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Socioemocionais através da literatura: orientações para formação de professores

Confira ações para organizar uma rotina de trabalho que garanta o desenvolvimento das competências socioemocionais de acordo com a necessidade da equipe

POR:
Camila Cecílio
Crédito: Getty Images

O escritor alemão Ulrich Schaeffer disse uma vez que “crescer é um processo misterioso e mágico”. Mas, no dia a dia de uma criança que está descobrindo o mundo, o crescimento também pode ser fase complicada e cheia de questionamentos. No cotidiano escolar, a literatura é uma aliada dos professores na hora de trabalhar as competências gerais propostas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) com os pequenos. Além de estimular sentimentos como a empatia, histórias e personagens podem ensinar crianças a lidar com emoções complexas nesta etapa da vida.

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Para colocar esse planejamento em prática, os professores precisam estar atentos às demandas e especificidades de seus alunos e turmas. Nesse contexto, o coordenador pedagógico pode apoiar o trabalho dos professores com formação continuada focada no ensino das competências socioemocionais por meio da literatura.

Por que trabalhar as socioemocionais com os pequenos?
A professora e pós-doutora em Artes pela Universidade de Campinas (Unicamp), Fernanda Maria Macahiba Massagardi explica que trabalhar competências socioemocionais com crianças é necessário porque o ser humano é, fundamentalmente, um ser social e emocional. “Em um mundo altamente tecnológico, a falta dessas competências tem denotado uma grave crise dos sentidos e das relações humanas”, observa a autora da tese de doutorado Percursos da Literatura na Educação – Ensinar Contando Histórias.

A pesquisadora comenta que a literatura permite uma reflexão profunda de questões existenciais. Outro ponto interessante, segundo ela, é que falar em terceira pessoa ajuda as crianças a elaborarem conflitos e desafios internos que, muitas vezes, não são verbalizados em primeira pessoa. Nesse contexto, é recomendável que o professor observe suas turmas de modo a buscar na literatura temas que tenham ressonância com a necessidade apresentada, de acordo com Fernanda Massagardi. Os temas também devem ser adequados para a faixa etária.

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O universo dos livros, quando trabalhado de forma lúdica, coloca a criança em narrativas e padrões de acontecimentos que sugerem formas de lidar com problemas e ressignificá-los. “Isso colabora para a ampliação de repertório e compreensão de consequências e sentimentos do outro”, comenta Karine Ramos, orientadora pedagógica da Educação Infantil do Colégio Santa Maria.

Qual é o papel do coordenador?
Para Inês Kisil Miskalo, gerente-executiva de Educação do Instituto Ayrton Senna, o coordenador deve promover a articulação entre teoria e prática e entre os profissionais do corpo docente.  “O educador precisa conhecer as matrizes com as quais vai trabalhar e identificar se essas competências estão presentes no corpo docente”, diz. Ao sensibilizar os professores sobre o tema, espera-se não apenas que os alunos possam ter uma postura mais reflexiva, mas também os docentes. “Por exemplo, o alfabetizador precisa ter uma postura que acolha os alunos e vai exercer sua função com mais competência a partir do momento que entender suas próprias fragilidades”, completa, ressaltando a importância de o próprio formador também olhar para si e fazer uma avaliação sobre suas competências.

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A professora Fernanda Massagardi pondera que tanto o professor quanto o coordenador devem ser leitores ávidos, uma vez que ter um repertório rico ajuda a selecionar e comparar as diferentes narrativas e identificar aquelas que se encaixam melhor na demanda das turmas. Isso, aliado ao conhecimento das fases do desenvolvimento cognitivo e afetivo, ajuda todo o processo.

Como pode ser organizada a rotina de trabalho para as formações?
No dia a dia, Inês Kisil Miskalo e Karine Ramos recomendam que o coordenador estabeleça uma rotina de trabalho que garanta:

1 – Observação de aulas e o acompanhamento das dinâmicas entre alunos e docentes para identificação de forças e fragilidades da equipe docente;
2 – Organização de um tempo para estudar e para preparar reuniões que envolvam análise do desempenho dos alunos e estudo com os professores;
3 – Uso dos Horários de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC) para socialização e/ou ampliação de conhecimentos teóricos e práticos da equipe;
4 – Identificação do perfil dos professores e faixa etária dos seus respectivos estudantes;
5 – Acompanhamento do desenvolvimento integral do estudante e das relações interpessoais;
6 – Escuta sensível e atenta ao repertório do professor.

Além disso, Inês aponta que é imprescindível que o coordenador pedagógico tenha claro o conceito de Educação integral. Ou seja, entenda o compromisso da Educação formal para com o desenvolvimento do aluno em todas as suas dimensões: relacional, produtiva, afetiva e do conhecimento.

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O formador também deve ter clareza das matrizes de competências que estruturam a política educacional da rede em que atua. Ampliar seus conhecimentos acadêmicos constantemente, tanto no campo cognitivo quanto no socioemocional é fundamental. Outra dica da especialista é que o educador se mantenha atualizado quanto às revelações da neurociência em seus diversos campos, o que lhe dará muitas informações sobre os processos de aprendizagem, além de pesquisar continuamente propostas e práticas pedagógicas inovadoras.

Algumas competências pessoais que se destacam para liderar a formação de professores para a Educação integral:

 - Organização e responsabilidade;
- Entusiasmo e iniciativa;
- Empatia e acolhimento;
- Autoconfiança e tolerância ao estresse e à frustração;
- Curiosidade para aprender e imaginação criativa.