'Sociedade é o reflexo da valorização de seus professores', diz leitor no Dia do Professor

Leitores da Folha relatam a importância desses profissionais e experiências com eles durante suas vidas

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São Paulo

"A educação salva vidas" é uma frase que ilustra bem a importância do ensino em escolas e outros locais de ensino. Neste 15 de outubro, o Dia do Professor, o bordão é ainda mais falado para prestar homenagens aos heróis sem capa —como são apelidados muitas vezes esses profissionais.

"A importância é tanta que também me tornei professor", diz o biólogo e professor Luiz Alexandre Simões de Castro, 44, de Indaiatuba (SP). "Estou concluindo meu doutorado e, portanto, nunca saí dos ambientes escolar e acadêmico. E por conta de toda essa influência, para o bem ou para o mal, tenho a certeza de que jamais sairei", afirma.

Sabemos, entretanto, que o quesito no Brasil ainda tem muitas deficiências e deixa a desejar, tanto em condições para os alunos quanto para os professores. E o cenário pode ser considerado ainda pior na pandemia.

Professores são os mestres que podem mudar o destino de um país. Não se constrói uma nação desenvolvida sem educação sólida [...] Os ensinamentos deixados pelos bons professores carregamos pelo resto da vida

Gustavo Porpin, 45, servidor público federal

Maceió (AL)

Como mostrou a Folha, o Brasil está entre a minoria dos países do mundo que não aumentaram os recursos em educação durante a pandemia para reduzir os prejuízos de aprendizagem e lidar com os novos desafios surgidos no período.

Outra ação que deve impactar de forma considerável o desenvolvimento da educação no país foi a aprovação pelo Congresso de um corte de R$ 600 milhões de recursos previstos para o MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações). A decisão tomada na quinta (7) veio a partir de um pedido do ministro Paulo Guedes (Economia).

Em protesto, um tuitaço foi feito na manhã desta sexta-feira (15) e mobilizou a rede social com as hashtags #SOSCiencia e #LiberaFNDCT, em alusão ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Me dói acompanhar o desenho da educação no Brasil, sobretudo, o ensino público que só se deteriora com o passar dos anos. Uma sociedade é o reflexo da valorização de seus professores

Lucídio Alves Soares, 60, artista plástico

São Paulo (SP)

Abaixo, veja mais relatos de leitores sobre educação e professores:

Sala de aula com carteiras sem alunos e lousa verde à frente
Sala de aula sem alunos na escola municipal Pedro Aleixo, em São Miguel Paulista (zona leste de São Paulo) - Lalo de Almeida - 29.nov.2018/folhapress

Professores são os mestres que podem mudar o destino de um país. Não se constrói uma nação desenvolvida sem educação sólida, e os ensinamentos deixados pelos bons professores carregamos pelo resto da vida. Sou privilegiado por ter tido tantas oportunidades de aprendizagem. A mais marcante, no meu doutorado, foi o convívio com o professor Juracy Parente, na FGV-Eaesp. Exigente, como os mestres têm que ser, o professor Parente sempre buscava aprimorar nossas pesquisas e mostrava grande comprometimento e paixão pelo ensino, dois traços marcantes em quem consegue fazer a diferença na educação. Carrego em mim um pouquinho de cada bom professor que tive, que possa ser assim para mais brasileiros.
Gustavo Porpin, 45, servidor público federal, Maceió (AL)

Tudo que construí ao longo da vida remeto aos professores que tive. Alguns deles, de alguma forma, expressaram posicionamentos que fizeram com que a minha criatividade fosse desenvolvida. Outros que exerceram a pedagogia da presença foram imprescindíveis na minha formação integral, alicerçando uma trajetória de crença de que só através da educação (mediada pelo professor) a construção do conhecimento é plena, eficaz e pra vida toda!
Lizeth Mir, 67, professora, Salvador (BA)

