tijuca, aos profissionais com mais tempo de permanência na rede. As 12 homenageadas levaram para casa o “certificado da gratidão”. Elas representaram simbolicamente os mais de 2 mil profissionais da rede, de um total de 40 mil, que ultrapassaram os 30 anos de atuação como docentes. Muitos deles estavam na plateia, acompanhando o evento, que teve a participação do secretário Renan Ferreirinha.
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— Sou movida pelo amor à educação e à minha escola, que é do meu coração. Já morei longe, mas nunca saí de lá— disse Denise Barifouse, que já deu aulas de Inglês e hoje é diretora adjunta da Escola Municipal Santa Catarina, onde formou diversas gerações de estudantes — Até hoje, alunos das décadas de 70 e 80 se reúnem duas vezes por ano com os professores, num encontrão, onde demonstram a gratidão deles com a gente.
Antes de chegar até a escola de Santa Teresa, em 1977, Denise teve uma curta passagem — de cerca de três anos —pela Escola Municipal Cardeal Arcoverde, em Copacabana. Única professora na família, contou que foi dando aulas de catecismo, ainda na juventude, na Igreja de Nossa Senhora da Salete, no Catumbi, que surgiu o amor pela educação. Uma de suas maiores satisfações foi ao se encontrar com a mãe de uma ex-aluna ouvir da mulher que a filha resolveu ser professora de Inglês inspirada nela.
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— A mãe falou para mim que a filha resolveu ser professora de tanta admiração que tinha por mim. Isso é a maior homenagem que a gente pode receber. Nunca me vi fazendo outra coisa — revelou a professora , que disse amar o carinho dos alunos e já vê com tristeza a proximidade da aposentadoria compulsória.
Maria do Carmo de Souza Castanheira, de 72 anos, dá aula para duas turmas do 4º ano do ensino fundamental na Escola Municipal Professor Mourão Filho, no Complexo do Alemão. Em 48 anos de magistério já passou por cinco diferentes escolas, já foi diretora em algumas unidades de ensino, mas disse que é na sala de aula o lugar onde mais se sente feliz e realizada. A mestra se orgulha de ver que algumas das sementes que plantou germinaram e deram frutos.
— O que ainda me move, depois de tantos anos de magistério, é a certeza de que meu país ainda vai se transformar numa grande potência mundial, com a ajuda das crianças oriundas do ensino público. Eu tenho um ex-aluno advogado do BNDES e outro diretor do Hospital de Cardiologia de Laranjeiras. Minha maior recompensa é ficar sabendo que um aluno meu conseguiu chegar até a faculdade e ter se formado. Sou uma pessoa empolgada pela educação — afirmou, lamentando não ter conseguido passar esse amor adiante em casa. A filha abandonou do curso normal e preferiu seguir no mundo da moda. O filho é vendedor.
A paixão dela pelo magistério veio da infância, quando aos 11 anos uma vizinha pediu que ela ajudasse o seu filho que não estava indo bem na escola. Foi o suficiente para tomar gosto pela educação e nunca mais parar. E, pode se dizer que começou bem. O primeiro aluno foi adiante e hoje é um arquiteto.
A mais nova das três é Helzir Borges Lopes. Ela tem 68 e ingressou na rede municipal de ensino aos 20. Fez dois concursos. O primeiro em 1973 para professora primária. Em 1978 fez outro, dessa vez, para dar aulas de Educação Física, disciplina na qual atua até hoje, em duas escolas da Ilha do Governador. Desde criança falava para a mãe que um dia seria professora e quando via alguém com o uniforme de normalista sonhava também vestir um.
— Amo mostrar para um aluno que ele consegue, que ele pode se superar. Amo fazer a diferença. O que me move é o amor —revelou a professora, que já foi juíza de nado artístico nas Olimpíadas de Londres e dá aulas de Educação Física nas escolas Maestro Francisco Braga e Padre José de Anchieta, ambas na Ilha do Governador.
Para o secretário de educação, só o amor à profissão explica o fato de um grande número de professores decidir se manter em sala de aula, mesmo já podendo estar usufruindo da aposentadoria.
—Existem muitas dificuldades na educação brasileira, como estrutura precária (das escolas) e baixa valorização (dos professores), mas a carreira proporciona momentos extremamente gratificantes, como ver o conhecimento se concretizando e o aluno aprendendo. Tenho certeza que nossos milhares de professores passam por isso diariamente, pelo prazer de poder ensinar e contribuir para a formação cidadã. Isso não tem preço — avaliou Ferreirinha.
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