Sob Alckmin, ensino médio de SP cai em português e matemática

Já no ensino fundamental, rede paulista melhora em avaliação federal

Paulo Saldaña Estêvão Gamba
São Paulo

O desempenho do ensino médio da rede estadual de São Paulo piorou pelo segundo ano consecutivo na principal avaliação federal da educação básica. Em 2017, as notas dessa etapa caíram em português e em matemática, disciplina em que o estado mais rico do país é superado por outras nove redes.

Os dados são do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), divulgados pelo MEC (Ministério da Educação) nesta quinta-feira (30). As provas foram realizadas no ano passado em todo país.

Sala de aula vazia
Escola estadual Jardim Maria Dirce III, em Guarulhos (SP); rede paulista piorou notas no ensino médio, mas melhorou no fundamental - Patricia Stavis/Folhapress

A média de matemática de São Paulo passou de 265 em 2015 para 263 em 2017. O considerado adequado é 350. Em português, a média da rede foi de 268 para 266 —o ideal é um índice igual ou superior a 300.

Como esses níveis, os estudantes da rede paulista teriam dificuldade com cálculos de probabilidades em problemas simples e identificar informação implícita em texto de divulgação científica.

São Paulo faz parte do grupo de 12 redes estaduais que tiveram queda no desempenho nas duas disciplinas no ensino médio. No ensino fundamental, os dados da rede paulista foram mais positivos.

O estado mais rico do país é governado pelo PSDB desde 1995. O ex-governador Geraldo Alckmin, que deixou o cargo neste ano, é candidato do partido à Presidência da República. Alckmin governou São Paulo de 2001 a 2006 e depois de 2011 a abril de 2018, quando se afastou para disputar a corrida ao Planalto.

Ao considerar os resultados de todas as redes estaduais do país, o ensino médio de São Paulo perde posições no ranking. Tinha a 7ª melhor nota de matemática em 2015, agora em 2017 passou para 10ª colocação. Em português, pulou de 6ª para 5ª.

No REF-F (Ranking de Eficiência dos Estados - Folha​​), o estado aparece como o melhor colocado no índice de educação.  

“É inadmissível que o estado de São Paulo tenha resultados pífios, mesmo com uma riqueza de renda, de instituições de ensino superior, com uma logística fabulosa. Como se justifica estar na 10ª posição em proficiência [de matemática]”, questiona Mozart Neves Ramos, diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna.

Esses resultados compõem, combinados com as taxas de aprovação das escolas e redes, o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Tanto a avaliação quanto o índice são produzidos a cada dois anos. Os últimos dados disponíveis eram os de 2015.

Neste ano, o governo Michel Temer (MDB) decidiu fatiar a divulgação dos resultados, o que foi criticado por especialistas. Dessa forma, o Ideb —principal indicador de qualidade da educação básica do país— será conhecido somente na segunda-feira (3). Não foram disponibilizados até agora dados das redes municipais, que concentram a matrículas do ensino fundamental, nem as informações por escola.

No ensino fundamental, os resultados das duas disciplinas melhoraram nos dois ciclos. O melhor desempenho foi registrado nos anos iniciais (5º ano). Em português, passou de 219 para 226. E foi de 237 para 239 em matemática. A melhora nos anos iniciais acompanha tendência nacional.

São Paulo é superado nessa etapa pela rede estadual de Goiás. Nisso ocorre nas duas disciplinas.

 

Já nos anos finais (9º ano), as médias de português foram de 249 para 257 e, em matemática, de 252 para 254. A média das escolas paulistas é superada por oito estados nessa matéria.

A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, agora sob o governo Márcio França (PSB), informou, por nota, que a rede estadual “está no caminho certo” no ensino fundamental. “Com desempenho crescente e entre as melhores redes do país”, diz a nota.

Sobre o ensino médio, o governo ressaltou que os resultados mantêm São Paulo acima da média do Brasil. “Porém o desafio é nacional”. A secretaria informou que aguarda a finalização da Base Nacional Comum Curricular do ensino médio para abrir diálogo com estudantes antes de implementar mudanças. “Em paralelo, há o projeto de modernizar as salas de aulas com equipamentos interativos, lousas digitais e internet banda larga wi-fi.”

O governador Márcio França afirma, em nota, que os resultados "mostram que precisamos melhorar". "Por isso, vamos avançar na valorização de professores e investir na formação de nossos alunos com equipamentos interativos, como a lousa digital, tornando a sala de aula mais atrativa e moderna. Nosso objetivo é que os jovens, cursando 2º e 3º anos, tenham acesso imediato à rede de escolas técnicas do Centro Paula Souza e, em seguida, ao Ensino Superior à distância pela Univesp”. ​

Márcio França foi eleito como vice de Alckmin e assumiu o cargo após a saída do ex-governador. É candidato à reeleição pelo PSB.

Rede municipal

A rede municipal de São Paulo também teve melhora nos anos iniciais, de acordo com dados divulgados na tarde de quinta. Em língua portuguesa, a rede passou de 210 para 215. Em matemática, foi de 219 para 224. 

"O avanço das proficiências dos estudantes nos anos iniciais pode ser atribuído, entre outros fatores, ao investimento nas políticas de alfabetização, que já ocorre ao longo dos anos na cidade", informou a secretaria municipal de SP em nota. "Essa política, atrelada ao acompanhamento das aprendizagens e formação docente, nos permitiu esse avanço e, além disso, garantiu o direito de todos os estudantes a educação de qualidade."

Apesar do avanço nas notas, os índices de 2017 continuam abaixo do considerado adequado. A pasta municipal defendeu o trabalho envolvendo o currículo da cidade de São Paulo, além de ações de avaliação e formação de professores, como formas de busca da melhoria. "Temos trabalhado com todas as Diretorias de Ensino (13) o acompanhamento do fluxo (reprovação e abandono escolar), com o intuito de diminuir tais taxas e garantir o acesso e permanência de todos nas escolas".

Nos anos finais, o resultado é de piora na comparação com os resultados de 2015, mas há uma ponderação nos dados. Os estudantes que fizeram a prova no 9º em 2017 fazem parte de uma turma considerada atípica, porque, segundo a secretaria municipal de educação, ser a primeira a fazer parte do novo formato de adaptação do ensino fundamental de nove anos.

Essa mesma turma, quando estava no 5º ano, havia feito a avaliação federal em 2013. A gestão municipal à época (no governo Fernando Haddad) solicitou ao MEC que os dados não fossem divulgados, o que foi atendido. 

Essa turma contava com cerca de 13 mil estudantes, o que é um número pequeno quando comparado ao atual (cerca de 43 mil no 9º ano de 2018).

Em matemática, a nota passou de 249 para 237. A variação em português foi de 247 para 236.

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