A professora mais marcante em minha vida foi minha mãe, Guiomar, que era professora de inglês para alunos do antigo ginásio (11-14 anos). Além dos aprendizados diários, aprendi a importância dos professores pelo reconhecimento e carinho constante dos alunos e ex-alunos que a encontravam fora do ambiente da sala de aula. Deixo aqui minha homenagem a ela, que quando nos deixou foi imensamente homenageada por seus ex-alunos através de inúmeras mensagens a nós, sobre o quanto ela foi importante em suas vidas. O maior ensinamento deixado a nós, seus filhos, é de que pequenas boas ações e gentileza transformam a vida de muitos.
Beatriz Cuyaban, 38, pesquisadora, Campinas (SP)

A importância é tanta que também me tornei professor. Lembro-me do nome de todos —sem exceção— desde o jardim da infância até a pós-graduação. Estou concluindo meu doutorado e, portanto, nunca saí dos ambientes escolar e acadêmico. E por conta de toda essa influência, para o bem ou para o mal, tenho a certeza de que jamais sairei. Na escola nasci, na escola morrerei.

Já passei pela rede privada e pela pública, tanto sentado nas carteiras quanto em pé, na frente da lousa, ensinando. Conheço os desafios e vicissitudes de ambos. Cheguei a ficar um ano desempregado e achei que ficaria louco se não voltasse para a escola. Não sei fazer outra coisa, sou viciado em aprender e ensinar.

Nunca me esquecerei de um professor de Língua Portuguesa, Vicente Lemos, também advogado mas um mestre por vocação e ofício. Foi professor do meu pai e também bebia cachaça com meu avô no botequim da esquina, ao lado da escola. Ensinou e conversou com três gerações da mesma família! Transitava com facilidade do léxico ao vulgar, como um Fernando Pessoa que se transmutava em um Adoniran Barbosa. Tratava-me solenemente pelo sobrenome, assim como todos os outros alunos.

Apresentou-nos os sonetos de Camões, de Machado de Assis, de Olavo Bilac, de Alphonsus de Guimaraens e tantos outros, alguns de/cas/sí/la/bos a/té nos no/mes! "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", assim como todos mudamos. "A Carolina", minha primeira namorada, meu primeiro amor. "Língua Portuguesa", última flor do Lácio, um novo esplendor mas ao mesmo tempo minha sepultura, pois havia sido reprovado em gramática na série anterior, antes de conhecê-lo. "Ismália", e tantas outros versos, que nos faziam querer subir ao céu e descer ao mar durante suas aulas.

A leveza e a entrega, a intensidade e o questionamento com os quais nos ensinava, tocava a todos. Não havia quem não se apaixonasse ou desistisse de vez dos versos, das palavras, do diálogo provocativo. Fiquei do lado certo, não tenho dúvida! E hoje, dia 15 de Outubro, saúdo todos os mestres com quem tanto aprendi e aos futuros que ajudarei a formar!
Luiz Alexandre Simões de Castro, 44, biólogo e professor, Indaiatuba (SP)

Meus professores marcantes são meus pais, que são professores aposentados. Me mostraram a importância de fazer a diferença na vida de alguém. Quando decidi ser professora, me disseram faça sempre o seu melhor. Estou tentando....
Luciane Brito , 47, professora, São Jose dos Campos (SP)

O professor é o cara que vai abrir a cabeça de uma criança para o mundo. Desde os primeiros passos até a formação profissional, seja ela qual for, terá um impacto tremendo na vida de cada brasileiro. Me dói acompanhar o desenho da educação no Brasil, sobretudo, o ensino público que só se deteriora com o passar dos anos. Uma sociedade é o reflexo da valorização de seus professores. Estudei na Escola Municipal Professor Raul Pila, no bairro do Limoeiro em São Miguel Paulista [zona leste de São Paulo], até a 8ª série ginasial e concluí a faculdade anos depois. Até hoje temos um grupo de ex-alunos e professores da escola Raul Pila, no bairro onde nasci, onde promovemos encontros anuais para celebrar e agradecer nossos eternos mestres que nos encaminharam para a vida.
Lucídio Alves Soares, 60, artista plástico, São Paulo (SP)

Quando adolescente, queria ser músico. No fim do ensino médio, engenheiro. Mas as condições não foram favoráveis. Como meu pai era professor, resolvi fazer letras. Assim, poderia trabalhar durante a semana e tocar, eventualmente, aos fins de semana. Na faculdade, conheci a professora Joelma. Ela me fez enxergar possibilidades que não imaginava antes. Por incentivo dela, vim para São Paulo fazer o mestrado em Linguística Aplicada (e foi durante o mestrado que conheci minha esposa!). Comecei a dar aulas de inglês em uma escola particular e nunca mais parei. Fui fazer o doutorado na Holanda e há um ano trabalho em uma escola internacional aqui em São Paulo. Tudo isso graças a um pequeno incentivo dado por uma professora que acreditou em mim! Obrigado, Joelma!
Fernando Rezende da Cunha Junior , 36, professor, São Paulo (SP)

A importância deles foi por terem ensinado as lições mais importantes da vida: não sobre conjugação de verbos ou soma dos catetos, mas sobre o quão doido o mundo lá fora pode ser e a termos empatia e bondade para poder consertar o que está quebrado e ajudar o próximo. Só de saber que eles estarão lá quando você mais precisar, já enche meu coração de felicidade.
Paulinho Henrique , 23, operador de telemarketing, São Paulo (SP)

Muitos foram os professores marcantes, desde a tenra idade até o nível superior. Destaco, porém, o professor Alberto Vilhena Junior, de língua portuguesa e literatura, pela sua inteligência e competência, em cuja pessoa me inspirei para seguir em tão nobre profissão, que orgulhosamente exerci ao longo de 35 anos de magistério na rede estadual de ensino.
Geraldo Tadeu Santos Almeida, 69, professor aposentado, São Paulo (SP)

Foram tantas professoras marcantes, sim tantas, pois todas mulheres, exceto no ensino médio, estágio de carreira onde se ganha um pouco mais. Mas todo o fundamental foi marcado por mulheres guerreiras, inclusive minha mãe e que também foi minha professora na terceira série (segundo ano, atualmente).

Esse ano, inclusive, foi inesquecível, mas lembro com certo trauma desse período. Todos devem imaginar que ter uma mãe como professora deva ser muito prazeroso e com notas garantidas, venho esclarecer que NÃO! Eu tinha apenas 9 anos e tive que aprender que a vida seria bem dura se eu quisesse me destacar. Eu era uma aluna nota 10, até esse famigerado ano escolar, que, por mais que eu estudasse, nunca consegui alcançar o tão saboroso 10! Com certeza me esforcei mais que o normal e não obtive o reconhecimento desejado, nem mesmo um beijo da professora tão amada e admirada.

Como era difícil dividir a atenção da minha querida e amada mãe, minha mãe, com mais 38 crianças. Foram tantas crises de choro em seu colo à noite, e por mais que ela tentasse me explicar suas razões, sempre tão ética e correta, a dor continuava. Lembro-me de muitas coisas, principalmente os castigos que levei neste ano - os únicos da minha vida escolar. E o olhar doce, que somente eu entendia - inesquecível! Foi dolorido.Porém, aprendi mais neste ano com certeza, pois estudei muito pra me superar, mas aprendi muito mais como ser justa e ética.

Talvez a professora daquele ano soubesse o que estava ensinando pra mim, ou não, mas posso dizer que deu certo. Hoje, como professora, tento ser o mais justa possível, mas sempre acrescento o máximo de doçura e confiança que posso, seja num olhar ou sorriso, mas também com palavras, sem deixar de ser dura quando preciso.
Gabriela Massuia Mott, 42, professora, Jales (SP)

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